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Sávio Ximenes Hackradt

27.7.11


Perigosamente perto do dia 2 de agosto, data em que o governo americano não terá mais condições de pagar seus compromissos sem autorização para elevar sua dívida, um clima de tensão e expectativa se instala nos mercados globais. Os investidores não apostam no pior cenário - um calote prolongado -, mas começaram a se mover em busca de proteção.
Fonte: Valor
O franco suíço foi a moeda escolhida na "fuga para a qualidade", papel antes reservado ao dólar, e segunda-feira atingiu cotação recorde ante a moeda americana. O ouro teve seu maior valor nominal ontem: US$ 1.622,49 a onça. As bolsas flertaram com a baixa durante todo o dia e as americanas tiveram queda discreta. As margens para operar com títulos do Tesouro no mercado futuro americano aumentaram e os rendimentos desses papéis ensaiaram movimento de alta.
Advertência do FMI
Enquanto democratas e republicanos ultrapassam todos os prazos razoáveis para chegar a um acordo para elevar a dívida de US$ 14,3 trilhões e o Tesouro avalia as alternativas já não tão distantes de ficar sem dinheiro, o Fundo Monetário Internacional advertiu os EUA a colocar logo um ponto final na questão. Em relatório, o FMI advertiu que a desconfiança sobre a capacidade de pagamento do país, que vai além da atual disputa no Congresso, poderia causar uma recessão interna séria e consequências danosas para a economia mundial. No pior cenário, a economia americana contrairia 5% e o resto do mundo, entre 3% e 4%.
O calendário eleitoral explica boa parte do radicalismo republicano nas discussões para elevar o teto da dívida. A proposta do partido, que pode ir a votação em dois dias, prevê o aumento gradual do limite em US$ 1 trilhão agora e US$ 1,6 trilhão em alguns meses, com fortes cortes de despesas. O presidente Barack Obama e os democratas se opõem a esse salvamento a conta-gotas que os deixaria reféns de nova autorização em 2012, quando Obama tentará se reeleger. Os democratas propõem corte de US$ 2,7 trilhões e elevação do limite da dívida de US$ 2,4 trilhões, o suficiente para atravessar o período eleitoral. À noite, em cadeia de TV, Obama culpou os republicanos que só insistem em cortes pelo impasse e fez novo apelo ao entendimento.

