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Sávio Ximenes Hackradt

25.7.11


Da Agência Lusa
O Brasil está obtendo vantagem do seu “grau de investimento”, com captações no mercado externo a taxas de juros até pouco impensáveis para uma economia emergente, enquanto os países europeus brigam com as agências de rating.
Segundo a professora da Fundação Getulio Vargas (FGV) Nora Zygielszype, especialista em mercados financeiros internacionais, o sucesso das captações feitas no primeiro semestre do ano – tanto pelo governo quanto pelas empresas privadas – deve-se à taxa de juro mais baixa na maior parte dos países ricos e à boa imagem que o Brasil conseguiu construir nos últimos anos.
“O dinheiro está muito barato lá fora e o Brasil fez o seu dever de casa durante o governo Fernando Henrique Cardoso e no primeiro governo Lula”, disse a especialista, para quem não há, ao menos por enquanto, motivo para acreditar que fantasmas passados possam voltar a assombrar a economia brasileira.
Na década de 1970, durante o governo militar de Ernesto Geisel, o país viveu o seu “milagre econômico” em função das captações externas, em um momento também de dificuldade para as nações mais ricas em plena crise petrolífera.
A boa fase, no entanto, foi sucedida pela crise da dívida externa que assolou todo o continente latino-americano na década seguinte. “Após a crise, os juros norte-americanos subiram enormemente e a dívida que o Brasil e outros países da América Latina haviam contraído estavam atrelada a ele”, lembra a especialista.
Desta vez, “o país está com reservas altas, não é mais dependente de petróleo e o montante captado ainda é pequeno e não preocupa”, esclareceu Nora Zygielszype.
No início deste mês, o governo captou 500 milhões de dólares nos mercados norte-americano e europeu com a venda de títulos da dívida pública negociados a um juro de 4,188% ao ano, em um prazo de uma década - o menor da história do país para captações internacionais.
O fato de os investidores aceitarem taxas menores significa que estão mais seguros de que o Brasil honrará sua dívida. A captação foi feita uma semana após a agência de classificação de risco Moody’s ter elevado a nota da dívida do Brasil no exterior. Papéis de dívida com prazo de vencimento para daqui a 30 anos, como os negociados em outubro do ano passado, também são uma novidade para o país.
Outro tipo de captação que mostra a melhora na credibilidade do país são operações em moeda própria, que o Brasil conseguiu concretizar com sucesso no final de 2010. “Isso é ótimo, porque cria uma dívida externa na nossa própria moeda, deixa o país mais tranquilo e mostra essa confiança no real”, destaca a especialista. Isso, assinalou, mostra uma tendência para o longo prazo, mas vai exigir controle da inflação.
Na segunda-feira passada, também o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) concluiu uma captação de 200 milhões de francos suíços (cerca de 170 milhões de euros) a um juro de 2,75% por ano e vencimento para 2016.
A expectativa é que boa receptividade aos títulos públicos abra ainda mais o mercado para emissões de empresas privadas que, somente no primeiro semestre do ano, já registaram aumento de 52% nas suas operações de captação no exterior, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

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