10.1.11
Fábio Amato da Folha.com
O ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, disse nesta segunda-feira que pretende desenvolver mecanismos para que o país mantenha diálogo permanente e mesmo repatrie cientistas brasileiros que atuam em instituições no exterior.
"Temos que criar uma rede dessa inteligência brasileira no exterior, uma rede em que eles [cientistas] se relacionem com o Brasil para participar de projetos no país e abrir uma porta para aqueles que quiserem voltar", disse o ministro durante visita ao Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em São José dos Campos (SP).
De acordo com Mercadante, apenas em universidades dos EUA atuam cerca de 3.000 professores brasileiros.
O ministro também afirmou que o governo pretende aproveitar a crise econômica que afeta alguns países desenvolvidos para atrair ao Brasil técnicos e cientistas que enxerguem aqui oportunidade de crescimento.
"Tem muitos países desenvolvidos em ciência e tecnologia que estão em crise econômica severa e há um grande interesse no Brasil hoje porque o país está se posicionando muito bem em termos de perspectiva de futuro."
Ele disse que será montado um comitê de busca desses profissionais e que serão estudadas políticas de incentivo para que venham atuar no Brasil. Segundo ele, a prioridade vai ser a repatriação de cientistas brasileiros.
Em 21 de dezembro, os Estados Unidos aprovaram uma série de regras que vão reger o tráfego de dados pela internet e que deram à Comissão Federal de Comunicação (FCC), a Anatel americana, a responsabilidade de garantir a neutralidade da rede.
Essa decisão foi o último ato de uma discussão que parece estar muito longe de acabar. Nos EUA, a neutralidade da internet é uma questão política – foi promessa de campanha do presidente Barack Obama –, e as novas regras enfrentam grande resistência entre aqueles que acreditam que o Estado não deve interferir na internet. Na Europa, o debate está em alta e nenhuma legislação parece estar por vir. O Chile foi o primeiro país a adotar uma lei que assegura a neutralidade como princípio da web, no início do ano passado.
A grande polêmica que essa discussão suscita está na definição do que é a tal neutralidade de rede. Em linhas gerais, é o princípio pelo qual todo tráfego de dados deve ser tratado da mesma forma, sem discriminação, priorização, bloqueio ou qualquer interferência. O fluxo de qualquer conteúdo deve ser livre.
Timothy Wu, da Escola de Direito da Universidade de Columbia, é um dos principais pensadores sobre o tema. Em sua definição, a neutralidade é um princípio do design de redes no qual a internet, entendida por ele como um bem social, baseou-se em sua construção.
O próprio Wu criou uma analogia para explicar o conceito: a rede elétrica é uma rede neutra. Não importa se o consumidor liga uma TV de plasma, uma vitrola ou uma torradeira na tomada, a energia sempre vai ser entregue. Isso permitiu que grandes inovações técnicas fossem feitas e que o consumidor sempre tivesse a liberdade de escolher o que usar e de que forma.
Rodrigo Savazoni, coordenador do site Cultura Digital, traz o exemplo de uma rede em que o princípio da neutralidade não é seguido. Imagine que uma empresa de transporte feche um acordo com a concessionária de uma rodovia para que seus ônibus circulem sozinhos em uma das faixas, onde nunca há trânsito ou pedágios. Cria-se um cenário em que a competição entre as empresas de ônibus fica desleal e os consumidores se veem obrigados a viajar com aquela empresa caso não queiram enfrentar congestionamento.
Com uma internet que obedece o princípio da neutralidade, disputas desequilibradas estão proibidas, além de outras mudanças práticas. A Amazon não poderia tirar os servidores do WikiLeaks do ar por sua própria vontade, motivada pelo conteúdo que o site publica, como em dezembro. A atitude vai diretamente de encontro à liberdade de publicação e de acesso dos usuários. Não são as empresas que controlam o tráfego que devem definir o que pode ou não circular, mas sim os usuários.
Marcel Leonardi, advogado da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, não acha que parcerias entre empresas sejam um problema, desde que não haja exclusividade. Por exemplo, uma empresa que oferece serviços que exigem um tráfego de dados pesado e contínuo, como vídeos sob demanda e jogos online, poderiam se associar a provedores de acesso que priorizariam seus dados.
