26.12.10
Artigo - Cultura
Fábio Farias – www.revistacatorze.com.br
“Antes de começar o texto, queria agradecer a Sávio Hackradt pelo gentil convite para escrever neste blog. Obrigado Sávio!”
A diferença é de um abismo, daqueles bem grandes. Gestores públicos de Natal e artistas parecem viver em trincheiras distintas quando o assunto é política cultural. De um lado, há ainda uma visão arcaica do que é a cultura local. Do outro, um olhar contemporâneo do que é a arte e do potencial cultural da cidade.
No meio disso, existe a imprensa e seu eterno conceito de “artista da terra”. Algo tão impróprio, que o dramaturgo Henrique Fontes permitiu-se a seguinte conclusão: artista da terra é minhoca, cara pálida. Em termos, é bom começar: acho que todos hão de concordar que a arte dialoga com a sociedade na qual está inserida. Ela é uma espécie de espelho que reflete a nossa própria vida, as nossas relações sociais e os valores agregados a ela.
Natal cresceu. Não é mais uma cidadezinha de 20 mil habitantes – apesar de muitas vezes agir como tal – é uma metrópole com quase um milhão de pessoas, dos mais diversos gentílicos e dos mais diversos países. Não somos mais uma ilha de “comedores de camarão”. E, por conta disso, as nossas peças de teatro, as nossas apresentações de dança, os nossos livros e eventos culturais – que tem à frente agitadores culturais sensíveis – refletem essa mudança na cidade.
Temos uma produção artística pujante. É no teatro, na dança e na música que mais percebemos essas novas características. Nossa arte é instigante, experimental e talentosa, é repleta de criações que partem da realidade urbana e metropolitana que vivemos hoje, que mexe com sensações e preconceitos que temos e nos faz refletir.
Enquanto o pensamento artístico é contemporâneo, o pensamento dos gestores públicos – não falo aqui só do presidente da FJA ou da Funcarte, falo dos prefeitos, governadores e até alguns parlamentares – é arcaico, limitado, para não dizer completamente infantilizado quanto à importância de preservar e incentivar a cultura que é produzida hoje em Natal.
É possível até dividir os políticos daqui em dois grandes grupos: as dos completos ignorantes, que consomem e pensam a cultura dos colunistas sociais e das modinhas da high-society. Estes, é bom frisar, são os que têm os maiores déficits educacionais e estão em número significativo. E a dos memorialistas – muito em voga por também – pessoas cujo pensamento artístico-cultural está paralisado em algum lugar dos anos 50/60 e que ainda acham que a cultura natalense se resume a um bocado de nostalgias.
O resultado dessa diferença se reflete diretamente nas ações em cultura da cidade. Não há nenhuma ação pública – nem umazinha sequer – que consiga representar essa pujança artística natalense produzida pelos novos artistas locais. Os grandes eventos culturais, regados a dinheiro, no máximo retransmitem essa visão cultural arcaica dos próprios gestores e acabam por atrair os atores, apenas, por pagarem melhor. Entre as rodas de artistas, há muito que é dito: o Auto de Natal não passa de um mero 13º do artista potiguar.
O problema disso tudo fica na falta de políticas de manutenção dos grupos e da criação de novos produtos. A relação de trabalho entre os órgãos oficiais e os artistas também sai prejudicado. A situação se agrava quando o poder público começa a atrasar os pagamentos – como ocorre com certa freqüência na Funcarte e na Fundação José Augusto. E aí, nesse ponto, a divergência chega a virar, às vezes, atos como foi o protesto realizado nesta semana em frente à FJA.
Muito mais do que um problema apenas do setor público, a falta também de um empresariado mais sensível às causas culturais complica ainda mais a situação do artista local. As empresas privadas locais, pelo contrário, por visarem apenas ao lucro, tendem a financiar a arte meramente comercial, que nada tem a ver com a identidade de Natal.
Atualmente, apenas a Universidade Federal do Rio Grande do Norte e o Governo Federal e a sua política de editais e leis de incentivo feitas de oito anos para cá é consegue se tornar um porto seguro para quem quer viver de arte localmente. Uma pena. O poder público local deveria, por obrigação, incentivar e financiar a arte e os espaços artísticos. A cultura é um importante capital turístico e educacional para cidade, ela cria a identidade e tem grande potencial econômico e simbólico, se for bem cultivada.
