Da
mudez à matraquice. Poderia, num grande esforço de síntese, definir assim a
premiação do Globo de Ouro 2012, ocorrida na última segunda-feira. O francês
"O artista" (The artist), vencedor do prêmio de melhor filme de comédia
ou musical e maior sensação do festival, principalmente pelo inusitado de ser
um filme mudo, e Meia-noite em Paris (Midnight in Paris), melhor roteiro
original, sob a assinatura de Woody Allen, demonstram isso; que não há fórmula
de bolo para se realizar um grande filme.
O
primeiro retrata o cinema dos anos 20, realizando bela homenagem aquela fase da
Sétima Arte e, para tanto, apropria-se da linguagem cinematográfica da época, o
que lhe conferiu particular originalidade. O segundo vai a outro extremo. Não há,
entre os grandes diretores da história do cinema, ninguém tão verborrágico
quanto Woody Allen. Os seus excelentes roteiros, não raramente geniais,
exploram personagens, na sua maioria, tagarelas, principalmente os que
representam seu alter-ego. É o que ocorre na grande viagem em que consiste o
"Meia-noite em Paris". Por ele, passeiam personagens como Hemingway,
Picasso, F. Scott Fitzgerald e sua mulher Zelda, Salvador Dalí, entre outros
personagens da chamada geração perdida que conviveu na Cidade Luz nos anos 20,
como também Paul Gauguin e Toulouse Lautrec, da Belle Époque, todos dialogando
com a atualidade, representada pelo personagem Gil (Owen Wilson).
Vejam,
caros leitor e leitora, que há filmes de qualidade para todos os gostos. No gênero
drama, o premiado foi o elogiadíssimo "Os descendentes" (The
descendants) estrelado por George Cloney que mereceu o prêmio de melhor ator no
gênero. O filme trata da relação de um pai antes ausente com suas filhas, após
a mãe se encontrar em estado de coma. Por sinal, Cloney, que pavimenta uma
carreira diversificada e brilhante, concorreu ao prêmio de melhor diretor por
"Tudo pelo poder" (The ides of March), um excelente triller político.
Mais
uma vez a figura de Meryl Streep sobressai-se. Conquistou o prêmio de melhor
atriz (gênero drama) por sua interpretação de Margareth Tatcher, em "A
dama de ferro" (The iron lady) e desponta como uma das barbadas para
vencer o Oscar. Um filme que vem rendendo polêmicas por, na visão de alguns,
expor nas telas um retrato cruel da estadista britânica. Ano após ano, Streep,
com suas atuações marcantes, mostra porque é considerada uma das maiores
atrizes da história do cinema.
A
categoria melhor filme em língua estrangeira reconhece mais uma vez o ótimo
cinema iraniano, premiando "A separação" ("Jodaeiye Nader as
Simin), que desbancou, entre outros, o "Pele que habito" de Almodóvar.
Os filmes produzidos no Irã utilizam-se de belas histórias, normalmente
edificantes, e analogias que inspiram o espectador a refletir sobre a situação
política vivida naquele País. Uma forma também de superar os obstáculos
impostos pela censura de um regime ditatorial, do mesmo modo que se procedia
nos tempos de arbítrio no Brasil para burlar os censores tupiniquins.
Caros
leitor e leitora, as nossas salas de cinema nos têm impingido verdadeira
ditadura. Assistir a produções diferentes constitui, hoje em dia, missão impossível.
Quebrar essas amarras é essencial para que possamos usufruir de toda essa
diversidade cinematográfica. Partindo do exemplo do cinema iraniano que
suplantou, no Globo de Ouro deste ano, filmes de centros bem mais
desenvolvidos, sugiro assistir ao comovente "Filhos do paraíso"
(Bacheha Ye-aseman, 1997). Conta a história de dois irmãos que dividem um par
de sapatos. O irmão mais velho tem a oportunidade de ganhar um outro par em uma
corrida. Através da busca por um par de sapatos, "Filhos do paraíso"
nos faz sonhar por um mundo mais humano. São histórias universais contadas de
diversas formas. Isto é cinema!
*Carlos Emerenciano - Apreciador de um bom
filme, dividirá com os leitores suas impressões sobre cinema todas as
sextas-feiras.
Twitter: @cemerenciano
e-mail: aemerenciano@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário