Ana Amália Tavares Barbosa, de 46 anos, defendeu ontem
(9) sua tese de doutorado na Universidade de São Paulo (USP). Com paralisia em
quase todo o corpo, em razão de um acidente vascular cerebral (AVC) ocorrido no
dia em que deveria ter apresentado sua tese de mestrado - há dez anos, Amália
desenvolveu todo seu doutorado apenas com os poucos movimentos motores que lhe
sobraram: o piscar dos olhos e o abrir e fechar da boca.
Bruno Bocchini - Agência Brasil
O AVC sofrido por Amália é conhecido como tronco cerebral,
em que a pessoa perde quase todos os movimentos do corpo, a fala, a capacidade
de comer e beber. Mas permanece com a consciência ativa, a cognição e a memória
perfeitas. “As únicas coisas que sobraram ela está usando e bastante, que é a
cognição, a memória. E a audição, porque mesmo a visão ela tem dupla, difícil
de controlar”, conta a mãe Ana Mae Barbosa.
Durante a defesa de sua tese, feita no Museu de Arte
Contemporânea da Universidade de São Paulo, no Parque Ibirapuera, Amália
respondia aos questionamentos da banca avaliadora com movimentos da boca. Um
telão mostrava um alfabeto completo, que tinha suas letras destacadas a cada
segundo por um programa de computador. Para formar palavras, Amália tinha de
abrir a boca quando a letra que ela queria selecionar aparecia destacada.
A mãe conta que Amália teve receio em fazer o doutorado
por temer o tratamento que poderia receber na universidade. Um dia, no entanto,
ela encontrou uma estatística dizendo que só 1,2% das pessoas com deficiências
físicas no Brasil tinha mais de oito anos de escolaridade.
“Ela fez [o doutorado] por uma questão de princípio, para
mostrar que o deficiente pode. E é apenas uma questão de flexibilização das
instituições [para atender a pessoas com deficiências físicas]. Ela foi muito
respeitada na USP, e eu uso até como troféu uma nota C que ela teve, que mostra
que ela não foi maternalizada”, diz a mãe.
A tese defendida por Amália, na área de Educação e Arte,
analisou a percepção corporal de alunos com algum tipo de paralisia cerebral.
Os estudantes pesquisados fazem parte da Associação Nosso Sonho, onde Amália
leciona.
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