2.1.11
Artigo - Política
Fábio Farias - Jornalista
O final de 2010 foi dramático para o Rio Grande do Norte. A falência do Estado é a herança deixada pelos oito anos de governo Wilma. Os mais pessimistas dizem que a dívida estatal bate na casa dos R$ 2 bilhões. A saúde e educação tiveram desempenhos vergonhosos nos últimos oito anos. Há um inchaço de cargos comissionados no Estado que atrapalha a capacidade de investimento. Um atraso que destoa do crescimento dos outros estados do Nordeste. É nesse contexto de bancarrota que a médica Rosalba Ciarlini (DEM) assume o governo. Esperança de mudar?
Existem duas bases de comparação para analisar o futuro governo de Rosalba Ciarlini. A gestão dela como chefe do executivo de Mossoró e os seus quatro anos como senadora da república. Noves fora, deve entrar na balança a influência de personagens como José Agripino (DEM) e Garibaldi Alves (PMDB) no seu futuro governo. Um grifo nada otimista: as indicações políticas de Agripino para secretariado municipal de Micarla de Sousa (PV) têm percentual significativo de responsabilidade pela quebra financeira que afeta Natal.
Mossoró, onde a atual governadora tem com altos índices de aprovação popular, é o refúgio político e terra de onde veio a esperança que levou os eleitores a optarem pela demista no último dia três de outubro. Os principais louros do governo dela residem, principalmente, no forte desenvolvimento econômico de Mossoró e na organização municipal como um todo, fora os investimentos em áreas como cultura, por exemplo. A cidade é a principal vitrine política da governadora eleita e seu maior reduto de eleitores e apaixonados.
Um olhar mais atento, no entanto, revela que Mossoró esteve longe de ser o país das maravilhas alardeado pela campanha de Rosalba. Uma breve pesquisa no site Transparência Brasil revela sete processos por improbidade administrativa (http://www.excelencias.org.br/@candidato.php?id=13611&cs=2) movidos pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte contra a então prefeita. Um fato que passou despercebido em toda a campanha e não foi levado em consideração pelos analistas políticos da província.
Além desses processos, há outro detalhe intrigante em Mossoró. O sistema público de saúde. Apesar de ser a segunda maior cidade do Estado e contar com cerca de 300 mil habitantes, não há maternidade pública, nem hospital municipal. Rosalba administrou a cidade por três vezes e não foi capaz de resolver problemas de superlotação no Hospital Regional Tarcísio Maia e nem resolver problemas como os índices de mortalidade infantil e de mortalidade materna.
Indo da prefeitura de Mossoró para o senado – grande trampolim político da governadora – a situação torna-se ainda mais dramática. Foram quatro anos de absoluta nulidade como representante do Rio Grande do Norte. Aqui não dá para esquecer o voto de aplauso para a novela que a então senadora teve coragem de apresentar. Parte dessa nulidade pode ser explicada pela ânsia da classe política da qual a governadora faz parte em começar, desde já, uma campanha visando o executivo estadual. A insignificância frente ao senado foi tamanha que Rosalba, enquanto esteve em campanha, teve de “se virar nos 30” para mostrar algum trabalho. Isso sem falar que a atual governadora também esteve envolvida no escândalo das passagens aéreas pagas com dinheiro do senado.
Avançando um pouco na linha do tempo e analisando as indicações do secretariado é possível comemorar avanços – como foi o nome de Betânia Ramalho para educação – mas também perceber uma aura de que as coisas, talvez, não mudem muito. Afinal, temos Betinho Rosado como secretário de Agricultura e Isaura Rosado nomeada, numa ginástica política para se livrar da lei, como Secretária Extraordinária de Cultura. Nomes que refletem uma atitude nepostista por parte da governadora.
Iniciativa boa, mas tímida, foi o anúncio de que vai cortar 30% dos cargos comissionados. Bandeira essa que foi levantada durante toda a campanha pelo rival de Rosalba, Carlos Eduardo (PDT). Merece aplauso, apesar do corte ainda ser pequeno em relação ao alto número de comissionados, que dizem superar com folga a marca de duas mil pessoas. E se ela realmente pretende recuperar a capacidade de investimento do Estado, ela vai precisar cortar. E é bom que comece cortando primeiro da própria gordura do Governo, antes que necessite penalizar a população com aumento dos impostos.
O ditado diz que esperança sempre morre por último. Divergências de visões políticas à parte, todos querem ver o RN crescer e se desenvolver. Mas há ainda um fio de realidade que é mais um motivo que me faz acreditar que nada será muito diferente: Rosalba vem da mesma escola que moldou todos os ex-governadores do RN dos últimos 20 anos. Inclui aí Wilma de Faria (PSB), aluna graduada na escola Maia de fazer política. Rosalba vem de um berço que se caracteriza não por uma filosofia política ou econômica, mas por práticas ultrapassadas que deviam, a esta altura do campeonato democrático, estarem eliminadas.
Realismo – ou seria pessimismo? – à parte, não dá para prever com exatidão os próximos quatro anos. O que se sabe é que Rosalba governa com a Assembléia Legislativa e a imprensa local do lado dela. A faca e o queijo para promover as mudanças que o Rio Grande do Norte precisa. É claro que ela necessita de tempo, mas é preciso que o cidadão fique atento e fiscalize, cobre dela essas mudanças prometidas. Isso para que cheguemos em 2014 mais perto de um mar de rosas do que de um naufrágio melancólico com ares de filme repetido.
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