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Sávio Ximenes Hackradt

15.4.12


Livro reúne cartas em que d. Pedro I, sua mulher e sua 'favorita' se revelam

Roberta Pennafort - O Estado de S. Paulo

Reprodução:
Mary del Priore desnuda imperatriz Leopoldina
Leopoldina amava Pedro, que amava Domitila, que amava ser sua “favorita”. O triângulo mais conhecido da história dos afetos brasileiros se revela ainda mais humano nas recentes descobertas de Mary Del Priore. Autora de mais de 30 livros de história e apaixonada pela intimidade dos personagens que nos são apresentados nos livros didáticos, a historiadora está lançando A Carne e o Sangue (Rocco, 272 págs., R$ 34,50).

Nos arquivos do Museu Imperial, em Petrópolis, ela encontrou cartas até então inéditas que revelam a miséria da piedosa imperatriz, pudica, gorda e humilhada publicamente por conta da infidelidade escandalosa do marido; a volúpia do garboso Demonão, que hoje seria tachado de viciado em sexo; o desejo de poder da graciosa e despudorada Titília, a mulher mais influente do império enquanto durou o romance, entre 1822 e 1829. 

Na corte se dizia que só havia dois tipos de pessoas no Rio de Janeiro: os que agradavam a Domitila e os que a desagradavam. Ela vendia favores com anuência do imperador, teve seus filhos bastardos reconhecidos, conseguiu títulos de nobreza e dinheiro para a família, desfilava de nariz em pé pelos teatros, igrejas e festas com as joias e roupas presenteadas pelo amante. 

O homem mais forte do reino, proclamador da Independência, chorava de saudades quando não podia vê-la. Criava versinhos infantis, enviava bilhetes acompanhados de chumaços de pelos púbicos ou do bigode, por vezes lhe escrevia duas vezes ao dia. Fez Titília sua vizinha, e mandou abrir uma portinha no palácio para encontrá-la facilmente.


Obrigou Leopoldina, supercatólica, a conviver com os ilegítimos, pôs os príncipes para brincar com eles. Logo ela que já sofria com a diferença de clima e sobriedade entre a corte austríaca e a improvisada da capital tropical do Império português.

A correspondência desvelada pela autora, afeita a fontes primárias – entre a imperatriz e a família austríaca, entre os amantes e entre diplomatas estrangeiros e seus países – estava intacta havia cerca de 180 anos. Mostra como a conduta imprópria do monarca, que teve tantas amantes que ultrapassou, segundo os registros o Arquivo Nacional, a marca de 40 filhos, acabou por torná-lo presença indesejável no Brasil. 

“Que podeis esperar de um perjuro, lacaio de estrebaria, borracho cachaceiro, sem educação e sem princípios, sem honra e sem fé?”, escreveu um opositor. “O monarca inviolável e sagrado pode bem ser um miserável cheio de vícios, (...) um devasso e adúltero”, publicou o jornal baiano O Guaicuru. 

O Português Brasileiro manchetou: “Para salvar o Brasil da ruína que vejo principiada”. O articulista falava da “mais cega paixão amorosa de Vossa Majestade Imperial com a Visondessa de Santos, mulher indigna de tal sorte por sua má conduta”.

Os estrangeiros se chocavam. “É puro Luís XIV”, apontou um observador de fora, comparando d. Pedro ao imperador francês que um século antes também escancarara seus affairs. “A imperatriz tem dissimulado a dita conexão entre seu augusto esposo e a mencionada senhora, tratando-a com amizade em público”, concluía o cônsul espanhol. 

O apetite sexual de d. Pedro – que não se contentava com a vida dupla, e ainda procurava e fazia filhos com outras amantes –, aliado ao mau desempenho do Exército Brasileiro na Guerra da Cisplatina, com a consequente perda do território do Uruguai, e a pressão das revoltas liberais, o afasta do cargo. 

“O prestígio político de d. Pedro fica tão baixo que ele passa a ser mais julgado pela sua vida privada do que sua vida pública”, avalia Mary Del Priore, que já se debruça sobre os próximos perfilados: a princesa Isabel, neta mais famosa de d. Pedro I, e seu marido, o conde D’Eu. “A análise da correspondência traz essa gente para perto da gente. Eles pulam para a contemporaneidade. Estão falando de coisas que nos interessam: amor, paixão, sexo, solidão, abandono.”R.P.

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