2.4.12
Postado por
Sávio Hackradt
A
cada ano, quando chega a época da Cúpula Presidencial do Brics - a 4ª edição
acaba de terminar em Nova Delhi - torna-se cada vez mais evidente, para o
observador atento, o patético esforço da mídia "ocidental" (entre ela
boa parte da nossa própria imprensa) de desconstruir a imagem de uma aliança
geopólítica que reúne quatro das cinco maiores nações do planeta em território,
recursos naturais e população e que está destinada a modificar a o equilíbrio
de poder no mundo, no século 21.
Essa
estratégia - com a relativa exceção dos meios especializados em economia - vai
de simplesmente ignorar o encontro, à tentativa de diminuir sua importância, ou
semear dúvidas sobre a unidade dos principais países emergentes, tentando
ressaltar suas diferenças, no lugar do reconhecer o que realmente importa: a
política comum do Brics de oposição à postura neocolonial de uma Europa e de um
EUA cada vez mais instáveis, que se debatem com um franco processo de decadência
econômica, diplomática e social.
Para
isso, a mídia ocidental - incluindo a "nossa" - ignora os despachos
das agências oficiais do Brics, principalmente as russas e as chinesas, que
ressaltam a importância do Grupo e de suas iniciativas para suas próprias
nações - o Brasil inexplicavelmente ainda não possui serviços noticiosos em
outros idiomas, coisa que até mesmo Angola utiliza, e muito bem - e se
concentra em procurar e entrevistar observadores "ocidentais" ou
pró-ocidentais situados em esses países, que se dedicam a repetir a cantilena
da "impossibilidade" do estabelecimento de uma aliança geopolítica de
fato entre o Brasil, a Rússia, a Índia, a China e a África do Sul, baseados nos
seguintes argumentos:
-
A "distância" entre o Brasil, a África do Sul, e a Rússia, a Índia e
a China, como se em um mundo em que a informação é instantânea e um míssil
atinge qualquer ponto do globo em menos de quatro horas, isso tivesse a menor
importância.
-
O fato de a África do Sul, o Brasil e a Índia serem democracias, e a China e a
Rússia não serem democracias "plenas " segundo o elástico conceito
ocidental, que não considera a Venezuela uma democracia "plena", mas
o Kuwait ou a Arábia Saudita - autocracias herdadas e governadas pelo direito
de sangue - sim.
-
A concorrência da Índia, da China e da índia no espaço asiático, como se esses
três países não cooperassem, até mesmo no campo militar, e não mantivessem
reuniões, há muitos anos, para resolução de problemas eventuais.
-
A rotulagem desses países em "exportadores de commodities" como a
Rússia e o Brasil, "provedores de serviços", como a India, e
"fábricas do mundo", como a China, como se essa situação, caso fosse
verdadeira, não pudesse ser usada a favor de uma aliança intercomplementar, ou
como se Rússia, Brasil e índia também não produzissem manufaturados, e entre
eles produtos industriais avançados, como aviões, por exemplo.
É
óbvio que uma aliança como o Brics, que reúne um terço do território mundial,
25% do PIB, e praticamente a metade da população humana não se consolidará,
política e militarmente, de uma hora para a outra. Mas também é igualmente
claro, que não se trata de um grupo heterogêneo de nações que não tenham nada a
ver uma com a outra.
Se
assim fosse, o Brasil não estaria fornecendo aviões-radares para a índia, não
estaríamos desenvolvendo mísseis ar-ar e terra-ar com a DENEL sul-africana, ou
comprando helicópteros russos de combate, ou não teríamos, há anos, um programa
de satélites de sensoriamento remoto com a China.
O
primeiro traço comum entre os grandes "brics" como a Rússia, a China,
a índia e o Brasil, e, em menor grau, a África do Sul, é, como demonstra a sua
oposição à política ocidental para com a Libia e a Siria, o respeito ao
princípio de não intervenção.
Porque
o Brasil, a Rússia, a índia, a China, não aceitam que se intervenha em
terceiros países, em função de questões relacionadas aos "direitos
humanos", por exemplo, ou devido à questão nuclear ?
Porque,
como são países que prezam a sua soberania, não aceitam que, amanhã, o mesmo
"ocidente" que hoje ataca a Libia, a Siria, ou o Irã, venha se unir
contra um deles, qualquer deles, por causa de outras questões, como poderia
acontecer conosco, eventualmente, no caso dos " direitos" indígenas,
ou da defesa da Amazônia, o "pulmão do mundo".