Savazoni acredita que isso pode abrir um precedente perigoso. O medo é que grandes empresas comprem o direito de ter seus dados priorizados e criem serviços de desempenho muito superior, eliminando a possibilidade de concorrentes menores entrarem na disputa pelos usuários. E isso acaba com o próprio cerne da internet: a inovação.
No Brasil, o Comitê Gestor da Internet recomenda que a priorização de dados seja adotada apenas por motivos técnicos. Por exemplo, caso fique decidido que serviços de voz sobre IP precisem de preferência sobre pacotes de texto para funcionar de modo satisfatório. Do contrário, todos os serviços do tipo devem ser beneficiados igualmente.


Entrevista 10 x 140

Perfil de Marcelo Souza – Contabilista, 30 anos de Banco do Brasil, 12 anos pres. do Sindicato dos Bancários/RN, secretario geral da CUT/RN, www.marcelosouzarn.com.br
P- Como sindicalista qual sua visão sobre o futuro do Brasil?
Marcelo Souza - O futuro do país é promissor, temos espaço de crescimento da renda e do emprego
p - Como foi presidir o sindicato dos bancários?
Marcelo Souza – Presidir o sindicato dos bancários foi uma experiência bastante positiva e exitosa.
P- O sindicalismo brasileiro contribui como para o desenvolvimento do país?
Marcelo Souza – Sim, porque a medida que ocorre a pressão organizada pelo aumento real de salários e pela manutenção do emprego, cria-se um forte grupo consumidor.
P- Atualmente o que você faz no Banco do Brasil?
Marcelo Souza – Atualmente minha tarefa no BB está encerrada, depois de 30 anos, minha última participação no Banco foi como Gerente Executivo de relações de trabalho.
P- Você participou da criação do Banco Popular do Brasil – subsidiaria do BB/S.A -. O que é o Banco Popular e como funciona?
Marcelo Souza – A criação desse banco propiciou a inclusão bancária do segmento de menor renda, antes excluídos dos bancos, hoje está incorporado ao BB.
P- Você representa os empregados na Comissão Nacional de Negociação do BB. Como são as negociações entre empregados e a direção do BB?
Marcelo Souza – Conhecendo os dois lados desse processo tenho a convicção que a paciência, a persistência, e a transparência, são elementos indispensáveis a ambos os lados da mesa.
P- Como você enxerga o corporativismo sindical no Brasil?
Marcelo Souza O corporativismo tem duas faces, uma boa que defende os valores culturais das empresas e outra nefasta que é a visão exclusivista.
O que é o Twitter para você?
Marcelo Souza – É um espaço de encurtar distâncias.
P- Por que o blog www.marcelosouzarn.com.br?
Marcelo Souza – O blog é um início de um novo desafio, uma maneira de expressar aquilo que penso, estará a serviços das lutas gerais do país e do RN.
P- Quando não está trabalhando o que mais gosta de fazer?
Marcelo Souza - Uma boa conversa, praia, cinema e leitura, isso é tudo de bom.
* Se você quer conhecer um pouco mais o Marcelo converse com ele no Twitter @marcelosouzarn
A primeira semana do governo Rosalba mostra que - pelo menos nesse início - ela não terá problemas de natureza política para colocar a sua administração no rumo que quiser.
Com maioria folgada na Assembléia Legislativa e na bancada do Congresso Nacional (senadores e deputados federais) a governadora do RN não terá que remover grandes obstáculos políticos para pavimentar o caminho do seu governo.
A oposição ainda não disse nem ai... Calada, pequena e não é unida. Na bancada federal as deputadas federais Sandra Rosado (PSB) e Fátima Bezerra (PT) têm atuações independentes. Cada uma cuida de si e do seu partido. Na Assembléia Legislativa o deputado Fernando Mineiro (PT) cuida de si e do seu partido, os deputados (as) Tomba (PSB), Gustavo Carvalho (PSB), Márcia Maia (PSB) e Larissa Rossado (PSB), cada um cuida também do seu interesse. A novidade na oposição é o deputado Agnelo Alves (PDT) que até o momento só observa os movimentos políticos. O fato é, sem oposição, Rosalba vai nadar de braçada na política.
O problema é que a cada dia que passa a sociedade se torna mais exigente de seus governantes e quer resultados para os problemas que afligem a vida de cada um.
