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Sávio Ximenes Hackradt

19.8.11


Fiscais do trabalho em São Paulo investigam, em sigilo, outras grandes redes varejistas e marcas conhecidas
Naiana Oscar, O Estádo de São Paulo
O flagrante de trabalho escravo num dos fornecedores da rede Zara no Brasil parece ser apenas a ponta do iceberg. Estão em andamento no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) outras 20 investigações contra grifes de roupas nacionais e internacionais. Como os processos correm em sigilo, os nomes dessas marcas não foram revelados. 
"Esse era um assunto invisível e tabu no mundo da moda", afirma Luis Alexandre de Faria, auditor fiscal da Superintendência Regional do Trabalho em São Paulo. "Como o caso Zara ganhou repercussão, haverá uma corrida de outras empresas por legalização."
Na oficina irregular de Americana (SP), onde foram encontradas peças com etiqueta da rede espanhola, os fiscais se depararam com roupas de outras cinco marcas conhecidas. As empresas estão sendo chamadas para prestar esclarecimentos, mas ainda não há provas concretas contra elas.
O lote de roupas encontrado nessa oficina levou os fiscais do trabalho a investigar os 50 fornecedores da Zara no Brasil. Um deles chamou a atenção. Com apenas 20 máquinas e 20 costureiras registradas, a empresa AHA produziu mais de 50 mil peças para a rede em três meses.
Os fiscais estiveram em duas das 30 oficinas de costura dessa empresa e encontraram lá 16 bolivianos e 5 crianças, trabalhando e vivendo num ambiente sujo, apertado e sem condições mínimas de segurança. O relatório e as fotos do local foram divulgados esta semana e rapidamente ganharam repercussão nas redes sociais.
Os trabalhadores eram obrigados a pedir autorização para sair, tinham dívidas com os donos das oficinas e recebiam apenas R$ 2 por peça produzida. A multinacional foi responsabilizada pelas irregularidades e terá de responder a 48 autos de infração. Ser for condenada, a multa é de R$ 1 milhão.
Os dois locais foram interditados e os costureiros bolivianos, legalizados. A AHA arcou com o pagamento de R$ 140 mil de encargos trabalhistas – uma exigência da própria Zara. A multinacional divulgou, em nota, que vai fiscalizar seus fornecedores no Brasil e descredenciar os irregulares. Na Assembleia Legislativa de São Paulo, o deputado Carlos Alberto Bezerra (PSDB) informou que pedirá a abertura de uma CPI para investigar o trabalho escravo no Estado.
Programa. Desde 1995, mais de 40 mil trabalhadores que eram mantidos em regime análogo à escravidão foram libertados no País – a maioria deles na zona rural. Desde que as investigações começaram a ser feitas na capital paulista, quatro grandes redes varejistas de roupa foram denunciadas: Marisa, Pernambucanas, Collins e, agora, a Zara.

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