O
antropólogo Roberto DaMatta avalia que o Estado brasileiro deve se tornar mais
transparente e permitir o controle social. “O problema é entre a transparência e
a opacidade. A transparência entre aquilo que o governo faz e o que a sociedade
sabe. O governo tem que prestar contas. O governo não pode ter razões que a
sociedade desconheça”.
Agência
Brasil
DaMatta
coordenou a elaboração do
Diagnóstico sobre Valores, Conhecimento e Cultura de Acesso à Informação
Pública no Poder Executivo Federal Brasileiro, feito a pedido da Controladoria-Geral
da União (CGU).
Em
entrevista à imprensa antes de apresentar a publicação no evento da CGU para o
Dia Internacional contra a Corrupção, na última sexta-feira (9), DaMatta
relacionou a série de demissões de ministros ocorridas desde junho à “confusão
entre público e privado”. Segundo ele, também há ligação com aspectos culturais
e históricos, que ainda fazem o país ter traços personalistas e autoritários.
“O sistema político brasileiro é muito mais resistente em suas formas
tradicionais”, disse.
“Somos
um país de cultura católica: a gente confessa [para ter perdão]. Somos um país
muito personalizado, existem muitos santos no Brasil, e temos um sistema
político extremamente autoritário até hoje. Não podemos esquecer que tivemos um
sistema escravocrata”, acrescentou.
Para
o antropólogo, é preciso pensar em termos históricos. “Era uma sociedade de
barões, príncipes e imperadores. A matriz republicana brasileira repousa em
cima de uma administração imperial e aristocrática”, lembrou antes de comentar
que “todo político brasileiro se aristocratiza (...). Ele toma posse do cargo,
mas ele não é possuído pelo cargo”, diferenciou ao salientar que o cargo no
Estado pertence à sociedade, a quem o político deve prestar serviço.
DaMatta
avalia que o Brasil passa tardiamente por mudanças institucionais que já
ocorreram em outros países. “Isso é o que nós estamos estranhando no século 21.
Não é no século 19. Alguns países fizeram isso no século 18”, comparou.
Para
ele, apesar das diferenças, o grande desafio para o Brasil e outros países é
ser mais igualitário. “Nosso grande desafio continua sendo, como em todos os
países, liquidar as diferenças sociais entre os muito ricos e os muito pobres e
miseráveis.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário