O
Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci) foi o principal
programa do Ministério da Justiça durante o governo do então presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Porém, no governo Dilma, o programa perdeu o protagonismo
e deixou de ser o principal projeto da pasta. Para o ex-secretário Nacional de
Segurança Pública, Ricardo Balestreri, é necessário que se retome o Pronasci
como prioridade.
Agência
Brasil
“Eu
não sei detalhes de como está a execução do programa, mas sei que o caminho
para se ter uma segurança pública de qualidade está no Pronasci. Nós demoramos
15 anos para chegar a esse programa que foi reconhecido até nas instâncias
internacionais. Até a ONU [Organização das Nações Unidas] reconheceu a
qualidade do que conseguimos construir no Brasil”, disse.
Balestreri
foi titular da Secretaria Nacional do Segurança Pública (Senasp) durante a
gestão do então ministro da Justiça, Tarso Genro, e, há duas semanas, recebeu o
prêmio Direitos Humanos, na categoria segurança pública, das mãos da presidenta
Dilma Rousseff.
No
governo Dilma, o Pronasci deixou de ocupar no Ministério da Justiça uma
secretaria executiva e foi incorporado pela Senasp. A própria secretária Nacional
de Segurança Pública, Regina Miki disse, em entrevista à Agência Brasil, em
junho do ano passado, que o programa já enfrentava problemas na execução.
Em
2010, dos R$ 2,1 bilhões destinados pelo Orçamento Geral da União (OGU), R$ 700
milhões se transformaram em restos a pagar.
“Tivemos
um corte financeiro muito grande. Aqueles projetos que não entraram em restos a
pagar foram cortados, os que entraram nós estamos pagando. Mesmo com o corte,
priorizamos executar aquilo que tivermos condições. Nessa linha, não adianta
conveniar novos [projetos], por isso estamos priorizando agora os restos a
pagar, para depois [priorizarmos] os convênios”, disse a secretária.
“Toda
política tem um momento de elaboração e não foi diferente com o Pronasci. A
vinda do Pronasci para dentro da secretaria nacional significa que foi uma
política aprovada no seu conceito”, disse ainda a secretária que defendeu uma
“remodelagem” na execução de programa.
Para
Balestreri, o principal avanço do Pronasci foi superar a ideia de que cabe somente
aos estados a tarefa de fazer segurança pública. “Não há como fazer segurança
pública sem o comprometimento dos três níveis da administração Pública. O que o
Pronasci fez foi marcar a atuação conjunta da União, dos estados e municípios
na área de segurança. Ele quebrou esse antigo paradigma. Essa ideia de que é
atribuição dos estados ficou no passado”, avaliou.
A
secretária reconheceu o avanço mas ressalvou que a gestão envolvendo três
níveis da administração é mais complexa. “Se você tem uma gestão em três níveis
diferenciados, para, além disso, tem uma gestão transversal em várias áreas, é
óbvio que é uma complexidade. Faltava esse ingrediente de gestão e isso estamos
fazendo agora. Ninguém disse que o Pronasci era fácil, mas mudar o paradigma foi
papel do Pronasci”, ressaltou.
O
sociólogo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul José Vicente
Tavares dos Santos acredita que o Pronasci continua, porém foi atualizado após
a constatação de que o crime organizado detém um poder territorial nos bairros.
“Existia há dois anos, era uma tarefa emergencial para desarticular o poder
territorial. Essa questão das UPPs [unidades de Polícia Pacificadora]
afunilaram o protagonismo [do Pronasci]”.
Em
2010, o Tribunal de Contas da União (TCU) fez uma série de auditorias a fim de
fiscalizar o programa. Segundo o relatório do tribunal, foram encontradas
algumas fragilidades na execução do Pronasci, como a falta de informações sobre
as ações no Sistema de Informações Gerenciais e de Planejamento do Governo
Federal (Sigplan), além da ausência de relatórios avaliativos com indicadores
que possibilitem a avaliação de resultados.
De
acordo com o TCU, apenas cinco estados concentraram 54% dos recursos do
Pronasci repassados às unidades da Federação entre 2008 e março 2010. O Rio de
Janeiro recebeu R$ 140,2 milhões, o que corresponde a 14% de mais de R$ 1
bilhão transferidos a estados e municípios. Em seguida vem o Rio Grande do Sul
(R$ 128,9 milhões - 13%), São Paulo (R$ 114,2 milhões - 11%), Goiás (R$ 79 milhões
- 8%) e Bahia (R$ 76,5 milhões – 8%).
Nenhum comentário:
Postar um comentário