CALANGOTANGO não é um blog do mundo virtual. Não é uma opinião, uma personalidade ou uma pessoa. É a diversidade de idéias e mãos que se juntam para fazer cidadania com seriedade e alegria.

Sávio Ximenes Hackradt

23.1.12


Por Carlos Linneu Torres Fernandes da Costa, foi consultor de empresas

Os melhores livros técnicos acerca de Marketing Político não são aqueles redigidos sob esse nome, mas o de marketing empresarial, de autoria de Thedore Levitt, principalmente Imaginação em Marketing e um livrinho extraordinário de Al Ries, intitulado Posicionamento, a batalha pela mente.

E se cabe ainda citar um case de campanha, para ilustrar os ensinamentos dos livros citados, o aficionado busque a revista Marketing, edição de fevereiro de 1986. Nela, na edição inteirinha, estão expostos com grande riqueza de detalhe, todo o planejamento e a criação adotados por Duda Mendonça para a campanha de Mário Kértecz para prefeito de Salvador, em 1985. Uma aula de marketing eleitoral, talvez a primeira campanha eleitoral brasileira em que, conscientemente, foi aplicado o marketing eleitoral como prática rigorosa. A revista me foi roubada, e até hoje persigo esse larápio que soube enxergar uma relíquia.

Mas há o marketing eleitoral e o marketing político e este último, em suas feições modernas, foi criação do grande filósofo italiano Antonio Gramsci, mantido preso durante 30 anos e preservado vivo pela polícia fascista que nele enxergando um gênio italiano da estatura de Maquiavel, permitia que o intelectual marxista produzisse seus “Cadernos do Cárcere”.

Em Gramsci, reside a matriz mais distante dessa distinção. O grande filósofo italiano dividiu as atividades revolucionárias do proletariado em dois tempos, a guerra de posição e a guerra de movimento. A primeira transcorre nos momentos de paz e projeta conquistar posições privilegiadas na sociedade civil, via influenciação nas redações de jornais, magistério universitário, Igrejas, sindicatos, associações comunitárias e representação política nos parlamentos “burgueses”. A luta é pela consciência das pessoas e proporciona vantagens estratégicas para a guerra de movimento, esta a guerra civil real, de tiros e balas. Marx, em algum de seus escritos chamou a guerra de posição de evolução, e a de movimento, a própria revolução proletária, desencadeada nas ruas.

Atualizando os conceitos, o marketing político é a guerra de posição e o marketing eleitoral é a guerra de movimento, processada nas campanhas. O “posicionamento”’ de que fala Al Ries tem relação próxima com a guerra de posição, até mesmo nos nomes.

O marketing eleitoral é acionado durante a campanha eleitoral e agrega todas as ferramentas do composto mercadológico, enquanto o marketing político dispara as mesmas armas do marketing, só que utilizadas na entressafra de duas eleições, ou quase sempre buscando objetivos de longo prazo a ser atingidos anos a frente.

Os partidos comunistas do passado foram os grandes useiros do marketing político e no Brasil, o Partido dos Trabalhadores soube fazer a distinção entre os dois macroconceitos. Por isso Dilma Roussef cresceu exponencialmente nas pesquisas durante a campanha eleitoral. É que já havia ganho a guerra de posição, perdida por uma oposição abúlica durante os oito anos do governo Lula, que na guerra de posição petista, repetia diariamente que o PT, vejam a ousadia, havia derrubado a inflação, entre outras mentiras, sem a imediata reação desconstrutivista do PSDB. A guerra de posição é muito propícia para a mentira planejada.

A senha para as operações da guerra de posição declarada pelo PT foi a construção e a disseminação pela imprensa, do conceito que Lula passou a martelar em todos os auditórios, como a “herança maldita do governo FHC”. No início da campanha de 2010, Dilma marcava 3% das intenções de votos, Serra 49%. Mas como o candidato da oposição abestalhada já havia perdido a guerra de posição, só lhe restava recuar, atitude que continua até hoje...

E o Rio Grande do Norte? Estado sem rumo. Forças políticas de visão desenvolvimentista, depuradas de alguns mandarins de hoje, bem que poderiam usar o marketing político e traçar um cenário para ser atingido nos próximos 10 anos, visando a conquista do Executivo e a adoção de projeto de desenvolvimento econômico modernizante, não vegetativo. Assunto para outro artigo (@carloslinneu). Me sigam no twitter. Dois anos e apenas 130 seguidores, a maioria corretores de imóveis.

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