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Sávio Ximenes Hackradt

20.12.11


Relatório da Agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Desenvolvimento e Comércio (UNCTAD, na sigla em inglês) aponta que o desemprego em países ricos preocupa mais do que os desequilíbrios fiscais.
Fonte: Rede Brasil Atual

A crise da dívida de países europeus e dos Estados Unidos vem levando governos a promover os chamados planos de "austeridade", com medidas recessivas de contenção de despesas públicas e corte de direitos – incluindo reajustes salariais e aposentadorias, por exemplo.

Para o relatório "Austeridade fiscal cria ameaça de recessão global", a estratégia de enfrentamento da crise corre o risco de repetir erros cometidos no início dos anos 1930, logo após a quebra da Bolsa de Nova York em 1929, quando se anteciparam medidas austeras aos primeiros sinais de recuperação. A medida adiou uma persistência maior de crescimento econômico no período. O mesmo efeito poderia estar em processo atualmente.

Governos de países como Portugal, Grécia, Espanha e Itália promovem uma série de medidas para reduzir despesas como forma de dizer a investidores de bolsas de valores que são capazes de honrar suas dívidas. As iniciativas, porém, tendem a causar recessão, por reduzir o poder de compra da população e dificultar o crescimento econômico. Sem crescer, as receitas com impostos também ficam estagnadas e a recuperação de fato demora mais, segundo a visão do relatório da UNCTAD.

"Os déficits fiscais são consequência e não causa da crise", diz o documento. "Crescimento, e não o déficit, é o alvo apropriado para o momento." O cenário deve prejudicar a todos os países, incluindo os emergentes – como Brasil, Índia e China. A análise é de que mesmo nações em desenvolvimento devem preparar planos de contingência para um período prolongado de recessão internacional, em função da opção usada para fazer face à crise.

Segundo o relatório, "países ameaçados pela recessão e deflação deveriam evitar intensificar as medidas de austeridade porque elas difilmente produzirão os resultados almejados e podem tornar o mundo propenso a um renovado surto de recessão". Apenas um aumento da demanda doméstica dos países, com aposta em elevar índices de emprego e aumentar salários poderia evitar "uma nova rodada de retração global".

Os efeitos mais prováveis da "austeridade" é desencadear uma "onda de efeitos adversos no nível internacional", com prejuízos ao comércio internacional e aos patamares de investimentos nos próximos anos. Outra consequência deve ser a ampliação de pressões por protecionismo – medidas para barrar importações e favorecer exportações, em uma guerra comercial em que acordos internacionais são pouco respeitados.

Líderes de países emergentes, como a presidenta Dilma Rousseff, vem apresentando avaliações próximas à apresentada pela agência da ONU. Dilma sugeriu em eventos como a Cúpula do G20 (grupo dos países mais desenvolvidos) e na Assembleia Geral da ONU que países europeus não poderiam repetir o erro cometido por nações sul-americanas na década de 1990.

Naquele período, em meio a crises das dívidas soberanas, foi imposta uma agenda de reformas e redução do Estado, com consequências recessivas. O patamar de desenvolvimento atual dessas nações foi alcançado apenas a partir da aposta no combate à pobreza e no crescimento do mercado interno, segundo a visão da presidenta.

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