11.11.11
Postado por
Sávio Hackradt
A
presidente é economista, com sólida formação e ampla informação. Foi ministra
do vetor-chave do desenvolvimento: a energia. Conviveu e teve assessoria
pessoal de Maria da Conceição Tavares, uma das mais brilhantes inteligências do
Brasil.
Por
Carlos Lessa*
A
presidente sabe que a crise mundial, explicitada em 2008, será de longa duração
e que o mundo pós-crise não é previsível, mas haverá a modificação geopolítica
do planeta, uma profunda onda de inovações tecnológicas e alteração em padrões
comportamentais.
A
presidente sabe que o futuro exige conhecimento das restrições para, no âmbito
do raio de manobra, serem a nação, o povo e sua economia uma folha ao vento da
história ou, com a vontade civilizatória e solidária do povo, explicitar e
desdobrar um projeto nacional. Cabe ao governante atuar no âmbito da manobra
com o olhar firme, coordenar os atores sociais a atuar em direção ao sonho de
um Brasil justo e próspero.
Futuro
exige conhecimento das restrições para explicitar e desdobrar um projeto
nacional
A
presidente sabe a perversa tendência do sistema financeiro de, em tempos de
crise, adotar políticas defensivas que aprofundam a crise. Keynes falava da
"preferência pela liquidez", que desvia as empresas da realização de
investimentos de ampliação de capacidade produtiva e passam a optar por
aplicações financeiras. As organizações bancárias e do mercado de capitais
tendem a restringir empréstimos e a optar por ampliar suas reservas de uso
imediato. Ao fazê-lo, "empoçam" recursos, e aprofundam a tendência à fase
depressiva da economia. O coletivo de empresas, acreditando na crise, adota uma
conduta que acelera e aprofunda a crise. No limite, participam de um estouro de
boiada que corre para o precipício.
A
presidente sabe que o Fed (Federal Reserve) adquiriu ativos podres e duvidosos
e injetou volumes colossais de recursos no sistema bancário americano.
Entretanto, esses bancos não estão reativando a economia; estão cautelosos no
crédito, prosseguem com a execução de hipotecas imobiliárias e paralisam a atividade
da construção civil. A família americana, sem planos de previdência
contratuais, hoje vê o futuro com angústia e decidiu pela contenção do consumo,
que aprofunda o processo depressivo. Os indicadores macroeconômicos dos EUA são
inquietantes.
A
presidente sabe que os bancos da zona do euro não conseguem coordenar suas
políticas nacionais, e tendem a praticar um contracionismo que sinaliza
persistência e aprofundamento da crise. Os bancos da zona do euro estão
"empoçando" e a Suíça, com medo de uma corrida pelos francos, alinhou
sua moeda com o euro.
A
presidente sabe que tanto os EUA quanto a comunidade europeia estão reduzindo
importações. A China, que vinha sustentando o crescimento, vem perdendo ímpeto
e já sinaliza procedimentos de reforço de seus bancos oficiais (para evitar a
queda das Bolsas chinesas, o governo está recomprando ações de seus bancos dos
acionistas privados minoritários).
A
presidente sabe que a Bolsa de Mercadorias de Chicago sustenta os preços
relativos de alimentos, de algumas matérias primas e do petróleo. Há uma
preferência crescente dos especuladores mundiais por aplicações arbitradas pela
Bolsa de Mercadorias de Chicago, porém o sinal pode mudar.
A
presidente sabe que, frente à crise mundial, o Brasil deve "botar suas
barbas de molho". Felizmente, temos o Banco do Brasil, a Caixa Econômica e
o BNDES, que respondem à orientação soberana nacional de não participar da
manada (Lula teve que trocar o presidente do BB para forçar nosso maior banco a
expandir crédito).
A
presidente sabe que o Bradesco já anunciou a criação de um fundo de R$ 1 bilhão
para ter "liquidez preventiva" em relação à inadimplência privada. A
presidente sabe que é importante reforçar o sistema bancário oficial e expandir
o crédito e reduzir os juros básicos. A presidente, corretamente, quer
estimular a construção civil em um programa de habitação popular. Obviamente,
para a geração de emprego e renda, essa é a política social anticrise por
excelência, porém sabe que tem que reduzir a gula dos empreiteiros. Manter a
demanda interna ampliando o endividamento familiar com compra de veículos
automotores e outros bens duráveis tem um efeito macrodinâmico menor e é
patrimonialmente equivocada em relação à família brasileira. Talvez seja esse o
sentido profundo da enigmática recomendação presidencial: "o brasileiro
deve consumir com moderação".