Mas o problema nasce, sobretudo, da falta de uma educação formal entre os políticos e da ausência de um diálogo entre os dois lados. Isso torna a situação dramática e sem perspectivas de mudanças para o futuro. E os problemas, se não forem resolvidos à base do diálogo e da compreensão da arte produzida na cadeia local, tendem a piorar com o passar dos anos. É preciso sensibilidade artística em uma administração mais democrática, que ouça e detecte os anseios da classe para mudar esse quadro. Caso não aconteça, Natal estará condenada ao atraso cultural e à eterna insatisfação dos artistas.
Estação Música Total
Últimas do Twitter
Arquivo
-
▼
2010
(69)
-
▼
dezembro
(69)
- Dois poemas de Zila Mamede
- Dois poemas de Marize Castro
- Não faltou dinheiro para pagar empresas de consult...
- Modelo de campanha antianorexia morre aos 28 anos
- Colaboradores do Calangotango e você em 140 caract...
- Cada macaco em seu galho
- Médico relata o caos no Walfredo Gurgel pelo Twitter
- Estradas, Copa do Mundo e águas no Rio Grande do N...
- Petrobrás RN vai paralisar 24 horas no dia 31
- O Dínamo de Kiev preferiu morrer a entregar o resu...
- Primeira revista gay em árabe é lançada clandestin...
- Política cultural - o abismo entre gestores e arti...
- Gabriel Garcia Márquez: Estas sinistras festas de ...
- Intensivão do Tom Zé
- O romance ré bemol de Chopin
- Vice-presidente José Alencar permanece acordado na...
- Conheça os seus direitos como passageiro de Cias. ...
- Nova droga contra o vírus HIV
- Classes C e D vão às compras na internet
- Se John Lennon fosse vivo
- Assange ao Estadão: "Os valores americanos estão s...
- Bispo recusa comenda do senado em protesto contra ...
- Sindicatos dos aeroviários e aeronautas suspendem ...
- Anvisa suspende venda na internet do emagrecedor C...
- Dois poemas de Sanderson Negreiros
- Internet lidera crescimento do gasto com publicidade
- Mahatma Gandhi Talks- First Indian Talking Movie
- Dois poemas de Carlos Gurgel
- Inclusão social através da música
- Especialistas indicam as áreas de trabalho mais pr...
- Uma vergonha a iluminação na Via Costeira
- Um poema de Cecília Meireles
- Brasil obtém primeira vitória contra EUA na OMC
- "Verdade é negada ao público", diz Assange
- Celulares, MP3 e tablets causam impacto no planeta
- Provável cura da AIDS com uso de células-tronco
- Faca quente na manteiga
- O custo dos partidos na democracia brasileira
- Justiça federal manda soltar Nenê Constantino, pai...
- Nelson Rodrigues na dramaturgia nacional
- As maiores descobertas científicas da década e do ...
- Cientistas estudam tratamento de fobias com mulher...
- Emendas parlamentares desviadas para a corrupção
- Brasil é o emergente com mais carga fiscal
- STF fecha ano sem definir ficha limpa
- Congressistas brasileiros ganham mais do que ameri...
- Evo Morales lança Lula para secretário-geral da ONU
- Assembleias correm para aprovar reajuste salarial
- Um "trenzinho" da alegria no senado
- As borboletas se foram e os urubus chegaram
- Ter orgulho e não ter vergonha de ser político
- O descaso com a cultura no RN
- Despesa com deputado vai a 1,6 milhão ao ano
- Natal fede
- Deputados estaduais e vereadores terão reajuste de...
- Dieta da moda nas redes sociais é propaganda enganosa
- A aurora boreal
- Senado aprova aumento em menos de 5 minutos
- Robinson, Gesane, Fábio e Felipe
- Luiz Gonzaga e Gonzaguinha - "A Vida do Viajante"
- Urbanização atinge 80% da população brasileira
- Uma sopinha de 2.400 anos
- Os primeiros passos de Felipe Maia rumo à prefeitu...
- Crack invade cidades brasileiras
- Oi, nasci!
- O poeta Torquato Neto nas escolas. Cogito - Trabal...
- Corrida contra a corrupção reúne 2 mil pessoas em ...
- 1950, o ano que não acabou no RN
- Oi, estou nascendo!
-
▼
dezembro
(69)
0 comentários: