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Sávio Ximenes Hackradt

11.10.11


O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo – 2011, divulgado nesta segunda (10) por três agências da Organização das Nações Unidas (ONU) – a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) e o Programa Mundial de Alimentos (PMA) – revela que os preços devem seguir em alta, afetando gravemente agricultores e consumidores dos países pobres.
Doação de alimentos na Somália, do Programa Mundial de Alimentos/Abdurashid Abikar/AFP
Além disso, os três diretores das agências advertem no prefácio do documento: “Mesmo se atingirmos as metas do milênio até 2015, 600 milhões de pessoas ainda sofrerão por causa da fome. Assistir 600 milhões de pessoas passando fome regularmente é inadmissível. Toda a comunidade internacional deve agir com urgência e energia para banir a insegurança alimentar do planeta”.
O relatório revela que cerca de 6 milhões morrem por ano sem ter o que comer. O estudo revela que essa duríssima realidade está presente com maior intensidade nos países menos desenvolvidos, principalmente os localizados na África Subsaariana e no sul da Ásia. E são exatamente essas nações, como Etiópia, Somália, Afeganistão e Uganda, as mais afetadas pelas crises econômicas e de alimentos ocorridas a partir de 2006, de acordo com o relatório
"O estado da insegurança alimentar no mundo em 2010", foi produzido pela FAO, pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Ifad) e pelo Programa Alimentar Mundial (WFP) e publicado hoje. O Brasil foi um dos poucos países onde a segurança alimentar continuou a melhorar, passando praticamente incólume pela turbulência recente. Segundo o texto, o sucesso se deve às políticas públicas bem-sucedidas.
Crise e desnutrição
A alta volatilidade dos preços dos alimentos, que voltou a assustar o mundo desde meados de 2010, fez com que menos pessoas tivessem segurança alimentar – ou seja, acesso a uma alimentação nutritiva, saudável e em quantidade suficiente para suprir suas necessidades. Para continuar a se alimentar, muitas pessoas com menos condições financeiras tiveram que optar por abrir mão de uma refeição ou de certos alimentos considerados menos essenciais, como carnes. Essa situação ocorreu em nações tipicamente pobres e importadoras de alimentos, que têm poucas reservas de alimentos para crises sazonais e dinheiro insuficiente para continuar a ajudar a população necessitada adquirindo comida mais cara.
De acordo com o relatório, a quantidade de pessoas desnutridas no período de crise estudado se manteve constante na Ásia, em comparação ao período que vai de 2000 a 2002, com crescimento de 0,1%, enquanto no continente africano esse duro indicador aumentou 8%. No Afeganistão, onde as comunidades mais pobres gastam até 70% de sua renda em comida, o aumento dos preços tornou insustentável a alimentação das pessoas. "Para milhões de afegãos, essas altas nos preços dos alimentos colocam as necessidades básicas simplesmente fora de alcance", afirmou, em 2008, o então diretor para a Ásia do Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas, Anthony Banbury. A situação no país chegou ao ponto de ocorrerem saques em mercados de farinha da cidade em plena luz do dia. O programa da ONU prestou assistência a seis milhões de afegãos.
América e Caribe
Por sua vez, a região que engloba América Latina e Caribe sofreu uma estagnação em termos de segurança alimentar. "O Brasil e os países do Caribe foram exceções, já que a segurança alimentar nessas áreas continuou apresentando melhora. No Brasil, embora pessoas tenham sido afetadas pelo aumento do preço dos alimentos, políticas públicas, como o Bolsa-Família, ajudaram a reduzir o impacto. Além disso, a produção de comida cresceu no país, que é um grande exportador de produtos agrícolas e de carne. Essa capacidade de produção interna do Brasil conseguiu equilibrar os efeitos da alta dos preços", afirmou o representante da FAO no Brasil, Hélter Muteia, em entrevista.
O relatório da FAO mostra que programas inclusivos como os existentes no Brasil implicam em despesas com as quais muitos países podem não ser capazes de arcar, especialmente durante uma crise. Por isso, nem todas as nações tiveram a mesma capacidade da sociedade brasileira de passar pela alta dos alimentos sem aumentar a quantidade de indivíduos desnutridos. "Restringir exportações resulta em uma perda de receitas para o governo e reduz o potencial de agricultores de ganhar dinheiro ao aumentar sua produção devido à alta dos preços. E estoques de comida são caros de manter, o que significa que países pobres podem não ter tido os recursos disponíveis antes da crise para compensar qualquer escassez da produção doméstica", alerta o texto. De acordo com o material, a China e a Índia estão entre as poucas nações que não sofreram tanto com o maior custo de comida.
Ajuda
Países dependentes de alimentos importados foram os que mais sofreram com o peso da crise. Além de diminuir a quantidade de comida importada, eles precisaram recorrer à ajuda de outros países e organizações e projetos humanitários. Muteia ressaltou que os preços dos alimentos voltaram a subir em todo o mundo, desde o ano passado. "Não chegou ao nível de 2008, mas é algo crítico", advertiu. Dados do Banco Mundial revelam que, apenas entre 2010 e 2011, mais 70 milhões de pessoas começaram a viver abaixo da linha da pobreza. "Certamente, esses 70 milhões vão se juntar aos 925 milhões de pessoas que passam fome no mundo, já que as duas coisas estão interligadas", lamentou o representante da FAO no Brasil.
Portal Vermelho com agências

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