Agência
Brasil
O
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux, relator das ações que
tratam da legalidade da Lei da Ficha Limpa, pode mudar seu voto sobre a questão
da renúncia de políticos para escapar de processo de cassação. Ele disse ontem
(10) que vai reanalisar a matéria, já que o julgamento ainda não acabou. Caso
entenda que sua proposta abre brechas para impunidade, pretende modificar o
voto.
Fux
defendeu ontem (9), em seu voto, que a Lei da Ficha Limpa deveria ser alterada
para que a renúncia só pudesse tornar o parlamentar inelegível se já houvesse
processo de cassação aberto contra ele. Atualmente, a Lei da Ficha Limpa diz
que o político já fica inelegível se renunciar quando houver uma representação
para abertura do processo que pode levar a cassação.
“Vamos
refletir e recolocar, porque o julgamento não acabou”, ressaltou Fux, ao sair
hoje do STF. “E se nós entendermos que de alguma maneira essa proposição abre
alguma brecha que tira a higidez desse item da Lei da Ficha Limpa, vamos fazer
uma retificação.”
O
ministro disse ainda que seu voto tinha o objetivo de manter todas as
restrições da Lei da Ficha Limpa. Para ele, não lhe parecia razoável que a
renúncia a partir de uma simples petição pudesse tornar alguém inelegível.
“Posso mudar. Você sempre reflete sobre a repercussão da decisão. Então, até o
termino do julgamento, a lei permite que o próprio relator possa pedir vista e
mudar o seu voto. É uma reflexão jurídica e fática.”
O
voto de Fux provocou reações de entidades que entenderam que se criou uma
brecha para impunidade. De acordo com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o
voto de Fux contém uma "excrecência". "A se manter esse ponto do
voto do ministro Fux, ficarão elegíveis todos os políticos que já renunciaram
antes da abertura do processo pelo Conselho de Ética para escapar de
cassações" assinalou o presidente da entidade, Ophir Cavalcante.
Os
primeiros dois casos analisados no STF sobre a Lei da Ficha Limpa – os
registros de Joaquim Roriz e de Jader Barbalho – dizem respeito ao item que
trata da renúncia. Jader entregou o mandato de senador, em 2001, em meio a
denúncias de desvio de verbas no Banpará. Joaquim Roriz fez o mesmo em 2007,
depois de ser acusado de negociar a partilha de R$ 2,2 milhões com o
ex-presidente do Banco de Brasília (BRB) Tarcísio Franklin de Moura. Roriz e
Jader renunciaram antes da abertura do processo, o que poderia levar à cassação
do mandato parlamentar.
Mais
cedo, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse que a proposta de
Fux certamente seria analisada pelos demais ministros e que a discussão sobre o
momento em que passa a valer a inelegibilidade por renúncia sempre foi objeto
de contestação. “Mas, no geral, o voto foi animador, porque proclama a
constitucionalidade da lei”.
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