9.1.12
Postado por
Sávio Hackradt
“COISAS
DA VIDA”
Ando mais do que nunca prestando atenção em coisas que antes passavam um pouco mais abstratas por meus olhos. Algo mais ou menos como é cantando em “Esquadros”: Cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo.
A gente vai crescendo, e a trancos e barrancos vai amadurecendo, com isso aprende a enxergar detalhes que, embora estejamos vivendo neste século desconcertante, ainda fazem com que fiquemos mudos e de olhos cerrados por alguns minutos, pensando como era bom viver antigamente. Como foi bom ser criança pelos dias que cortaram a década dos anos 1980, mesmo com tantas limitações. A gente era inocente e não sabia.
Por LeideFranco* (@LeideFranco)
Ando mais do que nunca prestando atenção em coisas que antes passavam um pouco mais abstratas por meus olhos. Algo mais ou menos como é cantando em “Esquadros”: Cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo.
A gente vai crescendo, e a trancos e barrancos vai amadurecendo, com isso aprende a enxergar detalhes que, embora estejamos vivendo neste século desconcertante, ainda fazem com que fiquemos mudos e de olhos cerrados por alguns minutos, pensando como era bom viver antigamente. Como foi bom ser criança pelos dias que cortaram a década dos anos 1980, mesmo com tantas limitações. A gente era inocente e não sabia.
Lembro
que quando eu era criança, por volta dos meus nove, dez anos, meu maior sonho
era crescer. Crescer do tamanho daquelas pessoas que podiam sair de casa sem
necessitar da companhia de algum adulto. Eu queria crescer o tanto suficiente
para ser capaz de esperar um ônibus e ir à praia sozinha. Esse era o meu maior
desejo de liberdade. Ser livre era mais ou menos isso. Era isso, na verdade!
Pois é, sempre fui apaixonada pelo mar e uma das minhas maiores angústias era não
poder ver o mar na hora em que eu bem quisesse. Eu não era do tamanho grande e
nem sabia como fazer para chegar à praia. Isso era uma prisão.
Nessa
última quinta-feira, por volta das 13h, observava três crianças na parada de ônibus,
quero dizer, três pré-adolescentes de idades que aparentemente não
ultrapassavam 12 anos. Eram dois meninos, um moreninho de cabelos tão lisos que
tocavam insistentemente os olhos, o outro um menino magrinho de pele bem
branca, quase albino e uma menina linda, de cabelos cacheados quase tocando a
cintura. Ela vestia uma saia rodada e uma blusa que trazia estampada a foto de
Justin Bieber na parte da frente, a parte das costas da blusa era quase nua.
Eles vestiam roupas leves coloridas, um deixava claro que era corintiano. A
carteira de cédulas confessava. Um calçava tênis, o outro uma sandália preta,
robusta, maior que o seu pé. Ela, uma sandália rosa com lilás, plataforma de
altura média.
Olhava
pra eles, os comparava comigo antigamente e me perguntava o que eu fazia na
idade deles. Eu fazia coisas de crianças daquele tempo. Pulava corda, elástico,
vivia com a cabeça do dedão do pé esfolada de tanto correr na rua, brincava de
esconde-esconde. Meu maior vício naquele tempo era jogar ‘queimada’. Se aquilo
tivesse virado esporte, eu teria me tornado uma medalhista. No único torneio
que existiu durante toda aquela minha vida, eu fui ouro. A brincadeira mais
ousada nessa época era o “Tô no Poço”.
Os
dois meninos conversavam como gente grande sobre futebol. Ela permaneceu calada
por vários minutos. Depois perguntou raivosa se eles só sabiam falar daquilo.
Eles disseram que pelo menos estavam falando coisa de homens, enquanto que vocês
(as meninas) só falam de coisas bestas, assim disse o branquelo de dentes
bonitos, o menino quase albino. Depois de notar o descontentamento dela e a
falta de argumento ou a chance de ficar calada e ficar “por cima”, os dois caíram
numa risada tão contagiante que eu não resisti. Como também não resisti
perguntar qual era o destino deles. Ela rapidamente, como quem tinha urgência
de falar coisas de meninas com menina, disse explicadamente, sem tropeçar em
uma sílaba: vamos ao Cinemark do Midway, assistir “Alvin e os Esquilos 3”.
Foi
nessa hora que eu não consegui me reconhecer quando criança. Eu só queria ir à
praia. Só! Se poder ver o mar sozinha era minha liberdade, ir ao cinema era
sonho quase impossível. Sem pensar meia vez perguntei: Vocês são irmãos? O moreno
de cabelos lisos respondeu: Somos primos. Voltei a perguntar: As mães de vocês
sabem que vocês estão saindo sozinhos? Ela respondeu: Foi minha mãe que pediu
para minha tia (mãe de algum deles) pra gente ir. Ela continuou: A gente sempre
vai, e minha irmã menor também vai, mas hoje ela teve que sair com minha mãe.
Não
suportei a curiosidade e perguntei: Vocês também vão à praia sozinhos?
O
branquinho quase albino respondeu: Ah, ir à praia sozinho não tem graça!
O
moreninho de cabelos lisos disse concordando: É. Não tem graça nenhuma.
Ela
terminou: Ir à praia só é legal se for com um monte de gente.
(...)
Concluí:
Eles são livres. Eu não era!
*Leide
Franco - Comunicadora com pretensões literárias;
Um
pouco de filosofia e reflexões cotidianas;
Um
muito de MPB
E
quase nada do que ainda quero ser.
Escreve
às segundas-feiras.
Estação Música Total
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