Por Leide Franco ( @LeideFranco)
Queria
falar de uma das maiores tragédias humanas, aquelas que cada um carrega
sozinho: o fim do relacionamento. Quantos personagens dos seus ex-relacionamentos
fazem parte do seu ciclo de amizades? Um, dois...? Nenhum?
Ninguém
é obrigado a manter laços amigáveis com aquele que seria coautor do “Até que a
morte nos separe...”, mas também ninguém disse que o fim deveria ser uma
tragédia do tipo onde o desejo menos carregado de ódio é o “Tomara que morra!”,
frase típica que sai da boca enquanto o coração, dilacerado, sangra sem tempo
de odiar.
Eu
queria escrever como se fosse uma súplica, um gesto pedinte. Eu queria escrever
a você que disfarça a dor que sente. Para você que não se permite chorar por
dentro e por fora. Ora, uma pessoa só pode curar totalmente a ferida do fim quando
deixar as lágrimas levarem embora toda a dor que sente.
Sofrer
é um naufrágio, onde você se afoga, engole a água salgada, emerge, afunda, toma
fôlego, afoga de novo e depois, cansado, sai nadando devagar, até chegar à
praia deserta que é você mesmo.
Até
que isso não é anormal para alguém que se doou em uma relação, na qual apostou
todas as fichas de um futuro bom ao lado do que seria, mais tarde, a pessoa
para uma vida a dois – o tal do casamento, filhos, gato, cachorro: família
feliz.
Quem
nunca odiou o outro, nem que seja por uns dias, que levante a mão! O problema
maior, talvez, esteja em quando o seu ódio transborda a sua própria dor e
automaticamente você se autotortura evitando sofrer. Confuso, não?! É mais ou
menos assim: você pisa no seu sofrimento até ele estrebuchar ao chão, aí depois
tenta estancar o sangue da chaga em carne viva com um tampão da pseudo-vã-felicidade.
Uma ilusão.
O
que tem de mal em padecer por algum tempo até que toda a amargura, rancor e
raiva sejam levados por uma onda que passa cicatrizando cortes na alma? Por que
querer mostrar ao mundo que você é mais forte que tudo, capaz de sacudir a
poeira e dar a volta por cima quando o que mais precisa e quer é lamentar o
tempo perdido (que é nunca de todo perdido)?
Vestir
a melhor roupa e gritar para o mundo que está saindo da sua zona de desconforto
rumo à balada da felicidade não deve ser o melhor curativo para coração partido,
como tampouco é querer mostrar para o causador das suas lástimas que você
superou e que, para isso, se repagina com roupas que você nunca usa a fim de
chamar atenção, como prova de “eu estou melhor que você, aposto! E quero que
você veja ou saiba o que perdeu”.
Será
mesmo a melhor forma de mostrar uma evolução sentimental e pessoal?
Na
realidade, ninguém precisa provar nada a ninguém, principalmente ao sujeito que
compartilhou bons momentos ao seu lado e que por um motivo ou outros, culpa de
um ou dos dois, a relação não deu certo - quer dizer, deu certo sim e foi
infinito enquanto durou. Ou não?!
Nenhuma
ferida profunda sara do dia para noite. É preciso fazer assepsia, por remédio,
fazer curativo diário e ter paciência: o repouso dos enfermos do coração. Para
fechar, cicatrizar a dor demora uns dias. Ah, e se foi preciso dar pontos, aí é
que o processo é ainda mais lento. Tudo depende da profundidade do golpe.
Por
que então não deixar que sua dor tenha tempo de se curar?
Aquela
história de que só um novo amor substitui outro amor é, em minha opinião, o
maior exemplo de autoengano. Nem em letra de música fica bem. Pior: você se
engana e engana ao outro, que quase sempre não tenha nada a ver com essa
tragédia romântica, o seu caos interno.
Muitas
pessoas estão constantemente querendo regenerar o coração quando nem ao menos
conseguiu se livrar das células mortas da pele. Todos nós precisamos de tempo
como aliado. Ele serve para arrancar os espinhos aos poucos. Uma doença mal
curada é doença iminentemente renovável – com agravantes. Deixe-se sarar.
Sofrer por amor até que é bom, é melhor que caminhar vazio.
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