Rosalba não terá a desculpa de dizer que falta apoio político para governar. Terá que mostrar à sociedade que é uma boa gestora e veio para mudar as práticas e costumes políticos, promovendo um governo moderno com resultados eficientes.
Nas últimas três décadas - no entra e sai de governos - os problemas se repetiram e se agravaram no Rio Grande do Norte.
Resta à Rosalba coordenar a sua equipe de governo e fazer uma gestão capaz de tirar o Rio Grande do Norte do atoleiro que se encontra há pelo menos 30 anos.
Vale lembrar que Rosalba tem ao seu lado – como secretários e outros auxiliares - muita gente que esteve nos governos do Rio Grande do Norte nos últimos 30 anos. Será que o RN vai mudar mesmo pra melhor?
9.1.11
Entrevista 10 x 140
Foto Canindé Soares

Marígia Tertuliano – Nova Floresta/PB, casada, 2 filhos, economista, profª universitária, workaholic, gosta de ler, basquete, ciclismo pintura, política.
P- Na sua visão de economista como o RN pode se tornar um Estado desenvolvido no Nordeste?
Marígia Tertuliano – Quando os gestores municipais implantarem planejamento participativo, políticas públicas e souberem captar recursos.
P- Como profª universitária você acredita que nossas universidades estão bem preparadas para formar as futuras gerações?
Marígia Tertuliano – Sim. As universidades estão se adaptando ao novo momento. Os centros de pesquisas estão mais bem estruturados e os financiamentos ampliados.
P- O jovem quando entra na universidade chega bem preparado do ensino médio?
Marígia Tertuliano - Não. Ainda chegam testando a profissão, muitas vezes levados pela remuneração, ampliando a evasão e entrada tardia no mercado de trabalho.
P- Qual a disciplina que você ministra na universidade?
Marígia Tertuliano – Estou ligada à Escola de Gestão e ministro Fundamentos de Economia, Empreendedorismo, Gestão Estratégica e Administração Pública.
P- O que mais a estimula a ser profª universitária?
Marígia Tertuliano – A possibilidade de estar construindo e reconstruindo o conhecimento sempre. A sala de aula é um espaço riquíssimo para aprender a aprender.
P- Atualmente o que você mais estuda? Prepara alguma tese?
Marígia Tertuliano – Inicio doutorado na PUC/SP. Estudo a racionalidade da sociedade e das instituições seridoenses no controle social das PP de meio ambiente.
P- Que tipo de leitura você mais gosta?
Marígia Tertuliano – Ficção e cultura geral - aquela que me faz explorar um mundo diferente.
P- O que é o Twitter para você?
Marígia Tertuliano – O twitter é um espaço de debate e um excelente instrumento de controle e participação social.
P- Como workaholic quantas horas por dia você trabalha?
Marígia Tertuliano – Minha família e amigos já estavam reclamando. Por isso, estou administrando o tempo para reduzir as horas trabalhadas, mas atualmente, 14h.
P- Qual o tempo que você tem para sua família, para o esporte, para a pintura?
Marígia Tertuliano - À família todos os momentos que solidifique nossa união. Aprendi que qualidade é fundamental. Para o esporte e lazer, os finais de semana.
*Se você quer conhecer um pouco mais a Marígia converse com ela no Twitter @marigiamadje
Artigo
Fábio Farias - jornalista
Eu tinha seis anos de idade. Sem ter muita noção das coisas que me rodeavam, acordava todas as manhãs para ver um ídolo que conquistava corações e inspirava pessoas com as quais eu conviva: Ayrton Senna. Na manhã do dia primeiro de maio de 1994, como de habitual, eu estava de pé, bem cedo, aguardando para ver outra corrida dele. Uma corrida que não terminaria.
A morte de Ayrton Senna foi marcante ao ponto de todos que viveram aquele momento se lembrar do que faziam quando a tragédia aconteceu. O choro e a comoção, unânimes, depois do anúncio do fatídico acidente no GP de San Marino, em maio de 1994, foram suficientemente fortes que se fixaram na memória coletiva do país.
Eu mal sabia quem era o piloto. Não fazia a mínima idéia dos seus feitos, ou porque ele era um ídolo. Apenas me deixei contaminar pela comoção geral dos meus pais, amigos e tios. Sei que, depois daquele dia, assistir à Fórmula 1 não era mais a mesma coisa. Não via mais a mesma graça em acordar todas as manhãs de domingo para acompanhar as corridas transmitidas pela TV Globo. O Brasil tinha perdido um vencedor de forma irreversível. O tema da vitória iria demorar a ser executado novamente.
