CALANGOTANGO não é um blog do mundo virtual. Não é uma opinião, uma personalidade ou uma pessoa. É a diversidade de idéias e mãos que se juntam para fazer cidadania com seriedade e alegria.

Sávio Ximenes Hackradt

30.4.12

“COISAS DA VIDA”

Por Leide Franco* (@LeideFranco)

Quinta-feira passada, dia 26, o sol escaldante e o calor insuportável eram amenizados pela brisa que circulava Natal, próximo à mata atlântica que faz parte do espaço onde construíram o 16º Regimento de Infantaria (RI), na Hermes da Fonseca, Tirol. Essa Avenida de tráfego intenso e motoristas apressados teve o fluxo interrompido por um bicho de mais ou menos 1 metro de comprimento, de cor verde escura, quase cinza. Era uma iguana sem pressa.

O bicho saiu do RI e resolveu atravessar a rua, só ele sabia para aonde ia – ou não. Acredito que muitos carros devem ter passado por cima dele enquanto atravessava a faixa direita da pista, mas quando chegou ao meio, entre as duas faixas, a situação ficou tensa. Um celta preto freou o pneu direito a um centímetro da cabeça do bicho. A freada foi tão brusca que o motorista deve ter suado frio. Sem saída, o homem ficou lá parado dentro do carro, esperando que o pobre bicho resolvesse concluir o percurso.

A falta de ação do homem que dirigia aquele carro era proporcional à ação do bicho que não saía do canto, diferentemente dos 20 condutores que tiveram que parar atrás dele, buzinando sem fim, como se a buzina fosse abrir o caminho. Até que um motociclista resolveu parar a moto no acostamento, tirou o capacete e partiu para agarrar o pobre animal. Quando o rapaz tentou segurar o bicho pela cauda, ele escapou em uma pressa que nem parecia partir dele. Acabou se afastando o suficiente para se esconder bem debaixo do carro, longe do alcance das mãos do seu “caçador”.

Sem desistir, o motociclista fez um contorcionismo, se deitando no chão na tentativa de pegar o pobre animal, quando mais uma vez ele correu em direção à parte traseira do carro, escapando. De dentro dos carros de vidros fechados e ar condicionado gelando o calor, os motoristas, sem saber o que acontecia, buzinavam, buzinavam, buzinavam a ponto de ensurdecer qualquer pessoa, as buzinas são suas armas. Nesse meio tempo deveria ter se passado não mais que dois minutos, tempo suficiente para formar um corredor enorme de carros parados na faixa esquerda, e depois na faixa direita, já que uma das pessoas que dirigia naquela avenida, resolveu parar para ajudar o coitado do homem que tentava capturar o bicho. Aí foi que o mundo parou naquele instante...

Nunca vi um congestionamento tão grande se formar em tão pouco tempo. Nunca vi tanta gente irritada sair dos seus automóveis para saber o que estava acontecendo já que o tráfego parou daquela forma, sem mais nem menos. Nunca ouvi tanta buzinada junta em toda minha vida. Nunca tinha visto tanta gente impaciente em uma parte só. Toda a celeuma só parou quando enfim o motociclista conseguiu pegar o bicho e erguer como se fosse um troféu, sendo assim, o trânsito voltou a fluir tranquilamente. Enquanto em sua calma a iguana ganhava de volta seu habitat, o trânsito seguia cheio de pessoas furiosas quando perdem dois minutos do dia, e com eles seguia a eterna falta de paciência.

*Leide Franco - Comunicadora com pretensões literárias; 
Um pouco de filosofia e reflexões cotidianas; 
Um muito de MPB
E quase nada do que ainda quero ser.

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