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Sávio Ximenes Hackradt

25.12.10

Mercado norte-americano lança a caixa Studies of Tom Zé, com quatro discos de vinil remasterizados, e revê carreira do baiano de 1975 a 2008

Jotabê Medeiros - O Estado de S.Paulo

A amor de Zé pelos paradoxos insolúveis. A frase é do ensaísta americano Christopher Dunn, professor da Tulane University, em New Orleans, nas notas de encarte da caixa Studies of Tom Zé - Explaining Things So I Can Confuse You, lançada pela Luaka Bop nos Estados Unidos (US$ 70).

Dunn usou a expressão para se referir às músicas de Estudando o Samba, um dos quatro álbuns em vinil remasterizados contidos no material. Editada criteriosamente e com notável apuro crítico, a caixa é um bê-á-bá da carreira do baiano, remontando sua trajetória entre os anos de 1975 e 2008. Não é um balanço da carreira porque Tom Zé é uma obra em progresso, nesse momento deve estar escarafunchando em algo que nos projete novamente no futuro.

Além dos discos de vinil, raridades que qualquer amante da música brasileira disputará com sofreguidão, há um CD com conversas entre Tom Zé, David Byrne (Talking Heads e cabeça falante do selo Luaka Bop) e Arto Lindsay, papos levados no inverno de 1993 - era do início da ressurreição de Tom Zé.

Tom Zé é um dínamo da música, e seu reconhecimento internacional tardio ainda assombra. O mesmo Christopher Dunn disse ao Estado, no ano passado, ao lançar seu livro Brutalidade Jardim (Editora da Unesp) que o fato de músicos famosos dos Estados Unidos e Europa reconhecerem tardiamente algumas sonoridades tropicalistas e pós-tropicalistas aconteceu porque isso tinha a ver com seus próprios projetos musicais. É o caso, por exemplo, da imediata empatia entre Tom Zé e a banda Tortoise, também experimentalista.

Fazer uma trilogia de álbuns sobre gêneros musicais não era uma ideia original de Tom Zé. Para Dunn, seu retorno a Estudando o Samba (1975) com os discos Estudando o Pagode (2005) e Estudando a Bossa (2008) foi mais uma forma de examinar o próprio significado do álbum pioneiro em sua própria perspectiva da música.

"Não sou gênio de nada. Sou um dos mais simplórios dos invencionistas", diz Tom Zé. Basta ler a análise que Dunn faz dos seus álbuns que já dá para desconfiar dessa afirmação plena de humildade. "Suas canções escrachadas e resolutas embalam subnarrativas de teoria musical, ondas intelectuais e disputas filosóficas", escreveu Ben Ratliff no New York Times sobre o material.

Seu experimentalismo, aliado a arranjos complexos (que podem soar frugais ao desavisado), não é coisa de amador, decisivamente. "Logo cedo percebi minha incapacidade de trabalhar naquilo que hoje se chama mainstream, na coisa tradicional, bem-feita, bonita", disse Tom ao Estado, há algum tempo. "Aí me dirigi para um extremo onde você está quase no ridículo e às vezes até no razoável. Então trabalho ali entre o som e o ruído, e no começo ninguém dizia que o que eu fazia era música. Era apenas alguma coisa que se escutava. Só passou a ser chamada de música quando fiz aquela experiência radicalmente suicida. Foi quando fui participar do programa Escada para o Sucesso e fiz uma música chamada Rampa para o Fracasso."

O "jornalismo cantado" de Tom tem a ironia e o humor como armas, e um radar constantemente apontado para o novo. Instado a falar sobre a falta de senso revolucionário na música de hoje, ele se apressa a demolir a afirmação: "O violão solitário e multiplicado em timbres de Lucas Santtana é um enfrentamento. Tatit e o Grupo Rumo se despediram - mas é mentira. A plena explosão de (Fernanda) Takai ainda treme chão. Os arietes de Zélia, de Salmaso, de Jussara, ainda derrubam castelos. A internetada de Mallu ainda vence gravadoras. Todas essas cantoras novas, Aydar, Andréa Dias, Márcia Castro, De La Riva, Anelis, esse batalhão de romper cerca, ainda promete. Há tantas outras coisas, Acho que a década foi satisfatoriamente revolucionária."

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