O documentário “Senna” dirigido pelo cineasta britânico Asif Kapadia conta porque o brasileiro foi considerado o melhor piloto de Fórmula 1 de todos os tempos - em eleição realizada pela revista inglesa Autosport em 2009. E traz de volta, também, os sentimentos de comoção e tristeza que envolveram a morte, ocorrida quando o piloto ainda tinha 34 anos. A película relembra os principais fatos da carreira de Ayrton e alterna depoimentos da família, amigos e jornalistas com imagens raras.
Um deles, logo no início do filme, mostra uma entrevista antiga do piloto, com imagens do cockpit em uma corrida na década de 80. No off, Senna relatava que naquele momento não sentia que estava correndo. Em um êxtase místico – dizia -, ele guiava sua McLaren pelas estreitas ruas do circuito de Mônaco em voltas perfeitas. O transe parou quando recebeu um pedido da equipe para diminuir o ritmo. Motivo: Senna estava humilhando o segundo colocado o francês Alain Prost. Minutos depois, o brasileiro bate o carro e sai da corrida.
Prost, o principal rival de Senna, viria a protagonizar outro episódio forte para a carreira de ambos. Era o GP do Japão, em 1989. Para ser campeão, o francês precisava que o rival brasileiro não vencesse a corrida. Em atuação quase perfeita, Ayrton estava a um passo de conseguir a liderança. No momento que ultrapassava o francês, Prost jogou o companheiro de equipe para fora da pista. Sem desistir, Senna voltou para a corrida, recuperou a liderança e venceu mais uma. Deveria ter se sagrado campeão. Mas, por motivos políticos, a FIA o desclassificou.
Esse episódio, histórico na carreira de Senna, teve uma vingança por parte do brasileiro. No GP do Japão, agora em 1990, era ele que precisava que o francês não vencesse a corrida para ser campeão. Depois de fazer a Pole Position e ser surpreendido com a troca de lado no Grid de largada– Ayrton largaria do lado oposto ao traçado da pista – que tecnicamente prejudicaria o piloto brasileiro e beneficiava Alain Prost que saía em segundo, Senna não teve dúvidas: chocou sua Mc Laren com a do companheiro de equipe. Foi campeão mundial daquele ano.
A rivalidade Senna x Prost, as corridas históricas do final da década de 80 e início da de 90, entre ambos contribuíram para a popularização da Fórmula 1 ao redor do mundo. Não tardou para que Senna fosse transformado em ídolo, não só brasileiro, como mundial. O documentário explora as principais virtudes do brasileiro: a ousadia e a humildade. Um dos depoimentos mais marcantes é a do neurocirurgião Sidney Watkins, amigo pessoal de Senna, e o primeiro a atender o brasileiro no local do acidente. “Ele deu um último suspiro. Eu senti sua alma partir nesse momento.”, relata.
8.1.11
Artigo
Como Sarah Palin roubou a cena da direita, confundiu a esquerda e, assim, vai ocupando vazios da vida americana.
Lucia Guimarães é colunista do Caderno 2, do Estado de São Paulo, da Rádio Eldorado e correspondente do GNT. Vive em Nova York desde 1985.
Todos os dias, na casa com vista para o Llgo de Wasilla, no Alasca, Sarah Palin recebe por e-mail um relatório preparado por seus assessores. É um briefing de notícias sobre a ex-governadora, atual estrela de um reality show e possível candidata a presidente. Se a própria Sarah entrasse no Google Notícias em inglês, encontraria no topo da busca o site “Tired of Sarah Palin?” (Cansado da Sarah Palin?).
O link para o site é http://www.sarahdoesntspeakforme.com/ (“sarahnaofalapormim.com”), que recolhe doações para neutralizar a formidável ascensão dessa mulher espantosamente despreparada para liderar a maior economia e maior potência militar do planeta.
