21.1.13
Postado por
Sávio Hackradt
Mais de 70% dos 7,2 milhões de
empregados domésticos no Brasil são informais. Além disso, 9 em cada 10
trabalhadores são mulheres e o salário médio da categoria é de apenas R$489,00
por 36,8 horas semanais. As informações fazem parte de estudo publicado na
semana passada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Fonte: Repórter Brasil
Os dados refletem a preocupação da
entidade, para a qual as principais discussões sobre o trabalho doméstico no
mundo devem ter como eixo garantias legais de salário mínimo, tempo de trabalho
e direitos das gestantes. Isso porque somente 10% dos empregados domésticos de
todo o mundo estão cobertos pela mesma legislação trabalhista aplicável às
outras profissões, enquanto quase um terço do total (29,9%) trabalha em países
que os excluem completamente desse âmbito. Os empregados domésticos brasileiros
fazem parte dos 60% restantes, de trabalhadores que possuem apenas parte dos
direitos garantidos a profissionais de outros setores.
Legislação trabalhista
Segundo o estudo, “estender o
alcance das leis trabalhistas é um meio de trazer os empregados domésticos à
economia formal”. Em todo o mundo, existem poucas organizações efetivas, como
sindicatos ou cooperativas, que possibilitem uma negociação coletiva dessa
categoria, o que torna esses trabalhadores muito vulneráveis a práticas
abusivas de emprego, já que individualmente eles têm pouco poder de negociação
com seus empregadores. Historicamente, isso tem sido reforçado por uma relação
paternalista ainda bastante presente do empregador com seu funcionário, mais do
que direitos e obrigações claramente definidos.
A OIT também constatou que a
região da América Latina e Caribe teve um crescimento “particularmente rápido”
nesse setor, que passou de 10,4 milhões de trabalhadores domésticos em 1995
para 19,6 milhões em 2010, o que equivale a 11,9% de todo o trabalho
assalariado da região. Isso, segundo o relatório, acontece devido a
“extraordinários” níveis de desigualdade salarial: “os lares no topo da
distribuição [salarial] têm os recursos para empregar trabalhadores domésticos,
enquanto os trabalhadores na base estão dispostos a aceitar trabalhos em
serviços domésticos, mesmo se os níveis de remuneração e proteção social forem
baixos”, diz o estudo
Salário mínimo
No Brasil, menos de 30% dos
trabalhadores domésticos possuem carteira assinada e a remuneração média em
2008 era de R$489, o que representa apenas 41,1% da média salarial de todos os
profissionais no país. Apesar disso, o relatório vê como bem sucedida para a
categoria a política de aumentos de salário acima da inflação promovida desde
pelo governo desde 2003, quando a remuneração média era de R$333 (em valores
corrigidos). A diferença corresponde a um aumento real de 47% do poder de
compra desse setor, mais do que os 20% da média das outras profissões. Isso,
segundo o estudo, aconteceu porque quase metade (46,4%) de todos os empregados
domésticos recebiam em 2008 um salário mínimo. Em comparação, 15,5% dos
trabalhadores de outras categorias recebiam o mesmo valor.
O estudo também esclarece a
importância do salário mínimo como nível de negociação nas relações do mercado
informal de trabalho, ao constatar que 15,3% dos trabalhadores domésticos no
Brasil não registrados recebiam em 2008 exatamente um salário mínimo
Convenção 189
O relatório conclui reforçando a
necessidade, em todo o mundo, da ratificação da convenção 189 da OIT, que busca
a equiparação dos direitos dos empregados domésticos aos dos demais
trabalhadores. Apesar dos representantes brasileiros na OIT terem assinado pela
adoção da convenção na Conferência Internacional do Trabalho em 2011, o
Congresso Nacional ainda precisa discuti-la antes que possa ser ratificada
PEC das Domésticas
Outro projeto com propósitos
similares é a Proposta de Emenda à Constituição 478/10, conhecida por “PEC das
Domésticas”. A proposta busca alterar o artigo 7º da Constituição Federal e
incluir diversos direitos já garantidos aos demais profissionais para os
empregados domésticos, como a jornada de trabalho de 44 horas, o
seguro-desemprego e o FGTS. Ela já foi aprovada em dois turnos pela Câmara dos
Deputados e agora segue para o Senado, onde também deve ser aprovada em dois
turnos. Se não houver modificações, será enviada para a presidenta Dilma
sancionar.
Críticos da medida, questionam sua
viabilidade e têm defendido que, para evitar demissões e aumento da
informalidade, a PEC deveria ser acompanhada de outras medidas, como subsídios
do governo no pagamento do INSS dos empregados e a possibilidade aos patrões de
não pagarem a multa por quebra de contrato. Em outras palavras, os encargos
trabalhistas de empregados privados seriam custeados com dinheiro público. A
proposta de subsídios governamentais têm sido criticada pelos próprios
representantes dos trabalhadores, que consideram exagerada a preocupação em
relação ao aumento da informalidade.
Creuza Oliveira, presidenta da
Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), discorda, por
exemplo, que a aprovação da PEC possa levar a demissões: “O que o patrão vai
contribuir a mais é algo pequeno, de 8% a mais, referente ao FGTS”. “Os
empregadores estão acostumados a ter trabalhadores na sua casa, mas na hora de
cumprir as obrigações, não querem fazê-lo”, diz. Ela acredita que a aprovação
da proposta é “um caminho para a igualdade dos direitos, mas isso não resolve o
problema porque, no Brasil, nem sempre a aprovação de leis significa que elas
serão cumpridas”.
A relatora da PEC 478/10, deputada
federal Benedita da Silva (PT-RJ), argumenta que os empregadores deverão
aceitar a nova regulamentação, ou então outros setores do mercado irão absorver
esses trabalhadores. Ainda segundo ela, diversos ministérios e secretarias do
governo estão estudando possíveis reduções nos encargos trabalhistas. Para
Benedita da Silva, a PEC das Domésticas é significativa: “Quando a convenção
189 for ratificada, o Brasil já estará um passo a frente em termos de direitos
do trabalhador”.
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