23.11.11
Postado por
Sávio Hackradt
Se
existe uma palavra que tenho ouvido muito ultimamente é: tecnocrata. Às vezes,
ela é usada a título de escárnio – os criadores do euro são tecnocratas que não
levaram em conta fatores culturais e humanos. Outras vezes é usada como elogio:
os novos primeiros-ministros de Grécia e Itália são tecnocratas que estão acima
da política e farão o que é preciso ser feito.
Por
Paul Krugman*
Acho
injusto. Conheço tecnocratas, às vezes, eu mesmo atuo como um. E estas pessoas –
as pessoas que obrigaram a Europa a adotar uma moeda comum e que estão forçando
Estados Unidos e Europa a adotarem medidas de austeridade – não são
tecnocratas. Pelo contrário, são românticos irrealistas.
E,
com certeza, trata-se de uma classe de românticos peculiarmente maçantes, que
se expressam numa prosa grandiloquente em vez de poesia.
E
as coisas que exigem em nome das suas visões românticas são cruéis, envolvendo
enormes sacrifícios dos trabalhadores e suas famílias.
Mas
Persiste o fato de que essas visões são impelidas por sonhos de como as coisas
deveriam ser e não por uma avaliação fria da maneira como as coisas realmente são.
E
para salvar a economia mundial precisamos derrubar esses românticos perigosos
dos seus pedestais.
Comecemos
com a criação do euro. Se acha que este foi um projeto motivado por um cálculo
cuidadoso dos custos e benefícios, você está muito mal informado.
A
verdade é que, desde o início, a marcha da Europa na direção de uma moeda comum
foi um projeto questionável sob qualquer análise econômica objetiva. As
economias do continente eram muito discrepantes para funcionarem sem percalços
com uma única política monetária para todas e, muito provavelmente, condenada a
experimentar “choques assimétricos” em que alguns países entrariam em colapso,
ao passo que outros prosperariam. E, ao contrário dos Estados do território
americano, os países europeus não fazem parte de uma única nação com um orçamento
unificado e um mercado de trabalho ligado por uma linguagem comum.
Assim,
por que esses “tecnocratas” insistiram tanto no euro, desconsiderando os muitos
alertas dos economistas? Em parte foi o sonho da unificação europeia que a
elite do continente achou tão atraente que seus membros deixaram de lado as
objeções práticas.
E
em parte foi um ato de fé econômico, a esperança – impelida pela vontade de
acreditar, apesar das fortes evidências do contrário – que tudo funcionaria bem
desde que as nações praticassem as virtudes vitorianas da estabilidade de preços
e a prudência fiscal.
É
triste dizer, mas as coisas não funcionaram como prometido.
Contudo,
em vez de se ajustarem à realidade, esses supostos tecnocratas redobraram a
aposta – insistindo, por exemplo, que a Grécia conseguiria evitar o calote
aplicando um plano de austeridade cruel, quando qualquer pessoa que conhece
aritmética sabia que não daria certo.
Deixe-me
tratar em particular do Banco Central Europeu (BCE) que, supostamente, seria a
instituição democrática de última instância e que é conhecida por se refugiar
na fantasia quando as coisas vão mal. No ano passado, por exemplo, o BCE
confiou na afirmação de que cortes no orçamento, no caso de uma economia
fragilizada, promoveriam uma expansão. Estranha essa afirmação, isso não
ocorreu em lugar nenhum.
E
agora, com a Europa em crise – uma crise que não pode ser refreada, salvo se o
BCE adotar medidas para interromper o círculo vicioso do colapso financeiro -,
seus líderes ainda se agarram à noção de que a estabilidade cura todas as doenças.
Na semana passada, Mario Draghi, o novo presidente do BCE, declarou que “ancorar
as expectativas inflacionárias” é “a maior contribuição que podemos oferecer
para apoiar um crescimento sustentável, a criação de empregos e a estabilidade
financeira”.
Trata-se
de uma afirmação totalmente fantasiosa, feita no momento em que a inflação
europeia esperada é bastante baixa e o que vem inquietando os mercados é o
temor de um colapso financeiro mais ou menos imediato. E é mais uma proclamação
religiosa do que uma avaliação tecnocrata.
Apenas
para deixar claro, não estou me insurgindo contra os europeus, uma vez que
temos os nossos pseudo-tecnocratas pervertendo o debate nacional. Em
particular, grupos alegadamente apartidários de especialistas têm conseguido
desviar o debate político econômico, mudando o foco do problema do emprego para
o do déficit.
Os
verdadeiros tecnocratas estão questionando por que isso teria sentido num
momento em que o índice de desemprego chega a 9% e o juro sobre a dívida dos
EUA é de apenas 2%. Mas, como o BCE, nossos tecnocratas ranzinzas têm seus
argumentos sobre o que é importante.
Então,
sou contra os tecnocratas? Não, absolutamente. Gosto deles – são amigos meus. E
precisamos de conhecimento técnico para lidar com nossas dificuldades econômicas.
Mas o nosso discurso está sendo distorcido por ideólogos e sonhadores – românticos
maçantes e cruéis – fingindo ser tecnocratas.
Está
na hora de pôr fim às suas pretensões.
*Articulista
do New York Times. Fonte: Esadão.com.br
Estação Música Total
Últimas do Twitter
Arquivo
-
▼
2011
(1394)
-
▼
novembro
(158)
- Túlio Dantas (@tuliodantas) em 1.400 caracteres
- O 13° salário
- "Jurômetro"da Fiesp evidencia os males dos juros a...
- País tem 21 milhões de Marias e Josés
- Ana Cadengue (@AnaCadengue) em 1.400 caracteres
- Comércio eletrônico atingiu mais de 32 milhões de ...