Uma
economista competente não diria essa frase (que parece aplicável a bebida) se
não estivesse pensando em desviar as famílias da armadilha da compra de
duráveis, orientando-as para a ativação da construção civil. Acho inteligente
reforçar os fundos imobiliários com aplicações financeiras da previdência
complementar, porém é necessário planejar o futuro das cidades e ampliar o
investimento na infraestrutura urbana.
A
presidente sabe que é possível e necessário fazer muito mais. O câmbio tem que
voltar a ser controlado. O Brasil não deve estimular empresas brasileiras a
investirem no exterior (recentemente, duas indústrias de calçados do Rio Grande
do Sul anunciaram que vão deslocar suas operações para a Nicarágua em busca de
mão de obra barata e menor intervenção do Estado). O sistema bancário oficial
deve retirar qualquer apoio a essa atitude anti-nacional. O fomento público
deve ser preferencial a empresas de brasileiros. As filiais de multi, na crise,
tendem a ampliar remessas para as matrizes. Há um espaço para a empresa de
brasileiros crescer, orientada para o mercado interno. As filiais terão que
reduzir remessas para manter suas posições de mercado.
Presidente,
a desvalorização do real aumenta a rentabilidade das exportações primárias mas
encarecem itens básicos da alimentação popular. É indispensável a recriação do
imposto de exportação, se houver a desvalorização previsível. Devemos
selecionar com critério aplicações financeiras do exterior, reduzir o
endividamento com risco cambial do setor privado, ampliar a proteção a ramos
industriais clássicos, e adotar uma política pública de "comprar o produto
brasileiro".
A
presidente está informada das pressões externas. Algumas deveriam ser
ridicularizadas: as associações americanas de indústrias de confecção e
calçados protestaram contra a adoção, pelo Brasil, de medidas defensivas desses
ramos industriais clássicos e ameaçados. Quero crer que são as matrizes
interessadas em que suas filiais na China ampliem a avalanche de exportações
para o Brasil. No Japão, surgiram resmungos quanto aos obstáculos para
importações de veículos pelo Brasil.
Somente
critico a presidente pela modéstia das medidas. Outra presidente sul-americana,
que vem adotando medidas radicais de defesa nacional, acabou de receber uma
reeleição consagradora. A timidez não é sábia em momentos de crise mundial.
*Carlos
Francisco Theodoro Machado Ribeiro de Lessa é professor emérito de economia
brasileira e ex-reitor da UFRJ. Foi presidente do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES; artigo publicado originalmente no
jornal Valor
Estação Música Total
Últimas do Twitter
Arquivo
-
▼
2011
(1394)
-
▼
novembro
(158)
- Túlio Dantas (@tuliodantas) em 1.400 caracteres
- O 13° salário
- "Jurômetro"da Fiesp evidencia os males dos juros a...
- País tem 21 milhões de Marias e Josés
- Ana Cadengue (@AnaCadengue) em 1.400 caracteres
- Comércio eletrônico atingiu mais de 32 milhões de ...
- Ajuste fiscal da União corta mais investimentos qu...
- Mais de 600 mil contraíram Aids no Brasil em três ...
- Sinal Fechado: magistrada prorroga prisão temporár...
- Márcio Guedes (@MarcioGuedesM) em 1.400 caracteres
- Quem nunca mentiu...
- A Era Vettel
- Juiz que combateu máfia siciliana diz que Brasil p...
- As diversas idades nas redes sociais
- Carlos Lessa: Barbas de molho
- Semana Nacional de Conciliação começa hoje
- Caio Fernandes (@caiofernandescf) em 1.400 caracteres
- MPRN em nota reafirma acusações a Wilma
- Joseph Stiglitz: "Austeridade é receita para suicí...
- A Juventude que investe em imóveis
- Filme brasileiro vence festival de cinema espanhol
- Paul Krugman: Nós somos os 99,9%
- Mobilidade Urbana de Natal por @NossaNatal
- Paulo Araújo (@paraujo) em 1400 caracteres
- Ligue 180 registra mais de 58 mil relatos de violê...
- Mantega diz que crise vai piorar, mas governo não ...
- Douglas Félix (@chatodemais) em 1.400 caracteres
- Procon alerta consumidores sobre cuidados nas comp...
