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Sávio Ximenes Hackradt

26.4.12


A dupla jornada de adolescentes aprendizes causa alterações na vida e na saúde dos adolescentes, como perda ou ganho excessivo de peso, sonolência e, principalmente, diminuição da capacidade de manter a atenção e queda no desempenho escolar.

Por Mariana Melo, da USP*

O estudo Percepção de jovens aprendizes e estagiários sobre condições de trabalho, escola e saúde após o ingresso no trabalho aponta as principais alterações no cotidiano e na saúde de jovens empregados por meio da Lei da Aprendizagem e também pelo capítulo V do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990).

Trabalho pela manhã e estudos à noite

A psicóloga Andréa Aparecida da Luz realizou a pesquisa, entre 2008 e 2010, sob orientação da professora Frida Marina Fischer, do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. A pesquisa de mestrado recebeu o prêmio “First Place Student Poster Award” no Congresso Internacional “30th Congress of the International Commission on Occupational Health ICOH 2012”, no qual trabalhos envolvendo Saúde Ocupacional foram avaliados por um júri em Cancún, no México, nos dias 18 a 23 de março deste ano.

O estudo foi aplicado em uma Organização não Governamental (ONG) na zona sul de São Paulo. Nesta ONG, jovens dos bairros vizinhos inscrevem-se para receber aulas preparatórias e trabalhar em empresas parceiras. Estas procuram a ONG para incorporar mão-de-obra e se adequar à Lei nº 10.097, de 19 de dezembro de 2000 e ao Decreto nº 5.598, de 1º de dezembro de 2005, os quais propõem que no mínimo 5% e no máximo 15% do quadro de funcionários de uma empresa que seja composto por jovens aprendizes.


Andréa submeteu a questionários e entrevistas 40 jovens entre 14 e 20 anos inscritos na ONG. Mesmo após começarem a trabalhar, eles continuam frequentando aulas de capacitação, uma vez por semana como aprendiz, ou uma vez por mês como estagiário. Na investigação, levantou-se dados demográficos e socioeconômicos, além de perguntas sobre saúde e impressões de antes e depois do início da vida profissional. Todos já trabalhavam há pelo menos seis meses, no turno diurno, totalizando uma jornada de 40 horas semanais entre trabalho e acompanhamento na ONG. Além disso, mantinham os estudos à noite.

Relatos

Os relatos descreviam abusos no trabalho, como cumprir as mesmas metas e cotas que os funcionários com capacitação técnica, ou substituir cargos de chefia na ausência de supervisores. Entre os entrevistados, apenas um disse ter recebido treinamento específico para as atividades que desenvolveria.

Mesmo com os problemas apontados, a maioria dos participantes não queria deixar o emprego. Com um salário, eles têm maiores possibilidades de custear um curso universitário. Alguns, diz Andréa, chegavam a contribuir com 65% da renda familiar, além de alcançar um poder de consumo maior. Para outros, conforme os depoimentos, o reconhecimento da sua identidade só foi atingido depois que começaram a trabalhar. Frases como “Não sou mais vagabundo, sou trabalhador” ou “Agora as pessoas me enxergam, elas vem me vender as coisas” foram proferidas durante as entrevistas.

Segundo Andréa, ao anunciar o vencedor durante o prêmio, um dos jurados apontou a urgência em cuidar dos recém-chegados ao ambiente laboral e destacou o fato de eles “passarem mais tempo no trabalho do que na escola”. Ela disse que, depois desta pesquisa, a ONG fez adaptações curriculares e na carga horária, para que seus estudantes aprendessem noções de segurança e saúde no trabalho e tivessem a possibilidade de dormir mais ou chegar mais cedo à escola. Para ela, é importante que aconteça esse primeiro contato com o meio trabalhista, mas é preciso atentar-se às condições em que isso ocorre. Finaliza com “Conquistas como status e poder de consumo foram apontadas pelos jovens como aspectos importantes do trabalho, mas a que preço? É o que precisamos considerar”.

Fonte: Notícias USP


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