Quem
tem telhado de vidro não joga pedra nos outros. Que atire a primeira quem nunca
pisou na bola. Qual é o país, hoje, que pode acordar pela manhã, olhar-se,
enquanto sociedade, no espelho, e dizer que não tem nenhum problema de direitos
humanos?
E
mais, quem arvorou à Europa e aos norte-americanos a missão de julgar o mundo?
Pode um país como os Estados Unidos, que invadiu e destruiu o Iraque, por causa
de outro mito intervencionista, o da existência - comprovadamente falsa - de armas
de destruição em massa naquele país, falar em direitos humanos ?
Pode
uma Nação que inventou e usou, no Vietnam, centenas de toneladas de um veneno
químico chamado agente laranja, contaminando para sempre o solo e as águas de
milhares de hectares de selva, falar em defesa da natureza e das florestas
tropicais?
Ou
pode um país que jogou duas bombas atômicas sobre dezenas de milhares de
velhos, mulheres e crianças desarmadas, queimando-as até os ossos - quando
poderia - se quisesse - tê-las testado sobre soldados do exército ou da marinha
japonesa, falar, em sã consciência, de controle de armamento atômico e da não
proliferação nuclear?
A
realidade por trás do discurso de defesa dos direitos humanos e da natureza é
muito mais complexa do que Hollywood mostra às nossas incautas multidões em
filmes como Avatar. Por mais que muitos espíritos de "vira-lata"
queiram - mesmo dentro do nosso país - que Deus tivesse dado à Europa e aos
Estados Unidos o direito de governar o mundo, para defender seu artificial e
efêmero "american way of life", ele não o fez.
Pequenos
países, como a Espanha ou a Itália, na ilusão de se sentirem maiores, podem -
assim o decidiram suas elites - abdicar de sua soberania política e econômica e
bombardear a população civil na Líbia, no Iraque, no Afeganistão, em defesa de
uma impossibilidade quimérica como a Europa do euro, e do mandato da "Pax
Americana".
Nações
como o Brasil, a Índia, a China e a Rússia, se aferram ao direito à soberania,
ao recurso à diplomacia, à primazia da negociação. Não se pode salvar vidas
distribuindo armas para um bando descontrolado de açougueiros que espanca e
mata prisioneiros indefesos, desarmados e ensanguentados - mesmo que eles se
chamem Kadafi - e obriga jovens muçulmanos a desfilarem em fila, de joelhos,
repetidas e infinitas vezes, sob a lente da câmera e a ameaça de armas e
chicotes, para mastigar e engolir nacos de cadáveres de cães putrefatos. O
futuro da humanidade no século 21 e nos próximos, depende cada vez mais da
emergência de um mundo multipolar que se oponha à pretensa hegemonia
"ocidental". E é isso - queiram ou não os jornais e comentaristas
europeus e norte-americanos - que está em jogo a cada nova Cúpula do Brics,
como a de Nova Delhi.
Estação Música Total
Últimas do Twitter
Arquivo
-
▼
2012
(1376)
-
▼
abril
(147)
- A calma do bicho. A pressa do homem
- Gêneros, relações tão delicadas
- Nicolelis propõe a Aldo união entre futebol e ciê...
- Especialistas discutem benefícios do uso medicinal...
- China já é o maior fornecedor do Brasil
- Um em cada quatro professores da educação básica n...
- Justiça condena empresária por ofender cliente em ...
- Ex-perseguidos fazem manifestação para pedir rapid...
- Mais publicidade na rede
- Domésticas são mais de 7 milhões no país e ainda b...
- 70% dos assassinatos de jornalistas no Brasil fica...
- Renda das mulheres cresce três vezes mais que a do...
- Mortalidade infantil cai quase pela metade em dez ...
- Heleno
- ONGs lançam programa Cidades Sustentáveis com prop...
- Os bancos e o conto da inadimplência dos clientes
- Por unanimidade, cotas raciais em universidades pa...
- Prevenção dos conflitos sociais
- População deve movimentar R$ 49,55 bilhões com edu...
- Um quarto dos brasileiros sofre de hipertensão, se...
- Ministra diz que combate à violência contra mulher...
- Blogueira quer fazer 365 passeios diferentes em SP
- Situação dos advogados apontados nos episódios do ...
