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Sávio Ximenes Hackradt

23.4.12

“COISAS DA VIDA”

Por Leide Franco* (@LeideFranco)

Estou lendo “Ensaio Sobre a Cegueira” de José Saramago, um clássico que já deu origem a filme de Fernando Meirelles. Estou lendo de forma mesquinha, egoísta, poupando as páginas, para que não se acabem logo. Não tenho curiosidade de saber o fim, quero aproveitar o meio. Já estou no meio e chegar ao meio é estar perto do fim.

O livro conta a história de uma cidade que de repente começou a cegar. As pessoas uma a uma foram acometidas por um “leite branco” tapando sua visão. Tudo que elas passam a enxergar é uma névoa leitosa. O autor nos leva por esse caminho cego, não escuro, mas cego, invisto. Saramago nos carrega pelas mãos, assim como todos aqueles que perderam a visão, na história, deveriam ser carregados, mas não encontra esse braço estendido.

O enredo nos faz refletir sobre coisas que não damos a importância devida: o céu azul, a chuva fina, o dia nublado, os cabelos bagunçados pelo vento. O sorriso do menino que ganhou um pirulito, do homem que chora sua desgraça, da mãe que alimenta seu filho. Coisas da vida que não enxergamos. Estamos cegos para muitas coisas. Cegos, tapados, fingidos. Fugidos.

Esquecemos de dizer um monte de coisas. Esquecemos de enxergar muito mais. Apenas estamos vendo. Vendo passar, vendo acontecer, mas cegos. Cegos demais para observar. Estamos pensando de menos ou de muito ou nada?

Destaquei com marca texto verde vivo esse fragmento do livro:

- Por que foi que cegamos?
- Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão.
- Queres que te diga o que penso?
- Diz.
- Penso que não cegamos, penso que estamos cegos. Cegos que veem. Cegos que, vendo, não veem.

Tenho pouco pra hoje porque estou mergulhada nessa de estar vendo cegamente. Quando terminar de enxergar o livro todo, voltarei trazendo minhas impressões. Mas já deixo a recomendação da leitura. É bom para abrirmos os nossos olhos.

*Leide Franco - Comunicadora com pretensões literárias; 
Um pouco de filosofia e reflexões cotidianas; 
Um muito de MPB
E quase nada do que ainda quero ser.

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