27.11.11
Postado por
Sávio Hackradt
Íntegra
da nota do MPRN
O
Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte, em razão de notas à
imprensa elaboradas pela ex-Governadora do RN, Wilma Maria de Faria, e seu
filho, advogado Lauro Maia, em que se faz adjetivações negativas a respeito da
atuação desta Instituição e se lança um “desafio”, vem a público esclarecer o
seguinte:
a)É
comum que investigados, confrontados com fortes indícios e evidências de sua
participação em ilícitos procurem desviar o “foco” do noticiário, por meio da
desgastada estratégia de tentar acusar e desafiar o órgão investigador;
b)Quanto
à acusação de má-fé por parte desta Instituição, muito provavelmente pelo fato
de se ter dado publicidade a provas, indícios e evidências de que a
ex-Governadora do RN, Wilma Maria de Faria, e seu filho, advogado Lauro Maia,
tiveram participação na cadeia criminosa revelada na operação “Sinal Fechado”,
esta deve ser prontamente repelida;
c)Não
existiu qualquer razão metajurídica para tanto. Não houve “pirotecnia jurídica”,
mormente diante de peças bem elaboradas, claras e tecnicamente precisas. Não
existem “medos políticos inconfessáveis” por parte desta Instituição. Ao contrário,
o Ministério Público tem se pautado pela investigação e acusação a quem quer
que seja, como no caso presente, independentemente de sua suposta importância
ou “lado” na cena política;
Aliás,
todas as menções a Srª Wilma Maria de Faria e ao advogado Lauro Maia constantes
nas petições advém de informações obtidas a partir de diálogos mantidos entre
os investigados, que de forma expressa registram tais pessoas como beneficiárias
das ações da organização criminosa, tendo o Ministério Público, como é de seu
dever, levado os fatos ao Poder Judiciário, que reconheceu a procedência dos
pedidos e determinou a realização das diligências necessárias à continuação da
apuração dos fatos. Não há uma única afirmação feita pelo Ministério Público
que não esteja baseada em elementos de evidências e provas, notadamente as próprias
palavras dos demais investigados e pessoas referenciadas em interceptações
judicialmente autorizadas.
d)Não
é verdade que um membro do MPRN teria afirmado inexistir provas contra a
ex-Governadora do RN, Wilma Maria de Faria, e seu filho, advogado Lauro Maia,
na coletiva de imprensa dada na tarde do dia 24 passado. O que se afirmou foi
que não havia necessidade de busca e apreensão na residência destes
investigados, dado que, muito provavelmente, não seriam ali encontradas provas
a esse respeito, uma vez que os fatos ocorreram em meados de 2009;
e)Ora,
as petições levadas a público com autorização judicial, que continuam à disposição
no “site” da Instituição (www.mp.rn.gov.br), descreveram de forma minuciosa as
diversas provas acerca da participação dos investigados em comento, colhidas ao
longo de nove meses de apurações, como diálogos em que se afirma,
categoricamente, que George Olímpio pagou vantagem indevida (“propina”) a Lauro
Maia, bem como fez promessa de pagamento de vantagem indevida a este
investigado, além de comunicações telemáticas em que George Olímpio revela que
participou ativamente da elaboração de projeto de lei de autoria da investigada
Wilma Maria de Faria, tendo recebido a própria mensagem por ela encaminhada à
Assembléia Legislativa, com o projeto de lei que resultou na sanção da Lei n.º
9.270/09, o que representou indício de que as propostas a Lauro Maia se
destinavam, em verdade, à sua mãe, então gestora máxima do Executivo Estadual;
f)O
interrogatório do investigado José Gilmar de Carvalho Lopes (Gilmar da
Montana), tomado no dia da operação, e, portanto, após a elaboração das
referidas petições corrobora a prova e evidências até então conhecidas, reforçando
ainda mais o que já havia sido apurado, principalmente quando o mesmo afirma
que, de fato, George Olímpio lhe confidenciou que ofereceu promessa de vantagem
indevida à investigada Wilma Maria de Faria, consistente em cota de 15% (quinze
por cento) da sua parcela nos futuros lucros do Consórcio INSPAR, como forma de
garantir a vitória deste consórcio na licitação para a inspeção veicular no RN;
g)Diversas
provas já colhidas na investigação Ministerial, portanto, dão conta da implicação
e envolvimento da Ex-Governadora Wilma de Faria e seu filho Lauro Maia no
aludido esquema;
h)Importante
repisar, apesar de ser de conhecimento público, que o Ministério Público
Estadual contesta veementemente a constitucionalidade da Lei n. 9.270/09, que
trata da Inspeção Veicular no Estado do Rio Grande do Norte, tanto que
representou ao Procurador-Geral da República em face de tal vício, tendo sido
ajuizada no Supremo Tribunal Federal a competente Ação Direta de
Inconstitucionalidade (Adin n° 4.551). A Adin está sob a relatoria da Ministra
Carmén Lúcia, em pauta para julgamento;
i)Por
fim, é de se reconhecer que é absolutamente compreensível a insatisfação e,
mesmo, a revolta, expressadas por pessoas que estão sendo investigadas por fatos
tão graves quanto os descortinados com a operação “Sinal Fechado”.
É,
inclusive, uma reação humana natural e esperada a autodefesa diante da
magnitude dos fatos. Todavia, o papel do Ministério Público sempre será regido
pelo aspecto técnico, não se deixando envolver partidária e emocionalmente em
qualquer caso, nem aceitando desafios pessoais.
Afinal,
no Estado Democrático de Direito cada instituição deve exercer as suas atribuições,
sendo as ações do Ministério Público pautadas dentro da estrita ordem
constitucional, da qual jamais se afastará;
j)O
Ministério Público do Rio Grande do Norte reafirma o seu total compromisso com
a verdade, não havendo qualquer interesse em imputar culpa a pessoas realmente
inocentes. Por outro lado, com a mesma serenidade,afirma que jamais deixará de
investigar quem quer que seja, inclusive aqueles que, não se sabe por qual
motivo, parecem imaginar que estão acima da lei.
Natal/RN,
26 de novembro de 2011.
MINISTÉRIO
PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
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