- Ajuste fiscal da União corta mais investimentos qu...
- Mais de 600 mil contraíram Aids no Brasil em três ...
- Sinal Fechado: magistrada prorroga prisão temporár...
- Márcio Guedes (@MarcioGuedesM) em 1.400 caracteres
- Quem nunca mentiu...
- A Era Vettel
- Juiz que combateu máfia siciliana diz que Brasil p...
- As diversas idades nas redes sociais
- Carlos Lessa: Barbas de molho
- Semana Nacional de Conciliação começa hoje
- Caio Fernandes (@caiofernandescf) em 1.400 caracteres
- MPRN em nota reafirma acusações a Wilma
- Joseph Stiglitz: "Austeridade é receita para suicí...
- A Juventude que investe em imóveis
- Filme brasileiro vence festival de cinema espanhol
- Paul Krugman: Nós somos os 99,9%
- Mobilidade Urbana de Natal por @NossaNatal
- Paulo Araújo (@paraujo) em 1400 caracteres
- Ligue 180 registra mais de 58 mil relatos de violê...
- Mantega diz que crise vai piorar, mas governo não ...
- Douglas Félix (@chatodemais) em 1.400 caracteres
- Procon alerta consumidores sobre cuidados nas comp...
- 3ª Conferência dos Direitos da Pessoa Idosa
- Consultoria de RH quer mais negros no mercado de t...
- Freddie Mercury: em breve, num cinema perto de você
- Veja a petição da Operação Sinal Fechado
- Em nota MPRN explica a Operação Sinal Fechado e di...
- Canindé Soares (@canindesoares) em 1.400 caracteres
- Combate à corrupção
- Ministério da Saúde vai buscar novos doadores de s...
- Supremo reafirma que debate sobre legalização de d...
- Campanha vai chamar a atenção da sociedade para a ...
- Wlademir Capistrano (@wlad_capistrano) em 1.400 ca...
- O peso da tributação no Brasil
- Paul Krugman: Euro-românticos maçantes e cruéis
- Renegociação de dívida tributária com o município ...
- Seminário de Pesquisa Avançada em Interações Midia...
- Jansênio Alves (@Jansenioalves) em 1400 caracteres
- ONU lança campanha para acabar com violência contr...
- O Brasil, o BRICS, e a nova arma hipersônica dos EUA
- CNJ tira do seu site inciais de juízes investigados
- Nicolau Frederico (@nicsouza) em 1.400 caracteres
- Amofobia (neologismo meu)
- Desafio de construir sociedade inclusiva é imenso,...
- Cláudio Sandêgi (@ClaudioSandegi) em 1400 caracteres
- Bolha Imobiliária: esse mal está chegando ao Brasil?
- Não há democracia nos EUA, mesmo com Obama, diz Ol...
- Facebook rastreia usuários até quando estão fora d...
- Crianças negras ainda são preteridas por famílias ...
- Dilma diz que "pobreza no Brasil tem face negra e ...
- Atenção leitores do Calangotango!
- Antônio M. Oliveira (@ToninhoRN) em 1400 caracteres
- Facebook é invadido por pornografia e vídeos viole...
- Questões jurídicas em torno do leilão do Juvenal L...
- Desenvolvimento de tecnologias para deficiente ter...
- Campanha recolhe 30,8 mil armas no país em seis meses
- República de Trabalhadores: anseio da construção d...
- Petrobras: ameaça de greve continua
- Multinacionais do país trazem dinheiro ‘disfarçado...
- Flávio Rezende (@flavioldrezende) em 1.400 caracteres
- 3º Tour de Curtas-Metrangens Eurochannel
- FLIPIPA começa amanhã: veja a programação
- Especialista alerta clientes bancários a fazer pes...
- Wilderson Souza (@wildersonsouza) em 1.400 caracteres
- Workshop promete ensinar 'como enlouquecer um homem'
- Europa vive o pior momento desde 1945, afirma Merkel
- ONU: marcas famosas utilizam mão-de-obra infantil
- A boa e a má notícia da extinção do emprego
- Brasileiros estão entre os que mais gastam quando ...
- Marcelo Henrique (@MarceloHrique) em 1.400 caracteres
- Uma Carta: introdução, meio sem fim (deveria ser f...
- Lewis Hamilton volta a vencer na Formula 1 em Abu ...
- Procon recomenda cuidados na compra pela internet
- Paul Krugman: Mitos sobre a crise
- Diabetes causa uma morte a cada dez segundos em to...
- Moacir Soares (@moacirsoaresCTB) em 1.400 caracteres
- TCU encontra falhas no sistema usado para acompanh...
- Jornalistas encontram "cenário devastador" na Usin...
- Banco do Brasil vai financiar imóvel na planta
- Ivan Lira (@Ivan_Lira_RN) em 1400 caracteres
- “Cálice” volta à cena: o rap de Criolo e Chico Bua...
- BC mantém em 15% pagamento mínimo do cartão de cré...
- Curtir, o gostar da era digital!
- Participantes do 4º congresso da Unegro defendem m...
- A idade do ódio, aqui e no mundo
- Universidades terão observatório sobre a violação ...
- Acusado de tentar furtar 4 latas de atum é condena...
- Luiz Lopes(@LuizLopesRN) em 1.400 caracteres
- História da população negra será contada em agenda...
- O tráfico das idéias - Um quinto poder?
- Ministro do STF diz que pode mudar voto sobre Lei ...
- Carlos Lessa: A presidente sabe que a crise será l...
- Campanha alerta para o risco de doenças oculares e...
- Nordeste tem maior queda da desigualdade em 30 anos
-
▼
novembro
(158)
0 comentários: