25.6.12
Postado por
Sávio Hackradt
Um dos maiores especialistas em leitura do mundo, o
francês Roger Chartier destaca que o hábito de ler está muito além
dos livros impressos e defende que os governos têm papel importante na promoção
de uma sociedade mais leitora.
ABr: Hoje a leitura está em diferentes plataformas?
ABr: Na sua opinião, a responsabilidade de promover o hábito da leitura em uma sociedade é da escola?
ABr: Esse é um papel também dos governos?
ABr: No Brasil ainda temos quase 14 milhões de analfabetos e boa parte da população tem pouco domínio da leitura e escrita – são as pessoas consideradas analfabetas funcionais. Isso não é um entrave ao estímulo da leitura?
ABr: Na sua avaliação, a exclusão dos meios digitais poderia ser considerada uma nova forma de analfabetismo?
Amanda Cieglinski da Agência Brasil
O historiador esteve no Brasil para participar do 2º
Colóquio Internacional de Estudos Linguísticos e Literários, realizado pela
Universidade Estadual de Maringá (UEM). Em entrevista à Agência Brasil, o
professor e historiador avaliou que os meios digitais ampliam as possibilidades
de leitura, mas ressaltou que parte da sociedade ainda está excluída dessa
realidade. “O analfabetismo pode ser o radical, o funcional ou o digital”,
disse.
Agência Brasil: Uma pesquisa divulgada
recentemente indicou que o brasileiro lê em média quatro livros por ano (a
pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada pelo Instituto Pró-Livro em
abril). Podemos considerar essa quantidade grande ou pequena em relação a
outros países?
Roger Chartier: Em primeiro lugar, me parece que o
ato de ler não se trata necessariamente de ler livros. Essas pesquisas que
peguntam às pessoas se elas leem livros estão sempre ignorando que a leitura é
muito mais do que ler livros. Basta ver em todos os comportamentos da
sociedade que a leitura é uma prática fundamental e disseminada. Isso inclui a
leitura dos livros, mas muita gente diz que não lê livros e de fato
está lendo objetos impressos que poderiam ser considerados [jornais,
revistas, revistas em quadrinhos, entre outras publicações]. Não devemos ser
pessimistas, o que se deve pensar é que a prática da leitura é mais frequente,
importante e necessária do que poderia indicar uma pesquisa sobre o número de
livros lidos.
ABr: Hoje a leitura está em diferentes plataformas?
Chartier: Absolutamente, quando há a entrada no mundo
digital abre-se uma possibilidade de leitura mais importante que antes. Não
posso comparar imediatamente, mas nos últimos anos houve um recuo do número de
livros lidos, mas não necessariamente porque as pessoas estão lendo pouco. É
mais uma transformação das práticas culturais. É gente que tinha o costume de
comprar e ler muitos livros e agora talvez gaste o mesmo dinheiro com outras
formas de diversão.
ABr: A mesma pesquisa que trouxe a média de livro
lidos pelos brasileiros aponta que a população prefere outras atividade à
leitura, como ver televisão ou acessar a internet.
Chartier: Isso não seria próprio do brasileiro. Penso
que em qualquer sociedade do mundo [a pesquisa] teria o mesmo resultado. Talvez
com porcentagens diferentes. Uma pesquisa francesa do Ministério da Cultura
mostrou que houve uma redistribuição dos gastos culturais para o teatro, o
turismo, a viagem e o próprio meio digital.
ABr: Na sua avaliação, essa evolução tecnológica
da leitura do impresso para os meios digitais tem o papel de ampliar ou reduzir
o número de leitores?
Chartier: Representa uma possibilidade de leitura
mais forte do que antes. Quantas vezes nós somos obrigados a preencher
formulários para comprar algo, ler e-mails. Tudo isso está num mundo
digital que é construído pela leitura e a escrita. Mas também há fronteiras,
não se pode pensar que cada um tem um acesso imediato [ao meio digital]. É totalmente
um mundo que impõe mais leitura e escrita. Por outro lado, é um mundo onde a
leitura tradicional dos textos que são considerados livros, de ver uma obra que
tem uma coerência, uma singularidade, aqui [nos meios digitais] se confronta
com uma prática de leitura que é mais descontínua. A percepção da obra
intelectual ou estética no mundo digital é um processo muito mais complicado
porque há fragmentos e trechos de textos aparecendo na tela.
ABr: Na sua opinião, a responsabilidade de promover o hábito da leitura em uma sociedade é da escola?
Chartier: Os sociólogos mostram que, evidentemente, a
escola pode corrigir desigualdades que nascem na sociedade mesmo [para o acesso
à leitura]. Mas ao mesmo tempo a escola reflete as desigualdades de uma sociedade.
Então me parece que, também, é um desafio fundamental que as crianças possam
ter incorporados instrumentos de relação com a cultura escrita e que essa
desigualdade social deveria ser considerada e corrigida pela escola que
normalmente pode dar aos que estão desprovidos os instrumento de conhecimento
ou de compreensão da cultura escrita. É uma relação complexa entre a escola e o
mundo social. E é claro que a escola não pode fazer tudo.
ABr: Esse é um papel também dos governos?
Chartier: Os governos têm um papel múltiplo. Ele pode
ajudar por meio de campanhas de incentivo à leitura, de recursos às famílias
mais desprovidas de capital cultural e pode ajudar pela atenção ao sistema
escolar. São três maneira de interação que me parecem fundamentais.
ABr: No Brasil ainda temos quase 14 milhões de analfabetos e boa parte da população tem pouco domínio da leitura e escrita – são as pessoas consideradas analfabetas funcionais. Isso não é um entrave ao estímulo da leitura?
Chartier: É preciso diferenciar o analfabetismo
radical, que é quando a pessoa está realmente fora da possibilidade de ler e
escrever da outra forma que seria uma dificuldade para uma leitura. Há ainda
uma outra forma de analfabetismo que seria da historialidade no mundo digital,
uma nova fronteira entre os que estão dentro desse mundo e outros que, por
razões econômicas e culturais, ficam de fora. O conceito de analfabetismo pode
ser o radical, o funcional ou o digital. Cada um precisa de uma forma de
aculturação, de pedagogia e didática diferente, mas os três também são tarefas
importantes não só para os governos, mas para a sociedade inteira.
ABr: Na sua avaliação, a exclusão dos meios digitais poderia ser considerada uma nova forma de analfabetismo?
Chartier: Me parece que isso é importante e há uma
ilusão que vem de quem escreve sobre o mundo digital, porque já está nele
e pensa que a sociedade inteira está digitalizada, mas não é o caso.
Evidente há muitos obstáculos e fronteiras para entrar nesse mundo.
Começando pela própria compra dos instrumentos e terminando com a capacidade de
fazer um bom uso dessas novas técnicas. Essa é uma outra tarefa dada à escola
de permitir a aprendizagem dessa nova técnica, mas não somente de aprender a
ler e escrever, mas como fazer isso na tela do computador.
Estação Música Total
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