É fácil entender por que as pesquisas revelam que a maioria dos americanos tem uma opinião negativa de Sarah Palin. Difícil é explicar por que, dois anos depois de derrotada nas urnas como vice de John McCain, Sarah Palin é a mais popular política republicana dos Estados Unidos. Estamos falando da mulher que tem 2,5 milhões de seguidores no Facebook, onde ela estreou em agosto de 2009 acusando Barack Obama de promover “comitês de morte” para doentes terminais na legislação do seguro-saúde. Apesar de se tratar de pura mentira, “comitês de morte” entrou para o jargão antirreforma do seguro-saúde e consumiu tempo e energia dos democratas, obrigados a dar satisfações a seus constituintes assustados.
É fácil também, a distância, ridicularizar o fascínio de milhões por essa mulher crassa, deslumbrada e gananciosa. Sentada num cinema quase vazio, entendi melhor o fenômeno Sarah Palin. Na tela, o excepcional documentário The Inside Job narrava o circo de horrores da elite financeira que levou ao crash de 2008, ao desemprego de 10 milhões e despejou 2,5 milhões de famílias de casas compradas com artifícios criminosos de financiamento. Eu disse criminosos? Os empréstimos subprime eram legais. O domínio crescente da indústria financeira na economia americana é um sintoma que ajuda a explicar Sarah Palin. O populista é tradicionalmente o político que se aproveita de vácuos ou da irresponsabilidade da elite governante.
Quando Sarah Palin grita suas sandices pelo Twitter, o eco atravessa o país onde, pela primeira vez, uma nova geração terá menos acesso à educação e à estabilidade econômica do que a geração de seus pais. Para quem gosta de dizer que vivemos no mundo pós-americano, Sarah Palin serve de argumento eloquente, como poster girl de muito do que lamentamos: o anti-intelectualismo, o obscurantismo religioso e a patriotada. Seu novo best-seller se chama America by Heart: Reflections on Family, Faith and Flag (America de Cor – ou de Coração – Reflexões sobre Família, Fé e Bandeira). Assim como a finada série Seinfeld era anunciada como comédia sobre nada, Sarah Palin produz um gênero de autoajuda política em que fatos e análise não têm a menor importância.
A ironia é que Palin chamou atenção de John McCain por ser pragmática e não conservadora. Quando era governadora do Alasca, Palin, além de não cortejar o establishment republicano, não se prendia a ideologias de direita para tomar decisões e por isso havia se tornado popular no Estado que recebe mais contribuições de Washington por habitante.
A guinada de Palin para a direita, longe de ser uma conversão, parece servir a um projeto que seus inimigos consideram puramente pessoal. Palin se tornou milionária menos de um ano depois da derrota de 2008. Seu patrão, Rupert Murdoch, mandou construir um estúdio em Wasilla, de onde Palin grava aparições na Fox “News” (as aspas são minhas) e arrecada milhões de dólares para dezenas de políticos que abençoa. Muitos são os noviços do Tea Party. Vários são figuras tão grotescas que se tornam material para comediantes, como a derrotada candidata ao Senado em Delaware, Christine O’Donnell, cuja propaganda eleitoral na TV começava assim: “Eu não sou uma bruxa...”
Quem pensa que esse tipo de ridículo preocupa Sarah Palin se engana. Ela descobriu a mina de ouro da alienação popular contra o establishment político. Ao desafiar os caciques do Partido Republicano, ao abater alces e fazer churrasco com a caça para a câmera, ela encarna o arquétipo ao qual tantos americanos tentam se agarrar, como náufragos na tormenta. Palin é a personagem fronteiriça, destemida, no país que se orgulha de ter sido fundado por dissidentes religiosos. Individualismo e independência formam o DNA da autoimagem americana. Não importa que a realidade econômica tenha provocado uma certa mutação genética e fritar hambúrgueres numa lanchonete não combine com o sonho americano.
Cumplicidade. Para entender o lugar ocupado por Sarah Palin é preciso também observar o papel cúmplice da mídia americana. Sim, a mesma que ela apelidou de “lamestream” mídia, num trocadilho de tradicional com manco, em inglês. Escudada pelo marido Todd, Palin hoje quase só atende jornalistas que considera aliados ou vão se comportar como meros escadas para sua campanha não necessariamente presidencial. Um dos prazeres de Sarah Palin é manter o Partido Republicano em suspense sobre sua decisão de concorrer em 2012. Ela é a única potencial adversária de Barack Obama que já está em campanha sem se declarar candidata. Corre sozinha numa raia que não pode ser ocupada por políticos profissionais como Mitt Romney. A indústria Sarah Palin já acumula dois best-sellers, um contrato milionário com a Fox, um reality show e até aparições de sua filha num concurso de dança na TV com 26 milhões de espectadores no episódio final.
