CALANGOTANGO não é um blog do mundo virtual. Não é uma opinião, uma personalidade ou uma pessoa. É a diversidade de idéias e mãos que se juntam para fazer cidadania com seriedade e alegria.

Sávio Ximenes Hackradt

16.4.12


Por Leide Franco (@LeideFranco)

Para quem não sabe andar na zona Norte de Natal, assim como eu, ir de ônibus a qualquer parte dessa “cidade” dentro da cidade é a forma mais eficaz e segura para não se perder pelo meio do caminho, assim penso. É nesses lugares – ônibus coletivo de pessoas que muitas coisas acontecem, principalmente porque toda ida à ZN é uma viagem.

Na última sexta-feira treze, por volta das 11h da manhã, estava eu no ônibus da linha 01B da empresa Guanabara, vindo de mais um trabalho extra redação feito no bairro de Nova Natal. Sentei em uma das últimas poltronas, perto da porta. Quando percorrido uns dez minutos do trajeto de volta pra casa, entra no ônibus uma mulher aparentemente normal, mas como disse Caetano Veloso: de perto ninguém é normal. É verdade!

Ela sentou-se justamente ao meu lado, e devido ao horário, o ônibus tinha pelo menos mais da metade das cadeiras vazias, mas ela escolheu sentar perto de mim. Da entrada até onde eu estava ela vinha conversando “sozinha”, mas pensei que era com alguém no celular, mas aí procurei os fones de ouvido com microfone por volta do seu colo e pescoço e não encontrei. Vestia blusa azul, saia rosa por cima de uma calça leg preta e sapatos pretos.

Aquela mulher aparentava não passar dos 40 anos de idade, se fosse pra arriscar, jogaria nos 34. Trazia com ela uma mala tamanho médio em cores preto com vermelho, uma atadura segurando o braço direito em tipóia e um diálogo ininterrupto. Ela conversava em voz alta naturalmente e em português claro, quero dizer, bem falado com todas as letras. Ela perguntava e “alguém” respondia em um bate-papo informal e contínuo.


No momento ela contava a “alguém” que o médico tinha dado muita bronca nela lá no hospital pelo simples fato de ela ter tirado o gesso do braço antes do tempo. “Aquilo estava queimando muito. Natal faz muito calor”, argumentava. Parecia então que “alguém” brigava com ela, assim dava para entender, e ela revidava “se fosse você, tenho certeza que faria o mesmo”, dizia chateada.

As poucas pessoas que estavam no ônibus se olhavam sem entender nada e acho que se perguntavam se ela estava falando com algum deles. Eu por algumas vezes também me perguntei isso. Juro! Mas não era mesmo comigo, tenho certeza.

Percebi que ela estava em dúvida em relação ao local exato que deveria descer. Acabou saltando em um ponto da Avenida Itapetinga, ainda na zona Norte, mas antes disso ameaçou descer umas três vezes, mas “alguém” lhe dizia que as paradas não eram aquelas, então ela voltava e sentava. “É mais lá na frente então? Tem certeza?”, perguntava insistentemente ela a “alguém” que poucos minutos depois “garantiu”, acredito eu que sua parada seria a próxima.

Ela desceu, carregando sua mala e seu braço preso pela tipóia. Virou-se para um lado, depois para o outro, incerta de onde estava. Continuou conversando com “alguém” que supostamente lhe apontava a direção que ela deveria seguir, e concordado ela apontava também e fazia gestos de que sabia onde estava e para onde ia. De repente largou a mala e saiu andando na direção indicada por “alguém”, quando percebeu que “alguém” não teria carregado cavalheiramente a mala e caminhado junto com ela, pareceu chateada. Assim, ela teve que voltar alguns passos, xingar “alguém” e sair esbaforida, brigando alto com esse “alguém”.

Perguntas dessa que lhes escreve: Até que ponto estamos sozinhos? Até que ponto estamos acompanhados no meio da multidão?

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