- Desktop perde espaço para laptop e tablet
- Câmara aprova Código Florestal com mudanças de rur...
- Jornada dupla prejudica saúde de jovens trabalhadores
- TCU: obra que não ficar pronta até a Copa deve ser...
- O profissional contábil
- Brasileiro deve gastar R$ 5,57 bilhões com bebidas...
- ‘O Jardim das rosas amarelas’
- Campanha nacional quer vacinar 24,1 milhões contra...
- STF decide sobre validade de cotas raciais nesta q...
- Comissão aprova criminalização do enriquecimento i...
- Jornalista e blogueiro é executado a tiros em São...
- Governo mantém projeção de crescimento econômico p...
- Internautas de malas prontas
- Polícia Rodoviária Federal cria Serviço de Informa...
- Somos os cegos que não querem ver
- Adultos solteiros e casados
- Projeto da Unesco vai listar 100 lugares mais sign...
- Legalização de prostíbulos abre caminho para regul...
- Possibilidade de rejeição pela Câmara Municipal do...
- Tecnologia identifica fraudes em declarações do Im...
- Uma em cada quatro pessoas utiliza pagamento via c...
- Dicas para melhorar a memória
- Não Pise na Dama!
- Conservadores aprovam rabinos gays em Israel
- Comissão de Juristas aprova mudanças no Código Penal
- Dilma reitera que não negocia anistia a desmatador...
- STF mantém “lista suja” do trabalho escravo
- Pesquisa afirma que muitas pessoas não associam o ...
- Cinema brasileiro terá lugar de honra no Festival ...
- Maria Inês Nassif: A política brasileira, a virtud...
- Bancos prometem juro menor: faça as contas e encon...
- "Falta, no Brasil, um grande escritor capaz de se ...
- Mobilização popular é uma das principais diferença...
- ‘Taxar os ricos é crucial para modelo de desenvolv...
- Mauro Santayana: O padre comunista
- População indígena cresce 11,4% no país em dez anos
- Candidatos radicais conquistam eleitores jovens na...
- Escritora emociona plateia ao defender importância...
- O impacto da Copa/2014 na economia do Rio Grande d...
- II Semana de Política Públicas começa hoje
- Softwares de código fechado são potencial ameaça a...
- Governo muda regra para seguro desemprego
- Aplicativo desenvolvido no Brasil mede felicidade ...
- Facebook supera Google como site mais visitado no ...
- Justiça extingue pena do ex-banqueiro Salvatore Ca...
- Câmara e Senado reúnem assinaturas para abertura d...
- Cidades da Copa devem ter telefonia 4G até dezembr...
- Vitimas de pedofilia pela igreja recebem mais de R...
- Dilma: Brasil deu passo decisivo ao aprovar Lei de...
- Franchising, a aposentadoria do empreendedor
- #DebatendoNatal - Ciclo de discussões abertas sobr...
- Argentina pode condenar à prisão perpétua quem mat...
- A companhia imaginária de cada um
- Tárik de Souza: Ouro de breque
- Audiência vai avaliar direito dos usuários da inte...
- Literatura marginal ganha espaço e conquista leito...
- O Facebook tem medo da internet
- Cúpula das Américas termina sem consenso sobre inc...
- Zuenir Ventura: jovens devem se mobilizar pelas re...
- Amor e sexo no Império
- A Guerrilha do Araguaia não foi um episódio qualqu...
- PF: país foi fatiado pelas quadrilhas de contraven...
- Cientistas identificam o umami como um quinto sabo...
- Pesquisa indica uso abusivo de bebida alcoólica en...
- Especialista define o que é um embrião com anencef...
- Eventos literários ganham espaço na agenda cultura...
- Bancos brasileiros ganham duas vezes mais do que n...
- Cúpula das Américas discute segurança e combate à ...
- A Constitucionalização das Controladorias
- Emiliano José: Sêneca, Demóstenes e a ética na pol...
- Mais da metade dos adolescentes infratores ouvidos...
- Partidos escalam seus ‘pitbulls’ para compor CPI d...
- Aprovado na Câmara projeto que amplia provas da Le...
- Operação Judas - Íntegra do depoimento de George Leal
- Operação Judas - Íntegra do depoimento de Carla Ub...
- Número de brasileiros com acesso a internet chega ...
- Quase metade da população brasileira está acima do...
-
▼
abril
(147)
0 comentários: