23.2.12
Postado por
Sávio Hackradt
Na
semana passada, a Comissão Europeia confirmou o que todos suspeitavam: as
economias que ela monitora estão encolhendo, não crescendo. Não é uma recessão
oficial ainda, mas a única questão real é qual será a gravidade da retração.
Por
Paul Krgman*
E
essa retração está atingindo países que nunca se recuperaram da última
recessão. Apesar de todos os problemas dos Estados Unidos, seu produto interno
bruto finalmente ultrapassou seu pico anterior à crise; o da Europa, não. E alguns
países estão sofrendo dissabores do nível da Grande Depressão: Grécia e Irlanda
tiveram quedas de dois dígitos na produção; a Espanha enfrenta 23% de
desemprego; e a retração atual da Grã-Bretanha já é mais prolongada que a que
enfrentou nos anos 1930.
Pior
ainda, alguns líderes europeus – e uma boa quantidade de players americanos
influentes – ainda estão casados com a doutrina econômica responsável por esse
desastre.
As
coisas não precisavam estar tão ruins. A Grécia estaria enfrentando um problema
grave independentemente das decisões políticas tomadas, e o mesmo vale, em
menor escala, para outros países da periferia da Europa.
Mas
as coisas foram agravadas bem mais que o necessário pela maneira como líderes
da Europa, e, mais amplamente, sua elite política, substituíram moralização por
análise e fantasias pelas lições de história.
Especificamente,
a economia de austeridade do começo de 2010 – a insistência de que governos
deviam cortar gastos mesmo em face do alto desemprego – virou moda nas capitais
europeias. A doutrina afirmava que os efeitos negativos diretos do corte de
gastos sobre o emprego seriam compensados por alterações na “confiança”, que os
cortes de gastos radicais acarretariam um aumento dos gastos industriais e de
consumo, enquanto os países que não conseguissem fazer esses cortes sofreriam
uma fuga de capitais e uma alta das taxas de juros. Se isso lhe parecer algo
que Herbert Hoover poderia ter dito, você está certo: parece mesmo e ele disse.
Agora,
os resultados estão visíveis – e eles são exatamente o que três gerações de
análise econômica e todas as lições da História poderiam ter-lhes dito que
ocorreria. A fada da confiança não apareceu: nenhum dos países que cortaram
gastos viu o antecipado crescimento do setor privado. Em vez disso, os efeitos
depressivos da austeridade fiscal foram reforçados pela queda dos gastos
privados.
Mais
ainda, os mercados de bônus continuam sem querer cooperar. Mesmo os bons alunos
da austeridade, países que, como Portugal e Irlanda, fizeram tudo que lhes foi
pedido, ainda enfrentam custos siderais para a captação de empréstimos. Por
quê? Porque os cortes de gastos deprimiram profundamente suas economias,
solapando suas bases fiscais de tal maneira que a relação de dívida para o PIB,
o indicador do padrão de evolução fiscal, está se agravando ao invés de
melhorar.
Enquanto
isso, países que não entraram no trem da austeridade – mais especialmente o
Japão e os Estados Unidos – continuam tendo custos de captação muito baixos,
contrariando as previsões soturnas dos falcões fiscais.
Nem
tudo deu errado, porém. No fim do ano passado, os custos para espanhóis e
italianos tomarem empréstimos subiram, ameaçando um derretimento financeiro
geral. Esses custos agora caíram em meio a suspiros gerais de alívio. Mas a boa
nova foi, de fato, um triunfo da antiausteridade: Mario Draghi, o novo
presidente do Banco Central Europeu (BCE), desconsiderou os preocupados com
inflação e arquitetou uma grande expansão do crédito, que é precisamente o que
o médico havia receitado.
O
que será preciso, então, para convencer a Convenção da Dor, as pessoas de ambos
os lados do Atlântico que insistem em que os cortes permitirão avançarmos para
a prosperidade, de que ela está errada? Afinal, os suspeitos de sempre foram
rápidos em declarar morta para sempre a ideia do estímulo fiscal, depois que os
esforços do presidente Obama não conseguiram produzir uma rápida queda do
desemprego – apesar de muitos economistas terem advertido previamente que o
estímulo era demasiado pequeno.
Até
onde posso dizer, porém, a austeridade ainda é considerada responsável e
necessária, apesar de seu fracasso catastrófico na prática.
A
questão é que poderíamos realmente fazer muita coisa para ajudar nossas
economias pela simples reversão da austeridade destrutiva dos últimos dois
anos. Isso vale mesmo para os Estados Unidos, que evitaram uma austeridade
estrita em nível federal, mas tiveram grandes cortes de gastos e emprego nos
níveis estadual e local.
Lembram
todo o barulho sobre se havia projetos prontos em número suficiente para tornar
factível o estímulo em larga escala? Bem, não importa: tudo que o governo
federal precisa fazer para dar um grande impulso à economia é prover ajuda aos
governos de níveis inferiores, permitindo que esses governos recontratem as
centenas de milhares de professores que dispensaram e recomecem a construir e a
manter projetos que cancelaram.
Vejam,
eu compreendo por que pessoas influentes relutam em admitir que ideias
políticas que, a seu ver, refletiam uma sabedoria profunda na verdade não
passam de uma loucura total e destrutiva. Mas já passou da hora de deixarmos
para trás as crenças ilusórias sobre as virtudes da austeridade numa economia
deprimida.
*Paul
Krugman, economista, é articulista do jornal New York Times. Texto extraído de
Estadao.com, com tradução de Celso Paciornik
Estação Música Total
Últimas do Twitter
Arquivo
-
▼
2012
(1376)
-
▼
fevereiro
(166)
- I Encontro de Blogueiros Progressistas da Grande N...