Quando um jornal da mesma mídia atacada por Palin abre suas páginas para publicar um editorial da ex-governadora sobre o Irã, não resta dúvida de que ela não teria ocupado tanto espaço sem ajuda dos que conhecem bem sua ignorância. O editorial É Hora de Jogar Duro com o Irã foi publicado no USA Today pouco antes do Natal. Não é surpresa que o primeiro comentário visto sob o texto perguntasse: “A Sarah sabe onde fica o Irã?” Assim como não escreveu seus livros e tem um domínio precário da língua inglesa, Sarah Palin não tem curiosidade intelectual e nem a mais remota credencial para produzir um editorial sobre o programa nuclear iraniano e suas consequências regionais.
Mas ela conta com a timidez da imprensa, insegura com as mudanças tecnológicas que enfraqueceram o jornalismo tradicional. Sarah Palin vende jornal e multiplica cliques online. Como ela derrubou a fronteira entre a cobertura de celebridades e a cobertura política, a mídia vai atrás.
Por fim, é preciso entender Sarah Palin à luz dos liberais, dos americanos esclarecidos que jamais votarão nela. Há uma compulsão voyeurista acompanhando cada passo dessa mulher. A tal ponto, que um editorialista como Charles Blow, do New York Times, prometeu não escrever uma linha sobre ela a não ser que tivesse valor jornalístico. Assim como Paris Hilton não faz nada e num passado recente dominou a cobertura de celebridades, Sarah Palin é famosa por ser famosa. Palin eleva e coloca em evidência o americano esquecido pela elite esclarecida das Costas Leste e Oeste: o americano que anda armado, é profundamente religioso e não tem perspectivas de um futuro melhor numa economia que exige um grau de educação hoje inacessível para a maioria.
Lamentar a ascensão de Sarah Palin é um exercício passivo. Entender o vazio ocupado por Sarah Palin é um desafio que o país eleitor de Barack Obama precisa enfrentar. Mas não custa lembrar que o entretenimento oferecido por Sarah Palin não é uma garantia de votos. Os americanos costumam votar em presidentes que são a favor de alguma coisa. E quase sempre alguma coisa localizada no centro do espectro político.
Folha.com
Álavaro Fagundes de Nova York Verena Fornetti de São Paulo
Apesar dos sucessivos aumentos acima da inflação até o ano passado, o poder de compra do salário mínimo no Brasil ainda é um dos piores da América Latina, segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho).
Os dados se referem a 2009 e consideram 24 países latino-americanos. Segundo a organização, o mínimo no Brasil é o 16º na lista (com poder de compra equivalente a US$ 286, o que corresponderia ontem a R$ 483).
O valor é inferior, por exemplo, ao dos mínimos de Honduras, Paraguai e El Salvador.
A paridade do poder de compra (ou PPC) é um medidor do custo de vida de um país que busca relativizar as diferenças de ganhos.
Por exemplo, o salário mínimo no Brasil hoje é superior ao peruano (R$ 360), mas, no país vizinho, os bens e serviços são geralmente mais baratos, o que torna o seu poder superior ao brasileiro (US$ 334 a US$ 286).
No ranking anterior divulgado pela OIT, com números de 2007, o Brasil ocupava o 11º lugar entre 14 países latino-americanos.
Hélio Zylberstajn, presidente do Instituto Brasileiro de Relações de Emprego e Trabalho, diz que a valorização do real afeta o indicador.
"O salário mínimo, quando convertido em dólares, aparentemente compra muito mais. Mas esse é um indicador enganoso neste momento porque nossa moeda está sobrevalorizada", diz.
Zylberstajn destaca que, se o Congresso mantiver o salário mínimo em R$ 540, o ciclo recente de aumento do poder de compra do rendimento-base será interrompido.
Neste ano, a variação no salário mínimo foi de 5,9% -de R$ 510 para R$ 540. A taxa é menor que o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) no ano, de 6,46%. O INPC é o indicador usado para calcular os reajustes do rendimento.
EFETIVIDADE
O professor da PUC-RJ José Márcio Camargo diz que a comparação do salário mínimo brasileiro com o de outros países da região também deve considerar a efetividade da base de remuneração.
"O salário mínimo no Paraguai pode ser muito alto, mas não vale nada", afirma.
Segundo ele, em muitos países onde o poder de compra do mínimo supera o do Brasil no ranking da OIT, grande parte da população ganha o equivalente ao valor ou até menos que a base.
DESIGUALDADE
De 2006 a 2009, enquanto o salário médio brasileiro em dólares cresceu 14,5%, descontada a inflação, o mínimo avançou 29,5% -a quinta maior alta na região.
Claudio Salm, economista da UFRJ, destaca que esses números diferem dos registrados na época do milagre econômico brasileiro, na década de 1970.
Na época, os salários médios -determinados pelo mercado- cresciam mais que o salário mínimo, reflexo de política pública.
Mas Salm argumenta que o fato de o Brasil ainda estar atrás de outros países do continente em termos de salário mínimo mostra que o valor do rendimento pago no país ainda é relativamente baixo.
Folha imagem/press
Lígia Formenti, de O Estado de S.Paulo
Uma pesquisa feita em três hemocentros brasileiros no período entre 2007 e 2008 indica que o risco de contrair HIV em transfusões de sangue no Brasil é 20 vezes maior que nos Estados Unidos. O trabalho, feito por estimativa, calcula que uma em cada 100 mil bolsas de sangue do País podem estar contaminadas pelo vírus causador da aids. Nos EUA, a relação é de 1 para cada 2 milhões de bolsas.
Embora muito mais elevados do que americanos e de alguns países europeus, os índices brasileiros melhoraram. Uma versão anterior do levantamento indicava que 1 em cada 60 mil bolsas poderiam estar contaminadas pelo HIV. "Precisamos avançar na segurança. Mas não há dúvida de que muito já foi feito", afirma a coordenadora desse trabalho, Ester Sabino, da Fundação Pró-Sangue de São Paulo. De acordo com os números atuais, entre 30 e 60 pessoas por ano podem ser contaminadas por sangue doado.
Na versão anterior da pesquisa, a estimativa era de que entre 50 e 100 indivíduos pudessem se infectar. O coordenador nacional da Política de Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde, Guilherme Genovez, questiona os índices apresentados no estudo. "Eles estão mais para um oráculo. Foram feitos por estatística, não podem ser considerados fato", observou. Para mostrar a segurança do sangue no Brasil, Genovez cita um levantamento feito em 130 mil bolsas de sangue coletadas em hemocentros de Santa Catarina, São Paulo, Rio e Pernambuco: o vírus não foi identificado em nenhuma amostra.
Financiado pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, em inglês), o levantamento coordenado por Ester foi feito a partir da análise de bolsas de sangue coletadas nos hemocentros de São Paulo, Minas e Pernambuco. Durante a apresentação dos resultados, em congresso da Associação Americana de Bancos de Sangue, a autora classificou como "alto" o risco residual para HIV em transfusões de sangue no Brasil. A doação no País, no entanto, é precedida de uma série de cuidados: os candidatos passam por entrevistas para detectar situações de risco de contaminação recente com o vírus. Passada essa fase, o sangue é submetido a testes para identificar a presença do HIV.
O problema está no que médicos chamam de janela imunológica, período no qual a presença do vírus não é descoberta pelo exame. O mesmo problema ocorre com hepatite C, cuja janela imunológica é de 50 dias. Os reflexos dos exames "falso negativos" podem ser constatados nas estatísticas. Dados do Ministério da Saúde mostram que 13,3% dos casos da doença confirmados em 2009 foram causados por transfusão de sangue.
Uma das alternativas para melhorar a segurança é a introdução de rotina do uso de um teste batizado de NAT, que identifica traços do vírus no sangue e não de anticorpos, como os exames tradicionais.
Ester calcula que, com o início do teste, o risco de infecção por HIV passaria de 1 em 100 mil para um em cada 250 mil. "O exame, sozinho, não basta. O resultado não vai a zero, nem chega próximo do que é identificado nos Estados Unidos", diz. Para a professora, é importante reduzir uma prática ainda comum de as pessoas buscarem bancos de sangue para fazer testagem de HIV. "Além do NAT, dependemos de mudanças de comportamento de alguns doadores mais expostos ao HIV para que não façam doações", afirmou.