CALANGOTANGO não é um blog do mundo virtual. Não é uma opinião, uma personalidade ou uma pessoa. É a diversidade de idéias e mãos que se juntam para fazer cidadania com seriedade e alegria.

Sávio Ximenes Hackradt

20.1.12

CINEMA – Por Carlos Emerenciano*

Da mudez à matraquice. Poderia, num grande esforço de síntese, definir assim a premiação do Globo de Ouro 2012, ocorrida na última segunda-feira. O francês "O artista" (The artist), vencedor do prêmio de melhor filme de comédia ou musical e maior sensação do festival, principalmente pelo inusitado de ser um filme mudo, e Meia-noite em Paris (Midnight in Paris), melhor roteiro original, sob a assinatura de Woody Allen, demonstram isso; que não há fórmula de bolo para se realizar um grande filme.

O primeiro retrata o cinema dos anos 20, realizando bela homenagem aquela fase da Sétima Arte e, para tanto, apropria-se da linguagem cinematográfica da época, o que lhe conferiu particular originalidade. O segundo vai a outro extremo. Não há, entre os grandes diretores da história do cinema, ninguém tão verborrágico quanto Woody Allen. Os seus excelentes roteiros, não raramente geniais, exploram personagens, na sua maioria, tagarelas, principalmente os que representam seu alter-ego. É o que ocorre na grande viagem em que consiste o "Meia-noite em Paris". Por ele, passeiam personagens como Hemingway, Picasso, F. Scott Fitzgerald e sua mulher Zelda, Salvador Dalí, entre outros personagens da chamada geração perdida que conviveu na Cidade Luz nos anos 20, como também Paul Gauguin e Toulouse Lautrec, da Belle Époque, todos dialogando com a atualidade, representada pelo personagem Gil (Owen Wilson).

Vejam, caros leitor e leitora, que há filmes de qualidade para todos os gostos. No gênero drama, o premiado foi o elogiadíssimo "Os descendentes" (The descendants) estrelado por George Cloney que mereceu o prêmio de melhor ator no gênero. O filme trata da relação de um pai antes ausente com suas filhas, após a mãe se encontrar em estado de coma. Por sinal, Cloney, que pavimenta uma carreira diversificada e brilhante, concorreu ao prêmio de melhor diretor por "Tudo pelo poder" (The ides of March), um excelente triller político.

Mais uma vez a figura de Meryl Streep sobressai-se. Conquistou o prêmio de melhor atriz (gênero drama) por sua interpretação de Margareth Tatcher, em "A dama de ferro" (The iron lady) e desponta como uma das barbadas para vencer o Oscar. Um filme que vem rendendo polêmicas por, na visão de alguns, expor nas telas um retrato cruel da estadista britânica. Ano após ano, Streep, com suas atuações marcantes, mostra porque é considerada uma das maiores atrizes da história do cinema.

A categoria melhor filme em língua estrangeira reconhece mais uma vez o ótimo cinema iraniano, premiando "A separação" ("Jodaeiye Nader as Simin), que desbancou, entre outros, o "Pele que habito" de Almodóvar. Os filmes produzidos no Irã utilizam-se de belas histórias, normalmente edificantes, e analogias que inspiram o espectador a refletir sobre a situação política vivida naquele País. Uma forma também de superar os obstáculos impostos pela censura de um regime ditatorial, do mesmo modo que se procedia nos tempos de arbítrio no Brasil para burlar os censores tupiniquins.

Caros leitor e leitora, as nossas salas de cinema nos têm impingido verdadeira ditadura. Assistir a produções diferentes constitui, hoje em dia, missão impossível. Quebrar essas amarras é essencial para que possamos usufruir de toda essa diversidade cinematográfica. Partindo do exemplo do cinema iraniano que suplantou, no Globo de Ouro deste ano, filmes de centros bem mais desenvolvidos, sugiro assistir ao comovente "Filhos do paraíso" (Bacheha Ye-aseman, 1997). Conta a história de dois irmãos que dividem um par de sapatos. O irmão mais velho tem a oportunidade de ganhar um outro par em uma corrida. Através da busca por um par de sapatos, "Filhos do paraíso" nos faz sonhar por um mundo mais humano. São histórias universais contadas de diversas formas. Isto é cinema!

*Carlos Emerenciano - Apreciador de um bom filme, dividirá com os leitores suas impressões sobre cinema todas as sextas-feiras.
Twitter: @cemerenciano
e-mail: aemerenciano@gmail.com

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