CALANGOTANGO não é um blog do mundo virtual. Não é uma opinião, uma personalidade ou uma pessoa. É a diversidade de idéias e mãos que se juntam para fazer cidadania com seriedade e alegria.

Sávio Ximenes Hackradt

1.10.11


*Artigo de Louise Marinho
Montaram uma arena no descampado que é a vista da janela do meu quarto, da sala também dá pra ver. Essa arena, através dos cartazes espalhados pela cidade, sempre soube que serviria de matadouro, de palco para a chamada ‘tourada’. Sempre com repudio e compaixão ‘esperei’ a data da tal ação, para estar longe de casa, ou de janelas bem fechadas.
Estava dormindo, fazendo minha siesta, quando acordo com trompetes, tambores e palmas. Deduzo  que seja a tal matança. Existe uma banda tocando uma música funérea, ou o que era pra ser um alegro, não sei. Nunca ouvi musica mais triste, nunca ouvi algo mais sombrio. Eram os instrumentos e os aplausos, aquela velha mistura que por tantas vezes nos embalaram em danças, pensamentos... Como aquilo pode ser também algo tão negro e pesado? Logo se ouvem vozes, muitas vozes, risadas e mais aplausos. E o trompete ressoando. Isso se segue por pouco mais de 20 minutos. A tourada é rápida, menos pomposa do que imaginava.
Ainda deitada, imagino esses homens e mulheres, os carrascos e algozes, como um grande e nojento homem, como um pedófilo molestando ‘sua criança’, como também aqueles que por pura `não sei o que` assistiam/assistem a torturas e execuções de pessoas. 
Quando me levanto e finalmente olho pela janela, vejo três homens tradicionalmente vestidos, dos sapatos ao ego, saindo acompanhados por mais dois, não tão bem vestidos, mas também imundos. A platéia vai ao delírio, são gritos e palmas (que remexem tudo aqui por dentro) para os matadores, para a tal cultura. Eles erguem chapéus e lenços brancos o touro continua na arena, se debatendo. A cada movimento novos gritos e palmas. O asco e o horror já são tão fortes no meu peito, que escapa e chega ao meu rosto. A Dani, minha colega, já chegou a garganta, ela grita, xinga. Me valho dela, em mim o silêncio continua, a tristeza aumenta. Nunca imaginei que fosse tanto o que eu já imanava muito. O touro morreu, as pessoas vão saindo. Claro, ainda gritando e rindo alto, como as bruxas dos contos de fadas. Logo uma música altíssima, um regaton, começa a tocar, e passou, acabou o show de hoje.
Pra mim o espetáculo continua, estou de luto, mas saio de branco, a minha luta é pela vida, paz.
*Louise Marinho, 21 anos, de Natal, estudante, está na Espanha para cursar um semestre do curso de Publicidade e Propaganda. Foi chamada pra falar um pouco das suas impressões e vivências madrilenas por aqui, no Calangotango. Mas avisa que “na Comunicação Social sou apenas uma estudante, aspirante a redatora”.
Quanto as suas outras qualificações, habilidades e virtudes, querendo saber, procurem no louisemarinho@hotmail.com
Bem, divirtam-se com a Louise aqui no Calangotango.
Ela estará por aqui duas vezes por mês.

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