- 3ª Conferência dos Direitos da Pessoa Idosa
- Consultoria de RH quer mais negros no mercado de t...
- Freddie Mercury: em breve, num cinema perto de você
- Veja a petição da Operação Sinal Fechado
- Em nota MPRN explica a Operação Sinal Fechado e di...
- Canindé Soares (@canindesoares) em 1.400 caracteres
- Combate à corrupção
- Ministério da Saúde vai buscar novos doadores de s...
- Supremo reafirma que debate sobre legalização de d...
- Campanha vai chamar a atenção da sociedade para a ...
- Wlademir Capistrano (@wlad_capistrano) em 1.400 ca...
- O peso da tributação no Brasil
- Paul Krugman: Euro-românticos maçantes e cruéis
- Renegociação de dívida tributária com o município ...
- Seminário de Pesquisa Avançada em Interações Midia...
- Jansênio Alves (@Jansenioalves) em 1400 caracteres
- ONU lança campanha para acabar com violência contr...
- O Brasil, o BRICS, e a nova arma hipersônica dos EUA
- CNJ tira do seu site inciais de juízes investigados
- Nicolau Frederico (@nicsouza) em 1.400 caracteres
- Amofobia (neologismo meu)
- Desafio de construir sociedade inclusiva é imenso,...
- Cláudio Sandêgi (@ClaudioSandegi) em 1400 caracteres
- Bolha Imobiliária: esse mal está chegando ao Brasil?
- Não há democracia nos EUA, mesmo com Obama, diz Ol...
- Facebook rastreia usuários até quando estão fora d...
- Crianças negras ainda são preteridas por famílias ...
- Dilma diz que "pobreza no Brasil tem face negra e ...
- Atenção leitores do Calangotango!
- Antônio M. Oliveira (@ToninhoRN) em 1400 caracteres
- Facebook é invadido por pornografia e vídeos viole...
- Questões jurídicas em torno do leilão do Juvenal L...
- Desenvolvimento de tecnologias para deficiente ter...
- Campanha recolhe 30,8 mil armas no país em seis meses
- República de Trabalhadores: anseio da construção d...
- Petrobras: ameaça de greve continua
- Multinacionais do país trazem dinheiro ‘disfarçado...
- Flávio Rezende (@flavioldrezende) em 1.400 caracteres
- 3º Tour de Curtas-Metrangens Eurochannel
- FLIPIPA começa amanhã: veja a programação
- Especialista alerta clientes bancários a fazer pes...
- Wilderson Souza (@wildersonsouza) em 1.400 caracteres
- Workshop promete ensinar 'como enlouquecer um homem'
- Europa vive o pior momento desde 1945, afirma Merkel
- ONU: marcas famosas utilizam mão-de-obra infantil
- A boa e a má notícia da extinção do emprego
- Brasileiros estão entre os que mais gastam quando ...
- Marcelo Henrique (@MarceloHrique) em 1.400 caracteres
- Uma Carta: introdução, meio sem fim (deveria ser f...
- Lewis Hamilton volta a vencer na Formula 1 em Abu ...
- Procon recomenda cuidados na compra pela internet
- Paul Krugman: Mitos sobre a crise
- Diabetes causa uma morte a cada dez segundos em to...
- Moacir Soares (@moacirsoaresCTB) em 1.400 caracteres
- TCU encontra falhas no sistema usado para acompanh...
- Jornalistas encontram "cenário devastador" na Usin...
- Banco do Brasil vai financiar imóvel na planta
- Ivan Lira (@Ivan_Lira_RN) em 1400 caracteres
- “Cálice” volta à cena: o rap de Criolo e Chico Bua...
- BC mantém em 15% pagamento mínimo do cartão de cré...
- Curtir, o gostar da era digital!
- Participantes do 4º congresso da Unegro defendem m...
- A idade do ódio, aqui e no mundo
- Universidades terão observatório sobre a violação ...
- Acusado de tentar furtar 4 latas de atum é condena...
- Luiz Lopes(@LuizLopesRN) em 1.400 caracteres
- História da população negra será contada em agenda...
- O tráfico das idéias - Um quinto poder?
- Ministro do STF diz que pode mudar voto sobre Lei ...
- Carlos Lessa: A presidente sabe que a crise será l...
- Campanha alerta para o risco de doenças oculares e...
- Nordeste tem maior queda da desigualdade em 30 anos
-
▼
novembro
(158)
0 comentários: