CALANGOTANGO não é um blog do mundo virtual. Não é uma opinião, uma personalidade ou uma pessoa. É a diversidade de idéias e mãos que se juntam para fazer cidadania com seriedade e alegria.

Sávio Ximenes Hackradt

21.12.10

De uma simples ação de governo em pequenas cidades e comunidades rurais do nosso interior, vem um exemplo a ser destacado, mais do que isso, a ser preservado: a transformação, a inclusão social através da música. A bela história, que resulta em garantia de cidadania e dignidade para centenas de jovens de origem muito pobre, é muito simples: com recursos externos, obtidos junto ao Banco Mundial, e, surpreendentemente, livre da politicagem que costuma macular e comprometer resultados positivos de programas voltados para o atendimento aos mais necessitados, o Programa de Desenvolvimento Solidário, mantido pelo governo do estado, vislumbrou na música, na ressuscitação das bandas filarmônicas, que em décadas passadas eram tão comuns e importantes em todo o interior do país, a chance de inserção dos jovens do meio rural. O projeto está funcionando desde 2005 – mas, infelizmente, pode acabar no próximo ano, já que terminam neste mês de dezembro os recursos garantidos pelo Banco Mundial para o seu financiamento – e tudo, claro passa a depender de novas negociações e novas injeções financeiras.

O projeto tem várias etapas distintas: os jovens interessados se submetem, inicialmente, a aulas, duas vezes por semana, de teoria musical e de aprendizado de flauta doce, passando a integrar, nesta primeira fase, bandinhas de flautas, que participam de pequenas apresentações públicas, para irem se acostumando a enfrentar o público; na segunda fase, eles passam a se familiarizar com os outros instrumentos e aí começam a descobrir suas afinidades e aperfeiçoar suas aptidões, passando a integrar as bandas. Estudam duas horas diárias e ensaiam outras tantas, ao menos três vezes por semana, em um trabalho de muita disciplina.

Paulatinamente, vão ganhando ares de músicos profissionais, e formam, alem das bandas municipais, outros tipos de grupos musicais, como trios, quartetos, quintetos, grupos de choro, de forró, de frevo, corais, enfim, vão descobrindo seu próprio caminho no mundo e, com a arte adquirida, tendo chances reais de um vida de trabalho digna e ao crescimento cultural. Pelas cidades, as bandas e os grupos que delas derivam levam música e cultura às populações. É, de fato, um trabalho digno de nota, de muitos elogios. Graças a esse trabalho, mais de 40 novas bandas surgiram no interior do Rio Grande do Norte e até já formamos músico absorvido pela prestigiadíssima Orquestra Sinfônica de São Paulo, uma das maiores e mais respeitadas do mundo. Com o reconhecimento, os jovens vêm crescer o respeito dos que lhes cercam, elevando sua auto-estima – e não são poucos os testemunhos de superação que se colhe por lá. Estudos feitos pelos técnicos que acompanham o trabalho mostram que até o desempenho escolar dos jovens integrados ao projeto melhorou sobremaneira e muitos oriundos dele ingressaram em cursos técnicos e superiores, coisa inimaginável para suas famílias antes da experiência.

Há bons exemplos, experiências baratas que podem abrir portas mais dignas para nossos jovens do meio rural. Para se ter idéia, neste projeto foram investidos, desde 2005, 2,66 milhões de reais, direcionados para 46 associações, que atenderam diretamente a sete mil e trezentos jovens. Foram gastos, em média, 532 mil por ano para um excelente resultado. Se fez muito, com muito pouco.

A nós, outros, resta esperar que o novo governo, de Rosalba Ciarlini, encontre fórmulas de manter vivo esse projeto e, com ele, as nossas filarmônicas e as chances reais de centenas de jovens do meio rural. Quero terminar citando a frase de um jovem integrante da banda filarmônica da cidade de Vera Cruz: “Isto é arte e arte enriquece a vida da gente”.

Por Dodora Guedes

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