30.1.11
Fábio Farias - jornalista
O jornalista e escritor norte-americano, Malcom Gladwell, publicou em outubro do ano passado, na revista New Yorker, o artigo: “A Revolução não será tuitada” (disponível, em tradução, aqui). Gladwell defende que as redes sociais não são capazes de criar vínculos fortes entre ativistas para que, a partir daí, seja possível uma mudança de governo, de leis, de valores.
Para embasar a tese, o jornalista usou o ativismo cibernético que ocorreu nas eleições do Irã, em 2009. Malcom observa que, no país oriental, apesar do uso massivo da internet, não foi ela que levou o povo às ruas. Estimativas, segundo ele, mostram que a maior parte dos ‘tweets’ foram originados no ocidente. A influência foi pequena. O governo não caiu.
Como comparação, o norte-americano lembrou a militância e o ativismo em prol dos direitos dos negros nos Estados Unidos. Malcom está certo que, para o ativismo de alto risco, é necessário um vínculo forte entre as pessoas e uma boa organização hierárquica. Facebook, Twitter, blogs, segundo ele, não conseguem criar esse tipo de vínculo e nem possuem tal organização. É fácil, em casa, escrever contra um governo em um blog. Difícil é ir para as ruas, colocar a vida em risco.
O ano de 2011 começou com dois exemplos interessantes. Os protestos que terminaram com derrubada do ditador da Tunísia, Zine Al-Abidine Ben Al, e a atual movimentação política que pede o fim do governo do presidente egípcio Hosni Mubarak, no poder há 30 anos. Ambos têm em comum a disseminação de informação e a organização de protestos via mídias sociais, aliada à insatisfação popular com as ditaduras e às más condições econômicas dos países. Ambos, também, têm jovens usuários da internet entre os principais ativistas.
Uma medida draconiana usada no caso egípcio aqueceu as discussões sobre o papel das mídias sociais no ativismo político. No dia 28 de janeiro, em pleno caos, o presidente Mubarak bloqueou todas as conexões para a internet. Os celulares também deixaram de funcionar. Se o ciberativismo não tem tanto potencial, por que o governo tomou uma medida dessas? Ou as mídias sociais, de fato, podem gerar uma revolução? Essa é a questão que estudiosos e observadores do fenômeno internet fazem nesse momento.
Para uma análise mais profunda, é preciso entender o papel da informação nesses dois levantes no mundo árabe. No caso tunisiano, não foram, apenas, as más condições pelas quais o país africano passa que levou a população para as ruas. O estopim para as movimentações políticas foi a informação, divulgada via Wikileaks, de corrupção por parte do governo. A difusão da informação, pela internet, e a sua massificação em um país onde o acesso à rede mundial atinge milhares de pessoas jogou a lenha na fogueira. Não demorou e o povo estava nas ruas.
Não foi o Twitter, nem o Facebook os responsáveis pelos protestos. Eles exerceram o papel de difusor da informação, de mediação. Levaram a informação de um ponto a outro, encontraram pessoas com as mesmas insatisfações, mediaram as relações. A organização ativista, a partir daí, ganhou fôlego. As pessoas criaram vínculos fortes, foram às ruas. Muitos morreram. O governo caiu.
O caso egípcio é influenciado pelo tunisiano. Os dois países tinham, em comum, governos ditatoriais, economias fracas e denúncias de corrupção. O sucesso na Tunísia influenciou os jovens egípcios a se organizarem para ir às ruas. A informação foi repassada rapidamente via mídias sociais. Elas atingiram milhares de pessoas. A reação violenta instigou ainda mais a população. O Egito, hoje, vive momento de mudança política. O presidente é obrigado a prestar declarações, mudar o governo.
Gladwell é coerente e correto na maior parte das suas considerações sobre a internet e a utopia que a ronda. Mas esquece, no entanto, o papel fundamental que elas têm na difusão das informações. O Twitter nunca será o responsável por derrubar um governo. Ele pode, no entanto, difundir informações que influenciem pessoas para o ativismo e, a partir daí, mudanças importantes serem feitas.
A mesma relação pode ser feita tomando as mídias tradicionais. Jornais não derrubam governos, mas podem divulgar informações que ajudem a derrubá-los. Considerar que a mídia (qualquer que seja) é capaz de fazer uma revolução é arrogante e simplista. Reitero: a informação e seu livre-fluxo é que faz revoluções. O presidente egípcio bloqueou o acesso a internet porque ela difundia informações, instigava pessoas. Em outros tempos – ou outros países – o governo teria mandado fechar os jornais, calar a imprensa.
Não há porque diminuir o papel das mídias sociais como importantes difusores de notícias. Os tempos são outros. A relação mídia/cidadão mudou. Isso não implica na diminuição da importância dos meios tradicionais. Os jornais, inclusive, se usarem a internet a seu favor, podem crescer em importância, atingir mais pessoas, influenciar outros leitores, melhorar a sociedade em que estão inseridos. Internet, jornal impresso, televisão são mídias que se complementam. Não são concorrentes.
O resultado disso tudo é a abertura, mundial, para um regime onde o fluxo de informações é mais facilmente repassado. A famosa aldeia global. Com isso, a fiscalização do poder, em países onde a corrupção e as más condições econômicas reinam, torna-se mais freqüente. O mundo está mais atento. Ciber-utopia, ou ciber-ceticismo de lado, uma coisa é fato: a tecnologia da informação mudou as relações sociais de forma irreversível.
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