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Sávio Ximenes Hackradt

30.11.11


A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) lançou nesta terça-feira (29) o Jurômetro, uma ferramenta online que calcula quanto o governo brasileiro pagou em juros da dívida no acumulado do ano. Além disso, o instrumento permite comparar o que o governo poderia fazer com o dinheiro em relação à educação, habitação, renda e transportes; quantas escolas ou casas populares poderiam ser construídas, quantas cestas básicas poderiam compradas ou quantos novos aeroportos inaugurados.
Portal Vermelho com agências

De acordo com o Jurômetro, o País já pagou cerca de R$ 216 bilhões em juros no acumulado de 2011, montante suficiente para construir 332 aeroportos. Toda esta dinheirama é desviada pelo governo dos investimentos em saúde, educação, infraestrutura e outras áreas para o pagamento de juros.

896 milhões de Bolsa Família

Ainda no transporte, o dinheiro poderia ser destinado à construção de 90 mil km de ferrovias e 166 km de rodovias. Caso fosse destinado à renda, daria para pagar 397 milhões de salários mínimos, ou 896 milhões de benefícios do Bolsa Família. O montante poderia arcar com os custos de 667 milhões de cestas básicas.

Na educação, o total pago daria para manter cerca de 104 milhões de crianças estudando, além de equipar 527 mil escolas e construir outras 234 mil. Já na habitação, os R$ 216 bilhões poderiam ser destinados à constução de cerca de 3 milhões de casas populares, 100 milhões de novas ligações de água e 64 milhões de ligações de esgoto.

Conscientização

A ferramenta utiliza dados oficiais do Banco Central (BC), corrigidos com base em mudanças na meta da taxa básica de juros (Selic) e do número de dias. Segundo o BC, a dívida pública líquida do País é de 37,2% do Produto Interno Bruto (PIB) acumulado em 12 meses. De acordo com o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, o objetivo é mostrar para a população o que ocorre quando a taxa de juros aumenta ou diminui.

"Quantos sabem o que representa 1 ponto percentual nos juros? Além disso, o objetivo é haver mais conscientização por parte da sociedade, e talvez lembrar as pessoas do BC que aqueles valores são muito elevados", afirmou Skaf. A Fiesp está construindo paineis do Jurômetro para serem colocados diante da sede da instituição, na avenida Paulista em SP, e próximo ao BC em Brasilia.

Agiotagem

A Fiesp acredita que se a Selic for mantida em 11,5% até o fim do ano serão pagos pelo governo R$ 240 bilhões em juros da dívida pública. A média de juros reais no mundo é de 0,04%, enquanto no Brasil é quase de 6%, segundo a entidade. Ou seja, pagamos juros de agiota.

O Comitê de Política Monetária (Copom) iniciou nesta terça-feira à tarde e termina hoje a última reunião de 2011. A expectativa dos analistas financeiros da iniciativa privada é de redução de 0,5%, o que reduziria a Selic a 11% ao ano. Ainda assim o Brasil continuaria pagando os mais altos juros reais do mundo.

Uma redistribuição perversa da renda

O que se dá na prática é uma escandalosa redistribuição de riquezas que o Estado recolhe de toda sociedade para um reduzido grupo de credores. A DRU (Desvinculação das Receitas da União) viabiliza o negócio que beneficia os rentistas, possibilitando o desvio de recursos que a Constituição destina à saúde e outras áreas essenciais. O chamado superávit primário, que neste ano deve ultrapassar a casa dos R$ 100 bilhões, é o realizado precisamente para garantir o pagamento dos juros.

Além de prejudicar a saúde e educação do povo, a agiotagem praticada com dinheiro público impede o Brasil de crescer a taxas mais altas, como fazem a China e Argentina, entre outros, uma vez que quase todo o superávit primário é feito à custa dos investimentos públicos, como mostra recente estudo do Ipea, e o dinheiro pago aos credores geralmente não é reciclado para atividades produtivas.

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