No
amor há contratempos, há tempos contra. “A dor que dói e não se sente” de Camões
resvala e se iguala no conceito do amor lúdico belo, logo irreal. Pode ser
visto como o abismo que pode levar a um suicídio, ou como a ponte que leva ao céu.
Mas
por que mais uma vez o amor está intrinsecamente nessas entrelinhas escritas no
vácuo de uma noite?
Porque
todo corpo em movimento está cheio de perguntas sem respostas, está cheio de
inferno e céu... Sou fragmento desses extremos.
Gosto
de utopias e de filosofia, e hoje o caminho seguido foi por entre as páginas do
diálogo, duelo de “O Banquete” por Platão, o discípulo de Sócrates, que em 380
a.C tentou definir o amor, e tratou disso como uma espécie de junção entre duas
partes que se completam, constituindo um único ser com a sexualidade
indefinida, em um caminhar giratório que sai de um lugar, volta ao mesmo do início,
e nesse ciclo perpetua a existência humana.
E
todo esse amor, segundo Platão, é feito da falta, da necessidade e da nossa
particular incapacidade de sermos felizes sós e suficientes para nós mesmos.
Ele vem do desejo de possuirmos o que não temos. Sendo assim, o nosso amor próprio
não é o bastante para mim, nem para você.
“Do
ponto de vista do amor, ninguém é necessário”, Kant vem embaraçando ainda mais
essa inexatidão.
É
muita filosofia para explicar o que ninguém explica, eu sei! E isso não quer
dizer que eu não acredite nos filósofos, mas também não sei se acredito. O amor
é uma contradição interminável, talvez seja o meio termo de todas as coisas ou
a mediação de todas as outras.
Freud
se atreveu, mas deve ter se arrependido. É muito cálculo para uma ciência tão híbrida.
O amor foi objeto de estudo para suas psicanálises, isso prova a sua
complexidade. No fim, o único desejo comum é de sermos amados, e para muitos
enquanto isso não se concretiza, a vida não faz sentido.
O
amor que conhecemos hoje tem outra feição, mas as mesmas inquietudes. O amor do
mundo atual é um amor de investimento. Doa-se querendo receber de volta. Cômodo
e interesseiro. Espera um iminente retorno que suprima toda a falta que ele fez
ao ser entregue. Talvez não seja uma fonte renovável como pregam os poetas dos
amores românticos.
Mas
o amor lírico entre homem e mulher pode sobreviver sem uma relação de trocas,
onde o resultado é a satisfação conjunta? Quem disse que o amor poderia ser
amor se não fosse uma troca? “É somente pelo amor que o homem se realiza
plenamente”, foi o mesmo Platão quem disse.
Continuo
contradizendo-me, cheia de respostas sem perguntas...
E
que Nietzsche tente explicar:
“Em
última análise, amam-se os nossos desejos, e não o objeto desses desejos”.
O
amor da filosofia é a contradição.
*Leide Franco
- Comunicadora com pretensões literárias;
Um pouco de
filosofia e reflexões cotidianas;
Um muito de
MPB
E quase nada
do que ainda quero ser.
Escreve às
segundas-feiras.
Amei o texto! =)
ResponderExcluirSeu texto, Leide Franco querida, dá margem a quilômetros de ilações... O que é o amor, a despeito das definições filosóficas?... Uma projeção especular do que nos falta em outro? Algo narcísico? O reflexo de um estado de maioridade ainda não alcançado. Há muito que se aprender sobre amar a si e aos outros, de uma maneira dadivosa, solidária, plena e intrinsecamente desinteressada. Essas questões ,Leide, volta e meia estão imersas nas reflexões de Flávio Gikovate. Gosto dele. E considero seu post inquietante;)) Beijos!
ResponderExcluir