22.1.11
Por Renato Rabelo, em seu blog http://renatorabelobr.blogspot.com/
Não é mais suficiente ficarmos numa grita única condenando aumentos sucessivos da taxa de juros. Infelizmente, as coisas passam a ter caráter anticientífico, de bem (“combate à inflação”) contra o mal (aumento de salário mínimo, “estouro da previdência”, “farra de gastos” etc).
O que piora o quadro é o fato de a repetição de ações humanas (utilização do ferramental dos juros contra a inflação, por exemplo) ter-se transformado em lei quase objetiva do sistema. Num quadro desses, uma das únicas soluções é partirmos para o acirrado e necessário debate e combate de ideias.
Vejamos alguns exemplos. Impera uma “verdade estabelecida” de que o aumento do salário mínimo redundaria numa onda de pressão inflacionária. Ou mesmo a lógica pobre de que “crescimento gera inflação”. Qualquer análise que se baseie puramente na fotografia do presente irá corroborar essa tese.
Por outro lado, sabendo-se que a elevação da demanda dá-se em velocidade maior que a oferta e que somente no médio e longo prazos é que essa relação entre oferta e demanda tende a se estabilizar é que teremos condições de advogar – com base em ciência histórica – a necessidade de se enfrentar o tal problema da inflação não a partir de ilações conjunturais e sim como parte de um todo que envolve o alargamento da base de oferta partindo do pressuposto do aumento da taxa de investimentos com relação ao PIB.
Eis o “x” do problema: a lógica da governança brasileira, principalmente, a partir da década de 1990 passou a ser o exercício de busca de objetivos imediatos, sendo o principal deles o do “combate à inflação”. Daí o senso comum a-histórico (qual país do mundo prosperou sob políticas macroeconômicas como a praticada no Brasil? Como advogar o “corte de gastos” com uma crescente dívida interna?) estabelecido atualmente na discussão econômica.
Existe toda uma problemática ideológica que nasce no velho debate do agrarismo x industrialismo, porém na medida em que a indústria nacional passou a ser uma conservadora realidade, o nível deste debate atingiu outro nível: ou se continuaria o esforço industrializante iniciado com Revolução de 1930 sob o pressuposto da criação de um sistema financeiro como base material a continuidade deste mesmo processo ou nos remeteríamos a uma inserção externa subalterna baseada na velha ladainha da inexistência de poupança interna (daí a taxa de juros como forma de atrair poupança externa).
Os antigos agraristas passaram a se vestir sob o traje “modernizante” dos ditos monetaristas com a missão divina de corrigir os “imensos erros” cometidos em quase 60 anos de história da industrialização brasileira.
Devemos nos pautar pela fuga a esta “armadilha da análise conjuntural”. Neste contexto, podemos questionar e debater sobre a possibilidade de um país urbano-industrial como o Brasil se contentar em ocupar seu lugar na divisão social do trabalho com exportações de commodities e importações de máquinas e equipamentos.
Podemos questionar como essa orientação posta vai ser suficiente para o crescente gargalo infraestrutural. Podemos o devemos questionar qual o futuro de nossa juventude em um país cuja desindustrialização é algo passível de se tornar fenômeno objetivo e onde o setor de serviços não cresce nas áreas ditas “tecnológicas” e sim onde os baixos salários são os mais reprimidos possíveis.
Podemos e devemos questionar quando, de fato, o crescimento brasileiro vai deixar de ser puxado pela construção civil e serviços em prol do alavancamento dos investimentos produtivos? Vamos restringir o papel do planejamento a simples conta do orçamento anual da União ou vamos até às últimas conseqüências na utilização deste ferramental para conceber o futuro do país? Continuaremos, reacionariamente, combatendo a inflação pelo resto da vida nacional ou deixaremos de analisar a inflação como uma anomalia e sim como tudo na vida social, algo de caráter cíclico, com determinações mais estruturais do que conjunturais?
Enfim, o debate está colocado. Não se solucionará os impasses da vida econômica e social do Brasil sob parâmetros conjunturais. Temos ao nosso lado a ciência e a história de uma construção nacional única no chamado Ocidente. É momento de nosso país se encontrar consigo mesmo sob o preço de pagarmos caro por nossas opções macroeconômicas datadas do final das eleições de 1989 e do Consenso de Washington.
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