CALANGOTANGO não é um blog do mundo virtual. Não é uma opinião, uma personalidade ou uma pessoa. É a diversidade de idéias e mãos que se juntam para fazer cidadania com seriedade e alegria.

Sávio Ximenes Hackradt

14.11.11


“Coisas da vida” por @LeideFranco*

Nessa cidade, noite de sexta dentro de novembro

Querido Você,

Essa é uma carta sem conclusão. Como bem você sabe, teve início em outra primavera como essa. Era um rabisco que se vivificou, tornou poesia alegre, fez revolução com discurso simples e depois caiu morto na inanição das linhas tortas dos sentimentos. Não. Calma. Espere! Na verdade estou iludindo você, Você e o meu caro leitor também, porque lembrando melhor, não é correto escrever carta sem fim, portanto não morreu.
Como toda carta, essa tem um destinatário, deveria ser só para você, Você, mas resolvi deixar sem cola, aberta. É para Você que me faz sentir como aquele ladrão de sobras inúteis, ou como aquele que rouba somente pelo bel-prazer de levar nos braços coisas proibidas. É para você, Você. Você que olha dentro dos meus olhos escuros e não sabe expressar o mínimo sequer do muito que quer dizer. Você monossilábico. Você esse avesso da prolixidade. Você que cala enquanto as palavras tentam explodir. Você que arranca confissões dos meus lábios e joga na minha cara limpa o tamanho da minha incompetência na simples missão de fingir que você sem menos, com mais deixou de existir.
Essa carta inconclusiva é para Você que aponta os restos que ficaram, digo as sobras, ou melhor, aquilo que não se gastou de todo o junto que fomos e faz com que eu enxergue esse mal acabado como se fosse uma cicatriz marcando o lado direito do meu rosto. Esse corte insarável, que escorre saudade por dentro, que sangra e não estanca. Ferida inoperável. É para Você que invade a minha consciência imbecil, insana e monumentalmente vazia de outra coisa que não seja Você.
Corro sem sair do lugar por entrelinhas para chegar ao fim de tudo. Inútil.
Eu cárcere privada. Eu tudo e nada. Nada mais que introdução, desenvolvimento sem conclusão. Eu nada e tudo. Tudo metade desse inteiro. Eu inércia. Estátua de carne e osso. Eu incapaz.
Incompleta, termino sem findar. Preciso encerrar, mas como se só termina quando chega ao fim? É isso que me acaba...

@Leide Franco*
Comunicadora com pretensões literárias; 
Um pouco de filosofia e reflexões cotidianas; 
Um muito de MPB
E quase nada do que ainda quero ser. 
Escreve todas as segundas-feiras.

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