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Sávio Ximenes Hackradt

25.10.11


Com os países ricos estrangulados pela crise global, as agências de turismo europeias saíram à caça de clientela - e o Brasil, em alta, vem concentrando as atenções. De acordo com a Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), pacotes para Portugal, Itália, Grécia e Espanha - nações que estão no centro da turbulência - estão, em média, 15% mais baratos em relação ao mesmo período do ano passado. Em algumas empresas de turismo, a queda nos preços verificada em hotéis chega a 20%.
O Globo
- Muitas operadoras de turismo europeias baixaram os preços dos serviços que são vendidos às operadoras brasileiras para atrair brasileiros e, assim, compensar a perda do fluxo de turismo interno - revela o presidente da Abav Nacional, Carlos Alberto Amorim.
A SóViagens, no shopping Cittá America, na Barra da Tijuca, está vendendo reservas em hotéis em Portugal por preços 15% menores, calcula Athayde Botto, diretor da agência. Ele citou ainda o recuo de 20% nos valores da hospedagem em Atenas, na Grécia. Nas últimas semanas, a capital grega tem sido palco de violentas manifestações e greves gerais.
- A crise na Europa acabou reduzindo o preço dos hotéis. Na Grécia, o reflexo maior é em Atenas. Mas, nas ilhas gregas, que estão isoladas do caos, os valores seguem em alta, pois há muitos cruzeiros, o que mantém a demanda aquecida - explicou Botto.
A estagnação da economia dos Estados Unidos está retraindo também os turistas americanos.
Ilhas gregas continuam em alta
Foi de olho nesse movimento de preços que a estudante de 22 anos Lilian Lessa decidiu alterar o destino da viagem de intercâmbio que fará em janeiro de 2012. Ela trocou a Austrália pela Irlanda. Lilian tem amigos estudando e trabalhando no país europeu e diz que estudar lá atualmente está mais barato do que há um ano e muito mais em conta do que na Austrália. A economia obtida com a mudança de destino permitirá que ela fique mais tempo viajando. Dos cinco meses inicialmente planejados, agora passará seis meses fora.
- Acabou ficando bem mais barato, mesmo o euro sendo mais caro que o dólar. Fiquei impressionada com o valor da acomodação. Uma semana na Irlanda custa 100 (R$ 246), contra US$ 400 (R$ 700) na Austrália - detalhou Lilian.
O movimento é endossado pela agência de intercâmbio World Study, que já verificou aumento na procura para alguns países da Europa.
O setor de turismo agora se recupera do susto sofrido no mês passado, quando no Brasil o câmbio sofreu forte turbulência - causada pela crise internacional e especulações no mercado futuro - e o dólar comercial chegou a R$ 1,89. O câmbio turismo chegou a passar de R$ 2. A moeda havia atingido seu piso em 26 de julho (R$ 1,53). Botto, da SóViagens, lembra que viu o total de reservas cair de 30 para 5. Mas em outubro voltou a recuar e, ontem, fechou a R$ 1,752.
- Quando o dólar voltou a cair, as pessoas voltaram a fazer as reservas e tudo se normalizou. Hoje, os voos da Europa estão praticamente lotados durante o mês de janeiro - diz Botto.
Segundo Amorim, da Abav, o medo da variação do dólar vai reduzir os gastos nas viagens ao exterior.
- A maioria do pacotes para o fim de ano já estava vendida no fim de setembro, então não houve um impacto neste sentido, pois em setembro já estavam praticamente esgotados.
A Best Destination, que tem foco na Grécia, disse que, ao contrário de países como o Egito, onde houve queda brutal da procura, a Grécia não sofreu recuo. Um pacote terrestre (hotel mais traslado) para uma pessoa durante uma semana está em US$ 960. Em novembro, os preços devem ter uma redução de 5%, já que começa a baixa temporada, em virtude do inverno. A Abreu Tur, que tem como carro-chefe a Europa, disse que as expectativas já não são as mais otimistas:
- Acho que a procura cairá naturalmente a partir de novembro até março - disse o gerente de atendimento, Sergio Vianna, acrescentando que a Abreu Tur pretende investir bastante na Grécia na próxima temporada, a partir de abril, com o lançamento de dois novos circuitos, com Grécia e Turquia.
Ele conta ainda que Portugal e Irlanda também não tiveram alteração na procura. Mas não sabe dizer a fatia desses países em suas vendas. Vianna esteve na Irlanda no primeiro semestre deste ano, em Dublin e Belfast.
- A Europa internamente vive uma atmosfera de crise, mas que não se reflete no dia a dia das pessoas, nada de revoltas populares.
Câmbio muda planejamento
Na CVC, as vendas para a Europa seguem em ritmo estável, com recorde de procura para Paris no fim de ano. De acordo com a companhia, a cotação do dólar só começa a afastar os brasileiros das viagens ao exterior a partir de R$ 2. Mesmo com aumento, segundo a empresa, o que muda é a forma de organizar a viagem, levando as pessoas a se planejarem mais. Com a chegada do verão, os roteiros nacionais ganham mais destaque e pelo menos 65% dos clientes da CVC começam a procurar destinos no Brasil, em especial as praias do Nordeste (Porto Seguro, Natal, Fortaleza, Maceió, Salvador).
Eliane de Ainzestein, da Shilton, consultoria em seguros e viagens, acrescenta que os pacotes nacionais estão com preços elevados - o que acaba fazendo com que muitos brasileiros optem por viajar para fora do país.
- Os voos de fim de ano para a Europa estão lotados, assim como hotéis. A crise lá fora ainda não assustou os turistas brasileiros - disse Eliane, acrescentando que a elevação do dólar é atenuada com os parcelamentos disponíveis no mercado.

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