Uma sombra sobre os mercados
O temor dos investidores diante do impasse nos EUA quanto ao aumento do limite de endividamento federal cresceu ontem, à medida que líderes políticos americanos continuam defendendo soluções conflitantes para evitar um possível calote da dívida em agosto.
A ausência de sinais públicos de progresso na solução do impasse sobre o teto da dívida emitidos pelos partidos Republicano e Democrata lançou uma sombra sobre os mercados em todo o mundo, tendo os investidores frustrados abraçado ainda mais ativos seguros.
Dólar em queda
O dólar caiu para um mínimo histórico contra o franco suíço, ao passo que o ouro teve uma alta recorde. Títulos do Tesouro dos EUA com longos prazos de vencimento perderam valor, ao passo que em todo o mundo as bolsas de valores permaneceram sob pressão.
"O temor de uma possível ruptura da negociação sobre o teto da dívida está visivelmente contaminando os mercados", disse David Rosenberg, economista-chefe da Gluskin Sheff & Associates.
Propostas conflitantes
O Fundo Monetário Internacional (FMI) reiterou que os EUA precisam elevar o teto de endividamento rapidamente, pois uma perda de confiança na dívida soberana americana teria efeitos graves para o resto do mundo.
Os líderes republicanos na Câmara dos Deputados e líderes democratas no Senado estavam trabalhando em propostas conflitantes para elevar o teto de endividamento de 14,3 trilhões e controlar os futuros déficits americanos. Não ficou claro se as duas podem ser harmonizadas em tempo suficiente para que o Congresso vote sobre a legislação antes de 2 de agosto, data após a qual os EUA poderão deixar de honrar sua dívida e outras obrigações.
Republicanos e democratas
Os republicanos querem elevar o limite da dívida em etapas, inicialmente apenas até o início de 2012, seguida por uma reforma mais abrangente dos gastos no longo prazo. Os democratas e a Casa Branca têm se oposto inflexivelmente a um aumento do limite de endividamento de curto prazo e querem uma solução que vigore além das eleições presidenciais de novembro do ano que vem.
O plano do presidente da Câmara, John Boehner - em duas etapas -, limitar-se-ia a elevar o limite de endividamento dos EUA em até US$ 1 trilhão, e posteriormente em US$ 1,6 trilhão, de acordo com assessores republicanos citado pela Bloomberg. O plano exigiria US$ 1,2 trilhão em cortes de gastos na primeira fase e US$ 1,8 trilhão na segunda, disseram assessores.
Harry Reid, líder da maioria democrata, está buscando apoio à sua própria proposta de elevação do limite de endividamento de uma só vez e, em contrapartida, redução, ao longo da próxima década, de US$ 2,7 trilhão do déficit orçamentário projetado.
Perplexidade
Nos voláteis negócios da madrugada, o rendimento dos títulos de 30 anos subiu 8 pontos base. A bolsa de Nova York fechou em queda ontem. Enquanto os EUA ficam próximos de uma possível moratória ou rebaixamento de sua avaliação de risco, a mais alta de todas, muitas das mentes mais perspicazes de Wall Street começam a traçar os planos de batalha.
Mas poucos já preparam algo de significativo. O principal motivo é que ninguém sabe exatamente o que fazer. "Se você não sabe o que vai fazer quando o evento acontecer, como é que decide como aplicar?", disse Alan De Rose, diretor executivo de operações com finanças e títulos governamentais na Oppenheimer & Co. "É uma posição muito difícil."
Aversão ao risco
Uma das dúvidas dos investidores é sobre o caminho da chamada aversão ao risco: depois de um choque como esse, os investidores vão fugir dos títulos de dívida do Tesouro americano, há muito tempo um oásis de segurança? Ou vão correr para eles, por força do hábito? Especialistas que fizeram carreira com os Treasurys têm argumentos convincentes para as duas alternativas.
"Ainda estamos tentando entender a situação", diz Mohamed El-Erian, diretor-presidente e co-diretor de investimentos da Pacific Investment Management Co., que administra o maior fundo de renda fixa do mundo. "Enxergamos isso como um risco."
Rebaixamento danoso
Na noite de domingo, El-Erian escreveu num e-mail que "está se preparando o terreno político para um acordo temporário de curto prazo" que provavelmente vai derrubar as bolsas e o dólar e deixar o grau de risco da dívida do governo americano "extremamente exposto a um rebaixamento danoso".
Numa reunião recente de um grande banco, foi perguntado aos executivos o que eles recomendariam comprar no exato momento em que o limite de endividamento não for elevado. Para cada argumento apresentado, havia um contra-argumento válido explicando por que a aplicação não seria sábia.
O clima mudou
Até há pouco tempo, os mercados financeiros insistiam em descartar as manchetes sobre o limite de endividamento, dizendo que era teatro político demais. As pessoas corriam para a segurança dos Treasurys, em meio à crise da dívida soberana da Europa, aumentando com isso o preço dos papéis, o que por sua vez reduz o rendimento deles. As bolsas continuaram subindo, graças aos lucros relativamente bons anunciados pelas empresas.
Na semana passada, enquanto os líderes em Washington continuavam brigando para encontrar maneiras de cortar o déficit enquanto se aproximava o prazo final para aumentar o teto de endividamento, o rendimento dos Treasurys mostrava que estava ficando cada vez mais sensível ao debate. O rendimento da nota de 30 anos - mais suscetível a preocupações de longo prazo sobre a posição fiscal dos EUA - foi sacudido por manchetes de possíveis acordos para elevar o teto da dívida. As bolsas oscilaram mas fecharam a semana perto do maior nível desde o início da crise financeira.
Incerteza e riscos
Alguns argumentaram que os mercados podem ter uma reação relativamente benigna a uma moratória ou ao rebaixamento da nota de crédito da dívida americana. Os investidores enfrentam há meses incerteza e riscos significativos por causa da crise da dívida europeia, das consequências do terremoto japonês e da turbulência política no Oriente Médio.
Em meio a essa cautela, o impacto das más notícias sobre o déficit do orçamento pode ser limitado a uma reação puramente instintiva, argumentam.
Alguns já fizeram algumas aplicações. Certas mesas de operações com Treasurys reduziram riscos. Fundos mútuos do mercado monetário e fundos de hedge estão mais líquidos. Associações setoriais estão começando a estudar como lidar com os problemas causados por uma possível moratória.
Fundos de hedge e outros investidores já estão na defensiva, menos alavancados e se protegendo contra o risco de o mercado cair. Isso tem prejudicado o desempenho, já que as ações subiram no primeiro semestre, mas pode suavizar o impacto de uma queda nas bolsas.
Investidores individuais têm tirado as aplicações de fundos de ações dos EUA há vários meses, sacando US$ 20 bilhões só em junho, segundo o Instituto de Empresas de Investimento.
Muitos consultores também estão evitando riscos. "Estivemos na defensiva durante a maior parte do ano" e o debate sobre o orçamento não mudou isso, disse Michael Maloon, consultor financeiro de San Ramon, na Califórnia. Entre essas aplicações defensivas estão certificados de depósito segurados e fundos de renda fixa de curto prazo. "O baixo rendimento está acabando com a gente, mas estamos mais preocupados em preserva o principal".
Para muitos, as conversas de agora sobre administração de risco lembram a montanha-russa de 2008. "Qualquer um que passou pelo terceiro trimestre de 2008 precisa entender que o sistema financeiro não é tão robusto como todos esperávamos", diz Jaret Seiberg, analista político do Grupo de Pesquisa da MF Global em Washington. "Ainda não sei o que fazer sem uma dívida americana AAA", disse ele.

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