- Eliana Calmon propõe mudança na Constituição para ...
- Crianças invisíveis: favelas marginalizam crianças...
- Martelo das Bruxas orientou séculos de perseguição...
- Operadoras deverão fornecer programa para medir ve...
- Paixão versus Amor
- 1ª Conferência Regional sobre Transparência e Cont...
- Após 80 anos de direito ao voto, mulheres ainda bu...
- BRICS impulsionam economia mundial, diz estudo
- Governo prepara novo modelo de remuneração para a ...
- Piso nacional do magistério de 2012 é definido em ...
- Comerciais de alta performance
- Gastos em viagens com fins educacionais é recorde ...
- Brasil condiciona ajuda à Europa a mais poder no FMI
- Lei da Ficha Limpa poderá ser adotada também no Po...
- Pesquisa aponta que adolescente tem menos chance d...
- Vem aí a III Edição do Amigo Culto
- Reflexões para um ano Eleitoral
- Aprovado no vestibular, 1º aluno com Down rompe pr...
- Livro vai reunir frases provocativas de Leonel Bri...
- Oscar 2012
- Falta de educação política e discriminação dificul...
- A memória de Pedro Nava relançada em autêntica lit...
- Somos Todos Anonymous
- Encontro de Mídia Eletrônica do Trairi
- Piso do magistério terá que ser pago retroativo a ...
- Partidos são entrave à participação feminina na po...
- Câncer de mama: o risco entre mulheres mais jovens
- Programa gerador da declaração do IRPF 2012 está d...
- STF diz que Estatuto do Torcedor é constitucional
- Lei da Ficha Limpa – Sua validade para 2012
- Paul Krugman: Sofrer sem ganhar
- Plano de saúde não pode fixar teto de despesa hosp...
- Dalva de Oliveira - Bandeira branca ( marcha de ca...
- Dalva de Oliveira - "Marcha da Quarta-feira de Cin...
- Sonho de um carnaval - Chico Buarque
- Campanha da Fraternidade começa hoje
- Menina de rua, melhor atriz em Berlim
- A decisão do STF e o fim das oligarquias
- Programa para preenchimento da declaração do IR es...
- Caetano Veloso e os Trapalhões Chiquita Bacana
- Matam-se moscas aos sábados
- Estudo aponta que casos de discriminação crescem 6...
- Ambientalistas reivindicam nova forma de medir riq...
- Encontro Regional de Mídia Eletrônica do Trairi
- Organismo precisa de adaptação para fim do horário...
- Previdência quer cobrir 70% dos trabalhadores em 2012
- Clipe Mangueira 2010
- Carnaval é comemorado de diferentes formas pelo mundo
- Um Papa cercado por lobos
- Acidez na água dos oceanos ameaça 30% das espécies...
- Segurança alimentar e desenvolvimento sustentável ...
- Beth Carvalho - Folhas Secas (Nelson Cavaquinho)
- Fantasia - Por Carlos de Miranda Gomes
- Achados e Perdidos dos Correios podem ajudar no ca...
- Atividade física intensa no carnaval pode levar a ...
- Abuso de crianças e homofobia preocupam governo no...
- Atrás do Trio Elétrico - Caetano Veloso
- Beth Carvalho - VouFestejar (Com a Bateria da Mang...
- O que funciona e o que não funciona no carnaval em...
- Pequena proporção de mulheres no Congresso Naciona...
- Ensino técnico a distância vai abrir mais 150 mil ...
- Fatalidade
- Almir Rouche - Hino do Elefante de Olinda / Pitomb...
- Brasil se consolida como 3º maior mercado de compu...
- Maioria dos brasileiros pretende descansar no Carn...
- Ipea diz que Brasil está longe de atingir pleno em...
- Aprovação da Lei da Ficha Limpa é elogiada por ent...
- Antibióticos são ineficazes para tratar sinusite, ...
- Alceu Valença - Voltei Recife ao vivo
- O primado da credibilidade
- Julgamento da Ficha Limpa é suspenso com placar de...
- A diferença que a pontuação faz na língua portuguesa
- Brasileiro paga gasolina de ‘primeiro mundo’
- TCU aponta deficiências na política nacional antid...
- Hino do elefante - Alceu Valença 2008
- Protestos devem aumentar este ano, acreditam brasi...
- Empresas iludem consumidor com ofertas e vendas ca...
- Homem da Meia-Noite comemora 80 anos em Pernambuco
- STF retoma julgamento da validade da Lei da Ficha ...
- Spok Frevo Orquestra - Vassourinhas (Com Ozi dos P...
- "Ai Se Eu Te Pego" vira música de protesto em Port...
- Jornalista fundador do PT em Ponta Porá-MS é assas...
- Desorganização do setor de precatórios encobre fra...
- Dia mundial do rádio
- Duzentos e dez prefeitos eleitos em 2008 foram cas...
- Campanha contra a aids no carnaval começa a ser ve...
- Pesquisa: 67% da população vêem Judiciário como po...
- O Inseto e o Predador
- Semana de 22: Exaltar o passado não é moderno
- Samba Social Clube - Fundo de Quintal - Assassinat...
- Do que é feita a felicidade?
- STF deve retomar nesta semana julgamento da valida...
- Eliana Calmon: ‘não estou sozinha na moralização d...
- Cardiologista alerta sobre cuidados que foliões de...
- Whitney Houston - I Will Always Love You
- Mário de Andrade: o Movimento Modernista
- Marcha contra o racismo reúne 27 organizações em S...
- CNJ quer cobrar R$ 84 bilhões de precatórios em at...
- Meninos são aliciados para virar transexuais em SP
-
▼
fevereiro
(166)
0 comentários: