CALANGOTANGO não é um blog do mundo virtual. Não é uma opinião, uma personalidade ou uma pessoa. É a diversidade de idéias e mãos que se juntam para fazer cidadania com seriedade e alegria.

Sávio Ximenes Hackradt

26.10.11


Artigo que publiquei na Revista Palumbo*
Não pretendo com esse artigo emitir opinião definitiva sobre o papel da esquerda no Rio Grande do Norte. Quero, sim, estimular o debate político sobre o fracasso da esquerda nas duas últimas eleições – prefeituras em 2008 e governo do estado em 2010 – no Rio Grande do Norte.
E, começo afirmando que a mim parece que o mais grave erro da esquerda do Rio Grande do Norte é não ter verdadeiramente um projeto para o estado e girar apenas, invariável e cansativamente, em torno de personalidades e em função de mandatos – têm sido sempre, pois, meros projetos individuais de poder.
E isso, apesar de o estado ter sido governado recentemente por um partido tido como de esquerda, o Partido Socialista Brasileiro (PSB), que por oito anos esteve à frente do comando administrativo sob a liderança de Wilma de Faria e do seu sucessor iberê Ferreira de Souza.
Mas, o poder de fogo da esquerda norte-rio-grandense não se limitou ao PSB: o Partido dos Trabalhadores (PT), o mesmo do presidente Lula, tinha no RN uma deputada federal, Fátima Bezerra e um deputado estadual, Fernando Mineiro; correndo por fora, com um vereador em Natal, tinha o PCdoB e ainda o PDT, com um deputado estadual e uma vereadora em Natal.
Cito estes exemplos acima, imaginando que, ao definir um campo ideológico no Rio Grande do Norte, é razoável colocar nesse circulo, obrigatoriamente, o PSB, PT, PCdoB e PDT. Dito isto, vamos à exemplificação de como tem faltado à esquerda do Rio Grande do Norte um projeto para o estado, ao mesmo tempo em que sobram investidas em projetos individuais de poder.
O PSB no Rio Grande é um feudo “wilmista” – o sufixo ista, com conotação personalista, de donos de legendas, é uma tradição na política do estado. No governo, Wilma olhou apenas para si e cometeu os mesmos pecados que todos os governos anteriores cometeram nas relações políticas dentro e fora do governo.
O Partido dos Trabalhadores (PT), mesmo sendo o partido do presidente Lula, não foi capaz de avançar no estado. Perdeu espaços na Câmara Municipal de Natal e o seu deputado estadual, Fernando Mineiro, se reelegeu entre os últimos, com votação pequena. A exceção no PT tem sido a deputada federal Fátima Bezerra que avança eleitoral e politicamente. E, nesses dois exemplos – Fátima e Mineiro –, pode-se comprovar como a esquerda no RN está atrelada a projetos individuais: os movimentos do PT nos últimos anos mostram que o partido funciona em função da preservação dos mandatos dos dois parlamentares. Há muito não há renovação no PT.
Já o PDT e o PCdoB, até pela baixa representatividade eleitoral e política no estado, têm sobrevivido nos últimos tempos gravitando em torno de alianças táticas eleitorais.
Há um ano das eleições de 2012 já estão nas ruas as primeiras movimentações em torno de candidaturas para prefeito de Natal. Portanto, depois da fragorosa derrota de 2010 para o DEM, o desafio que se coloca para o PT, PDT, PSB e PCdoB é como organizar uma frente política capaz de vencer as eleições em Natal e nos principais municípios do estado em 2012.
O interessante nessas movimentações é que, apesar da vitória de Rosalba para o governo do Estado, o DEM, até o momento, não apresenta candidato competitivo em Natal. Correndo por fora, ainda que dentro da base do governo Rosalba, está o deputado federal Rogério Marinho (PSDB), que tem uma posição política frágil em face de ser suplente, portanto dependendo do humor da governadora e do DEM para exercer o mandato. Até agora nas pesquisas Rogério não ultrapassou os 8% de intenção de votos.
Os deputados federais Felipe Maia (DEM) e Fábio Faria (PSD), também da base da governadora, não tem mostrado apetite para disputar a eleição de Natal.
Já o PMDB, que recentemente aderiu ao governo Rosalba, tem dito que terá candidato próprio. E o nome anunciado pelas principais lideranças peemedebistas é o do deputado estadual Hermano Morais, que também não tem demonstrado apetite para ser candidato a prefeito de Natal.
Tem ainda a prefeita de Natal, Micarla de Sousa (PV), que ninguém sabe ainda se será candidata à reeleição. Todas as pesquisas atuais mostram que ela não tem condições políticas e nem eleitorais para ser candidata. A rejeição ao seu governo chega a 85%. Situação muito difícil de reverter.
O PDT tem um projeto claro e definido: a volta de Carlos Eduardo para a prefeitura de Natal. Líder em todas as pesquisas – com os índices de intenção de votos variando de 36% a 50% –, Carlos Eduardo é o contraponto a Micarla de Sousa. Deixou a prefeitura com 73% de aprovação e apoiou a deputada federal Fátima Bezerra (PT) na sua sucessão. Agora, Carlos espera que o PT retribua o seu gesto apoiando-o para prefeito. O PT, por seu lado, insiste em manter a candidatura a prefeito de Fernando Mineiro, cuja intenção de votos nas pesquisas está na casa dos 3%. A tática de Mineiro e do seu grupo no PT é lançar candidatura para se manter em evidência, visando à eleição de deputado em 2014. Mas há muita gente do PT das outras tendências políticas que prefere ver o partido apoiando Carlos Eduardo. Nesse caso só o tempo dará a resposta definitiva. As discussões internas no PT ainda vão longe.
O PCdoB não vai lançar candidatura própria a prefeito e quer ampliar sua representação na Câmara Municipal de Natal. O partido tem conversado com Carlos Eduardo e Wilma sobre o quadro político e eleitoral.
O PSB traçou um caminho em 2010 para eleger Wilma senadora e não conseguiu. Hoje o projeto do PSB não é claro e Wilma tem dito que até dezembro decide seu rumo. Nas pesquisas para a prefeitura, Wilma ocupa o 2º lugar, com as intenções de votos variando entre 12% e 20%.
Apesar dos tropeços e da falta de um projeto nítido para o estado, PDT, PSB, PCdoB e PT, juntos, tem tudo para retomar a prefeitura de Natal e se prepararem para as eleições de 2014. Porque, hoje, nem candidato a governador em 2014 essa frente política tem – o quer não deixa de ser curioso, já que a governadora Rosalba tem enfrentado um grande desgaste, situação que, em geral, propicia o aparecimento de candidaturas adversárias.
*Palumbo – edição de setembro/2011

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