CALANGOTANGO não é um blog do mundo virtual. Não é uma opinião, uma personalidade ou uma pessoa. É a diversidade de idéias e mãos que se juntam para fazer cidadania com seriedade e alegria.

Sávio Ximenes Hackradt

24.1.12


CARTAS DE COTOVELO (07) 23/01/2011



Carlos Roberto de Miranda Gomes, advogado e escritor

Há uma diferença fundamental entre a casa de veraneio e a casa da cidade. Naquela reina a informalidade em todos os sentidos. As visitas são recebidas num clima de descontração, numa simplicidade artesanal e rudimentar, que inclui pés descalços.

A cabeça, na casa de praia é descompromissada com a realidade da cidade grande, pois toda a leitura feita é encarada com maior reflexão e assimilada com uma seriedade meditativa.

Ao reverso disso, a casa da cidade é extremamente formal – a cigarra incomoda constantemente e o telefone é constante, além do fato de ocorrência de pedintes sem obediência, sequer, ao horário comercial.

As notícias não têm o sabor que sentimos na praia, até porque estamos presentes aos fatos divulgados, pois participamos do clima realístico do cotidiano, onde a vida tem um valor relativizado.

A brisa, possivelmente, seja um diferencial mais acentuado, e na praia se nos permite, quando o espírito pede e o corpo reclama, um banho de mar reconfortante, tirando as mazelas do dia.

Pela noite, igualmente, há um clima diferente – a penumbra nos permite mirar o céu com mais nitidez e o recolhimento se faz mais cedo, para um sono bem mais restaurador.

Podemos dizer que a praia nos sugere um exílio voluntário, gostoso, que faz bater o coração na hora de regressar.

Acho que os brasileiros não aprenderam a valorizar essa regalia que nos é permitida e isso se torna mais evidente quando recebemos parentes e amigos do além-mar.

Até mesmo os velhos costumes de recorrer ao rádio e deslizar o ponteiro pelas inúmeras emissoras retomam o nosso convívio e torna prazeroso ouvir músicas, nos remetendo a um tempo passado, não àquele que já simplesmente já passou, mas o que ficou indelével no presente, ainda que albergue alguma coisa indesejável.

Diferente do que jocosamente alguns afirmam, a permanente invocação do tempo pretérito, nos remete às ferramentas de reciclagem de atitudes e inspiração para as coisas futuras.

Cheguei mesmo a recordar um filme italiano, com o ator menino Gino Leurini, chamado de “Amor de Outono”, todo passado em um veraneio na Itália, onde ele conhece o amor pela primeira vez. Esse filme eu assisti quando solteiro (há quase 50 anos), no Cinema Rex e me empolgava quando o filme terminava, pois as pessoas comentavam que eu então tinha traços do ator, fazendo-me repetir presença em outras sessões – coisas de menino vaidoso – mais que era bom isso não se discute.

Já estou convivendo com a melancolia, pois começa a minha última semana de veraneio, mercê da inevitável realidade da vida, me convocando para novas missões.

Aguardem-me os companheiros da ALEJURN, IHGRN, UBERN, INRG, AML, FINSC e Confraria da Livraria Câmara Cascudo – eu estou voltando!

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