Carlos
Linneu Torres Fernandes da Costa, auditor fiscal
Retorno
a Gramsci e não há como evitar esse grande nome da filosofia política se o tema
é a política pensada como práxis ou como movimento social planejado, com
objetivos de longo prazo. Estranhamente, por que relaciona-lo com os empresários
do Rio Grande do Norte? Pouco a haver ou muito a haver, dependendo do
entendimento desses personagens que não encontram o autor, como em Pirandello.
Ou não desvelam que poderiam ser o próprio autor. Vejamos um pouco de teoria
conspiratória e do marketing verdadeiramente político.
Os
melhores livros técnicos acerca do que se convencionou denominar Marketing Político
não são aqueles redigidos sob esse nome, mas os de marketing empresarial, de
autoria de Theodore Levitt, principalmente “Imaginação em Marketing” e um
livrinho extraordinário de Al Ries, intitulado “Posicionamento, a batalha pela
mente”.
E
se cabe ainda citar um case de campanha, para ilustrar os ensinamentos dos
livros citados, o aficionado busque a revista Marketing, edição de fevereiro de
1986. Nela, na edição inteirinha, estão expostos com grande riqueza de
detalhes, todo o planejamento e a criação adotados por Duda Mendonça para a
campanha de Mário Kértecz para prefeito de Salvador, em 1985. Uma aula de
marketing eleitoral, talvez a primeira campanha eleitoral brasileira em que,
conscientemente, foi aplicado o marketing eleitoral como prática rigorosa. Uma
relíquia, na qual não faltam pulos de gato.
Mas
há o marketing eleitoral e há o marketing político. Este último, em suas feições
modernas, foi criação do grande filósofo italiano Antonio Gramsci, mantido
preso durante 30 anos e preservado vivo pela polícia fascista que nele
enxergando um gênio italiano da estatura de Maquiavel, permitia que o
intelectual marxista produzisse seus “Cadernos do Cárcere”.
Em
Gramsci, reside a matriz mais distante dessa distinção. O grande filósofo
italiano dividiu as atividades revolucionárias do proletariado em dois tempos,
a guerra de posição e a guerra de movimento. A primeira transcorre nos momentos
de paz e projeta conquistar posições privilegiadas na sociedade civil, via
influenciação nas redações de jornais, magistério universitário, Igrejas,
sindicatos, associações comunitárias e representação política nos parlamentos “burgueses”.
A luta é pela consciência das pessoas e proporciona vantagens estratégicas para
a guerra de movimento, esta a guerra civil real, de tiros e balas. Marx, em
algum de seus escritos chamou a guerra de posição de evolução, e a de
movimento, a própria revolução proletária, desencadeada nas ruas.
Atualizando
os conceitos, o marketing político é a guerra de posição e o marketing
eleitoral é a guerra de movimento, processada nas campanhas. O “posicionamento”’
de que fala Al Ries tem relação próxima com a guerra de posição, até mesmo nos
nomes.
O
marketing eleitoral é acionado durante a campanha eleitoral e agrega todas as
ferramentas do composto mercadológico, enquanto o marketing político dispara as
mesmas armas do marketing, só que utilizadas na entressafra de duas eleições,
ou quase sempre buscando objetivos de longo prazo a ser atingidos anos a
frente.
Os
partidos comunistas do passado foram os grandes useiros do marketing político e
no Brasil, o Partido dos Trabalhadores soube fazer a distinção entre os dois
macroconceitos e por isso Dilma Roussef cresceu exponencialmente nas pesquisas
durante a campanha eleitoral. É que o PT já havia ganho a guerra de posição,
perdida por uma oposição que permaneceu abúlica durante os oito anos do governo
Lula. Lula, bem assessorado por marxistas, conscientes da guerra de posição,
repetia diariamente que o PT, vejam a ousadia, havia derrubado a inflação,
entre outras mentiras fabricadas, sem que o PSDB reagisse de forma
desconstrutivista do discurso governista. A guerra de posição é muito propícia
para a mentira planejada.
A
senha para as operações da guerra de posição declarada pelo PT foi a construção
e a disseminação pela imprensa, do conceito que Lula passou a martelar em todos
os auditórios, como a “herança maldita do governo FHC”. No início da campanha
de 2010, Dilma marcava 3% das intenções de votos, Serra 49%. Mas como o
candidato da oposição abestalhada já havia perdido a guerra de posição, só lhe
restava recuar nas pesquisas, e a oposição, hoje, continua perdendo a guerra de
posição, na medida em que continua nas sombras e sem discurso, enquanto o PT se
reproduz em Dilma Roussef, que está sabendo mudar e atualizar o discurso
petista, naquela versão de “mudar para que tudo permaneça o mesmo”.
Provavelmente estará em posição imbatível em 2014, prescindindo de Lula.
E
o Rio Grande do Norte? E os nossos empresários, esses atores que não atuam? No
Ceará, três coroneis do Exército se revezavam na política cearense até um dia
que os empresários locais, capitaneados pela FIECE montaram um projeto
gramsciano e modernizaram os costumes políticos do estado vizinho.
Retornemos
ao italiano. Gramsci criou o conceito de hegemonia, entendida como o movimento
articulado – o bloco histórico formado pela estrutura e a superestrutura – que
organiza e dinamiza na direção e planejamento das disputas políticas. Visava
estabelecer estratégias eficazes para o triunfo das classes trabalhadoras...
Substitua-se
a expressão classes trabalhadoras pela alternativa “classes empresariais”. No
Ceará, o plano de hegemonia das classes empresariais foi coroado de êxito. E no
Rio Grande do Norte? Primeiro um plano, as alianças indispensáveis e o start da
guerra de posição.
O
enredo está pronto. Ganharão todos, perderão os mandarins retrógrados, que
transformam a política em fim em si mesmo. Rumo a um projeto de desenvolvimento
econômico modernizante, não vegetativo. Assunto para outro artigo.
Enquanto
isso, leiam Gramsci e o livro de René Dreifuss, “1964, a Conquista do Estado”.
(@carloslinneu).
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