Defensor ferrenho do software livre, o sociólogo
especialista em cultura digital, Sérgio Amadeu, associou a defesa dos programas
de computador de código aberto ao direito individual à preservação da memória
pessoal e coletiva. "Lutar ou defender o formato aberto é um movimento
vital para este mundo, já que vivemos uma revolução informacional que mal
começou", declarou Amadeu ao participar, com o especialista em tecnologias
da informação, Marcelo Branco, do debate A Revolução da Internet e as
Transformações Sociais, na 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, evento que
vai até o próximo dia 23, em Brasília.
Agência Brasil
Para explicar sua tese, o sociólogo citou a popularização
das ferramentas de armazenamento digital, como hard disks (HDs) de computador,
CDs-ROM e pen drives. Segundo ele, hoje, com apenas três HDs externos de
computador de 1 terabit cada, cada qual do tamanho de um celular, seria possível
a qualquer pessoa reunir, em sua própria casa, um conteúdo equivalente ao
atualmente espalhado por todas as bibliotecas existentes no Brasil.
"Há 30 anos, isso não existia. E, daqui a dez anos, a
maioria das nossas fotos, dos nossos dados, não estarão mais gravados em mídias
analógicas. Estará tudo digitalizado, guardado em formato digital. Vamos
conseguir acessar essas informações após dez anos delas terem sido
digitalizadas? Vai depender do formato [do arquivo eletrônico em que a
informação foi salva]", observa Amadeu.
O especialista entende esse processo como um eventual
conflito entre a preservação da memória digital e os interesses comerciais das
empresas que se opõem aos programas de código livre, que defendem os chamados
softwares restritivos, cuja programação é criptografada e protegida por leis de
direitos autorais, como, por exemplo, o sistema operacional Windows, da
Microsoft.
"Estamos construindo uma sociedade dependente de
formatos. E, no mundo digital, esses formatos delimitam, controlam, bloqueiam,
aprisionam e criam dependências. Se um software desses for descontinuado
[deixar de ser produzido], toda informação armazenada já era. Por isso, é vital
lutar para que os formatos em que guardamos nossos arquivos estejam acima dos
interesses comerciais de uma empresa que, detendo os softwares, em breve será
detentora de nossa memória digitalizada", concluiu o sociólogo.
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