7.1.12
Postado por
Sávio Hackradt
A cada ano letivo trabalho para que as coisas aconteçam
diferentes pelo menos numa instituição de ensino da rede estatal. Entre erros e
acertos, confesso que não tem sido fácil contrapor a cultura que teima em
apequenar a escola pública, impondo aos alunos infraestrutura e processos de
ensino e aprendizagem que os inferiorizam.
Por Cláudia Santa Rosa*, do seu blog (@ClaudiaStaRosa)
Por Cláudia Santa Rosa*, do seu blog (@ClaudiaStaRosa)
Não seria menos grave se os problemas que comprometem a
qualidade social da escola pública ocorressem apenas na unidade onde eu
trabalho. Infelizmente alguns parecem crônicos e, em maior ou menor
intensidade, estão espalhados pelos quatro cantos dos municípios e estados
brasileiros. Fosse esse quadro tão diferente, os indicadores não atestariam o
insucesso da nossa educação.
Um conjunto de trapalhadas e desacertos históricos da gestão
pública contribui para uma espécie de código – não escrito – que, excetuando-se
as federais, distingue as escolas estatais daquelas da rede privada ou as
escolas que funcionam mal daquelas que funcionam com regularidade. Não é raro
se ouvir referências pejorativas, do tipo: “isso é coisa de escola pública.”
De fato, nas últimas décadas, tornaram-se coisas de escola
pública:
a) os resultados pífios da maioria, quando são divulgados
exames e índices oficiais que revelam o baixo desempenho dos alunos em relação às
aprendizagens;
b) a definição dos professores dos anos iniciais do ensino
fundamental sem considerar as competências e habilidades na condução do
processo de alfabetização e letramento;
c) a falta de gestão do seu próprio orçamento, diferente de
como ocorre nas escolas particulares. Cada unidade deveria receber os recursos
do investimento público por aluno e executá-los de acordo com o seu projeto;
d) a ingerência administrativa e pedagógica de órgãos
intermediários e central, que executam programas e projetos, em detrimento da
gestão autônoma da escola, do seu projeto pedagógico e do protagonismo da sua
equipe;
e) a escolha técnica do gestor da escola, que deveria se dar
mediante concurso público, ceder lugar à escolha pelo voto da comunidade
escolar, bastando ser professor ou especialista do quadro da escola, como se
esse critério fosse determinante para garantir a gestão democrática;
f) a realização de concursos públicos de contratação aleatória
de professores e outros profissionais, sem estabelecer vagas por escolas e sem
a inclusão de etapa final a ser conduzida por cada unidade, contemplando
entrevista, checagem de referências e prova prática;
g) a presença e permanência de “profissional” que adoece para
a escola pública, enquanto “vende saúde” para a instituição particular, o mesmo
que escolhe o horário de trabalho na escola pública para realizar todo tipo de
demanda pessoal ou profissional de outros vínculos, que alinhava processos, subtrai
os direitos dos alunos e gera dificuldades ao funcionamento regular da escola,
sem nenhuma cerimônia e observação à ética profissional;
h) os gestores públicos se inspirarem na média salarial dos
professores das escolas particulares, diante dos vencimentos aviltantes que afastam
os mais talentosos do ingresso no magistério público;
i) a constante luta dos professores por um plano de carreira
decente, que os valorize enquanto profissionais e ofereça as condições dignas
para seguirem no magistério;
j) a ausência de planejamento e/ou perenidade de uma burocracia
grotesca que impede reformas e serviços de manutenção das instalações físicas
dos prédios no período de férias e recesso escolar;
k) a ausência e/ou falta de manutenção/atualização da tecnologia,
dos equipamentos e mobiliários fundamentais para a escola cumprir a sua função
social;
l) o início do ano letivo ocorrer somente no mês de março e
acabar depois do Natal, isso quando a falta de diálogo entre professores e
governo não retarda mais ainda;
m) a imposição
de um calendário escolar padronizado para todas as escolas de um mesmo município
ou estado, desconsiderando as especificidades de cada unidade e a autonomia
preconizada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação;
n) a determinação de sábado letivo mensal para todas as
escolas, quando é de conhecimento de todos que em muitas instituições esse dia
não funciona;
o) a prática de iniciar o ano letivo sem o quadro de
servidores completo, permanência dessas carências por semanas, meses e até
mesmo por todo ano, além de, por vezes, não ocorrerem substituições quando há
vacâncias durante o percurso;
p) a ausência de agenda mensal de reuniões para planejamento
e avaliação coletiva dos processos de ensino e aprendizagem e da gestão da
escola em geral, bem como para a realização de uma consistente política de formação
continuada dos profissionais;
q) os professores e parte dos especialistas trabalharem na
escola, pelo menos de forma presencial, somente dois ou três dias para além dos
200 dias letivos/ano, dificultando a possibilidade de outras ações de relevâncias
pedagógicas.
Caso houvesse mais espaço é possível que o abecedário
fosse insuficiente para aduzir todas as “coisas de escola pública”, dou-me por
satisfeita, especialmente se para alguns interessar o debate e, sobretudo, a tarefa
coletiva de refazer tal cultura.
*Cláudia Santa Rosa é educadora (educadora@claudiasantarosa.com)
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