9.9.12
Postado por
Sávio Hackradt
Com a divulgação de estudo em que o Brasil
aparece em segundo lugar em número de usuários de crack e cocaína do
mundo,
ficando atrás apenas dos Estados Unidos, especialistas na área de saúde apontam
para reflexão sobre as políticas antidrogas adotadas no país.
Agência Brasil
Especialista em dependência química e integrante da
Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), o
psiquiatra Carlos Salgado ressalta a ênfase dada ao modelo ambulatorial por
parte das políticas públicas, deixando, em segundo plano, o tratamento com
internação. A demanda por mais vagas para internação acentuou-se com o consumo
do crack, já que a droga deixa os usuários em situações de extrema
gravidade, avalia o psiquiatra.
Salgado acredita que os cuidados ambulatoriais são úteis
para parte dos usuários, porém a ênfase nesse tipo de tratamento é uma
"política ingênua". “Pensam que a dependência química é uma questão
de escolha de vida e que não precisa de grandes investimentos. O que temos tido
é uma visão que aplica uma ideologização da liberdade. O sujeito é livre pra
usar drogas e quando precisar vai para o ambulatório,” disse o médico.
Em dezembro do ano passado, o governo federal lançou programa de combate ao crack, que prevê, entre outras ações,
criação de enfermarias especializadas nos hospitais da rede pública e leitos
exclusivos para internação de curta duração, crises de abstinência e casos de
intoxicações graves de usuários de drogas. Estão previstos investimentos de R$
4 bilhões até 2014. O psiquiatra destaca o início dos investimentos do governo
na abertura de vagas para internação, porém argumenta que o orçamento voltado
para a saúde é insuficiente para preencher todas as lacunas.
Perguntado sobre tratamentos adotados em outros países que
poderiam ser implantados no Brasil, Salgado assegura que o país tem condições
de criar modelos adequados para todos os níveis de dependência química e que
não precisa seguir nenhum outro adotado no exterior. “Na rede privada, o Brasil
oferece tratamentos, em todos os níveis de dependência, iguaizinhos ou até
melhores dos que ocorrem nos países mais ricos do mundo. O Brasil sabe muito
sobre dependência química, mas o Poder Público resolveu ouvir pessoas que
pensam de forma ingênua.”
O levantamento do Instituto Nacional de Pesquisa de
Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (Inpad), da Universidade Federal
de São Paulo (Unifesp), aponta baixo índice, menos de 10%, de busca dos
usuários de cocaína e crack por tratamento.“O acesso é muito difícil
no Brasil e a qualidade do tratamento é muito precária. Então, é isso que a
gente tem que mudar, nós temos que criar um sistema que realmente funcione”,
disse o psiquiatra e organizador do estudo, Ronaldo Laranjeira, durante a
divulgação dos dados.
Procurada pela Agência Brasil, a assessoria do
Ministério da Saúde informou que não irá se pronunciar sobre a pesquisa, por se
tratar de tema relacionado ao Ministério da Justiça, que também não comentou os
resultados do levantamento.
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