“COISAS
DA VIDA”
Por
Leide Franco* (@LeideFranco)
Sou
muito de observar. Observo o mundo, principalmente as pessoas. Acho que
enlouqueceria se tivesse o poder de ler pensamentos. Fico olhando as “gentes”
nas ruas, no ônibus, na fila do supermercado e na fila da farmácia. Foi nesta última
onde se passou a história que vou contar. É mais uma daquelas que acontece várias
vezes ao dia e em toda parte do mundo, mas quando podemos acompanhar de perto,
comove muito mais.
De
uns dias pra cá, o meu olhar jornalístico anda muito afiado e ainda mais
curioso. A farmácia era aquela localizada no Shopping Midway Mall, aquele lugar
no qual a maioria das pessoas tira de seus armários as suas melhores roupas,
sapatos e acessórios e saem prontas para chamar atenção e ostentar uns status.
Dentro daquela drogaria tinha uma mulher pobre de tudo isso. Vestia roupas
sujas, sandálias da moda de 90, cabelos mal arrumados e trazia uma criança em
seus braços de olhos verdes vivíssimos, com uma atadura no braço direito com
jeito de curativo feito há pouco tempo. Vestia uma camiseta rosa bebê recém-nascido
e uma fralda de pano cobrindo seu pequeno corpo.
A
mulher tinha 32 anos de idade, embora sua expressão cansada e os dentes mal
cuidados nos levasse a pensar que tivesse bem mais tempo de vida. A criança
menina, por mais que não aparentasse, já tinha três anos de idade, guardados não
sei onde. Elas tinham saído do Hospital Walfredo Gurgel, a criança estava
internada no hospital há 10 dias, com uma infecção no braço causada por uma
mordida de um porco, bicho que a família vizinha cria no quintal de casa, lá no
interior do interior de Santana do Matos, distante 191 Km de Natal.
Conta
a mãe que a menina estava brincando com outras crianças no quintal da vizinha
onde os porcos são criados soltos, e de repente a pequena resolveu alimentar um
deles que não soube onde findava a banana e acabou mordendo o braço da criança.
A princípio a mulher não ligou para o ferimento que parecia comum tanto quanto
outros. Lavou com água e sabão e pôs a menina para dormir, segundo ela, eram
mais ou menos 17h. A menina dormiu “assustadoramente” até o outro dia de manhã.
Quando acordou “com o braço mais grosso que o braço da mãe” de tão inchado,
causou espanto em todos: mãe, pai, seis outros filhos, avó e avô que moram em
uma casa minúscula.
Logo
foram ao posto médico mais próximo da casa deles e de ambulância transferiram
as duas para Natal. Passados os dias de internação, a criança recebeu alta médica
neste sábado (07). Com uma mochila pequena de um lado e a menina do outro, a
mulher carregava nas mãos uma receita médica que descrevia três medicações
diferentes, cada uma mais cara que a outra. O valor dos remédios somava R$
143,00, uma fortuna para quem não tinha dinheiro nem para pagar a passagem de
volta pra casa. O dinheiro que ela tinha no bolso eram duas cédulas de 5 reais
e uma de 2, doação feita pelas enfermeiras do hospital que recomendou a compra
urgente dos remédicos, pois caso contrário poderia acontecer coisa pior com o
braço da menina.
Metade
do mundo sentia pena daquela mulher naquele momento enquanto a fila crescia e
ela continuava lá sem ter o que fazer. O balconista da farmácia olhava com uma
vontade de doar todos aqueles medicamentos, mas certamente ele não poderia
fazer aquilo. Do outro lado, na fila, várias pessoas assim como eu, acompanhava
aquela história que mais parecia coisa de filme, dentro de um cenário bonito e
iluminado. Para a sorte daquela mulher, era um sábado, início de mês e véspera
de Páscoa, assim como todo o shopping, a farmácia estava lotada, dessa forma não
foi preciso ela abrir a boca pra pedir uma moeda sequer, bastou algumas lágrimas
silenciosas caírem dos seus olhos e consequentemente dos olhos verdíssimos da
menina para que R$ 150,00 surgissem em menos de quinze minutos. Naquele
momento, fez-se Páscoa naquela farmácia, como também no mundo.
Que
assim seja! Que possamos compreender a dor dos outros apenas com o olhar, e
assim fazer com que por alguns momentos, ela seja curada.
*Leide
Franco - Comunicadora com pretensões literárias;
Um
pouco de filosofia e reflexões cotidianas;
Um
muito de MPB
E
quase nada do que ainda quero ser.
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