30.12.11
Postado por
Sávio Hackradt
CINEMA
– Por Carlos Emerenciano*
Se
o caro leitor imagina que o western se resume a troca de tiros entre mocinhos e
bandidos, deveria assistir a alguns clássicos do gênero. Na verdade, muitos
desses filmes constituem produções cuidadosamente elaboradas (algumas
obras-primas), dirigidas por diretores consagrados (John Ford, Fred Zinnemann,
George Stevens, Willian Wyler, Howard Hawks, Anthony Mann, entre outros) e
estreladas por ícones da telona (John Wayne, James Stewart, Gary Cooper, Henry
Fonda e Gregory Peck, para citar apenas alguns). O que seduziu esses artistas
de talento a se voltar para o faroeste, além de prestar a devida homenagem aos
desbravadores do território americano, foi a possibilidade de desenvolver a
arte de filmar em ambientes vastos, com paisagens deslumbrantes, o que ensejou,
entre outras coisas, fotografias magníficas.
A
grande dificuldade, caro leitor, é a de escolher, entre tantos filmes
excelentes, obras que sintetizem esse gênero tão popular não apenas nos Estados
Unidos. Nós brasileiros, grandes consumidores dos westerns, chegamos até a
incorporar, no nosso dia-a-dia, alguns termos extraídos dessas películas. Quem,
por exemplo, nunca ouviu alguém pedir um uísque cowboy (sem gelo), à moda
daqueles homens que povoaram o vasto oeste dos Estados Unidos? Como são muitas
obras relevantes, vou me restringir neste artigo às dirigidas por John Ford.
A
primeira delas, um clássico cultuado, homenageado e imitado ao longo dos anos: “No
tempo das diligências” (Stagecoach, 1939). Inspirado no conto “Bola de sebo” de
Guy de Maupassant, o filme representa um marco na história do western e, por
que não dizer, da arte cinematográfica. Narra uma viagem de diligência pelo
interior do Arizona. Ao longo da aventura, nove viajantes são obrigados a se
relacionar, compartilhar os seus medos e os inevitáveis conflitos aparecem.
Cenas clássicas de perseguição e tiroteio compõem esse filme em preto e branco.
John Wayne, que se transformou, anos depois, em figura emblemática do cinema,
aparece em seu primeiro papel de relevo (Ringo Kid), um pistoleiro fugitivo da
cadeia.
Destaco,
ainda, “Rastros de ódio” (The searchers, 1956) e “O homem que matou o facínora”
(The man shot Libert Valance, 1962). Em “Rastros de ódio”, John Wayne (Ethan
Edwards) vive um homem obcecado por vingança e que revela um terrível racismo
contra os índios. Nessa grande obra, o Capitão Ethan Edwards sai em busca de
sua sobrinha Debbie Edwards (Natalie Wood), capturada por indígenas. Um dos
grandes temores do Capitão, além do medo não encontrar a sua sobrinha com vida,
é a passagem do tempo e o seu poder de transformação. Após longo tempo de
convivência com os índios (a busca de Ethan leva anos), qual seria a Debbie que
aquele personagem torturado e amargurado iria encontrar? Quem imagina ter sido
Wayne um ator menor, mudará completamente o seu (pré) conceito ao vê-lo na pele
desse anti-herói.
Em
“O homem que matou o facínora”, o Senador Ransom Stoddard (James Stewart)
volta, em companhia de sua esposa, à pequena Shinbone. Motivo: o sepultamento
de Tom Doniphon (John Wayne). Curioso pela presença do ilustre homem público no
velório de alguém desconhecido, um jornalista vai ao encontro daquele em busca
de uma boa história. O Senador conta então a sua relação com a pequena cidade
e, mais particularmente, com o personagem de Wayne.
“Quando
a lenda supera o fato, publique-se a lenda”. Ainda que não goste de cinema ou
abomine filmes de faroeste, o caro leitor já deve ter lido ou ouvido essa
frase. Foi o que o curioso jornalista pronunciou ao ouvir a verdade sobre o
homem que matou o facínora. Ela revela, a meu ver, a essência não só do cinema,
mas das artes. Ora, caro leitor, não se pode esperar de uma obra de ficção
fidedignidade histórica ou compromisso integral com os fatos ocorridos (se
quiser assistir à vida real, acompanhe o Big-Brother). Alguns autores
identificam-na como uma ilusão criadora que, por suas beleza e verossimilhança,
tem força de realidade. É exatamente o que os filmes do genial John Ford
apresentam.
*Carlos
Emerenciano - Apreciador de um bom filme, dividirá com os leitores suas impressões
sobre cinema às sextas-feiras.
Twitter:
@cemerenciano
e-mail:
aemerenciano@gmail.com
Estação Música Total
Últimas do Twitter
Arquivo
-
▼
2011
(1394)
-
▼
dezembro
(184)
- Marígia tertuliano (@marigiamadje) em 1.400 caract...
- Pesquisadores da Embrapa desenvolvem bebida para p...
- Alerta: descarte as receitas caseiras para evitar ...
- Dançando no gelo
- Eleições 2012: TSE impõe restrição ao governo a pa...
- Kallyna Kelly (@kallynakelly) em 1.400 caracteres
- Palmério Dória: "Internet virou uma cadeia da lega...
- Muito além do bangue-bangue
- Ex-ditador argentino é condenado a 15 anos de prisão
- Calangotango confraterniza a literatura
- Advogada alerta sobre os cuidados na hora de compr...
- João Ururahy: Um Homem de Bem
- A República exige o respeito ao devido processo legal
- Agências bancárias fecham amanhã e só reabrem segu...
- Quem frequenta mais as redes sociais?
- Guerra contra o crack está sendo perdida, diz Regi...
- Poder de compra do salário mínimo será o maior des...
- Gustavo Maia (@GustavoMaia1) em 1.400 caracteres
- Mundo está despreparado para lidar com desastres n...
- Solidão aumenta em 20% durante fim de ano, diz CVV
- Campanha do desarmamento vai continuar até o fim d...
- Empresa que pagar salário mais baixo à mulher pode...
- Sistema de Franchising
- Para Hobsbawm, protagonismo da classe média marca ...
- Hudson Silvestre (@Hudsonsilvestre) em 1.400 carac...
- Em 20 anos, Lei Rouanet investiu R$ 9,1 bilhões na...
- Planos de saúde serão obrigados a divulgar lista d...
- Bradley Manning e a natureza da guerra
- Os feriados e pontos facultativos para servidores ...
- Celso Veiga (@celsoveiga) em 1.400 caracteres
- Ano Novo: começo ou continuação...
- Para pessoas com deficiência, desafio do governo é...
- F1 2011: Melhores Momentos
- Samuel Nário Fernandes Junior (@SamuelNarioJr) em ...
- Eric Hobsbawm sobre 2011: “Fez-me lembrar 1848...”
- A vez da Agricultura Familiar?
- Mais de 41 milhões de brasileiros têm acesso a TV ...
- 7 hábitos de corretores de imóveis bem sucedidos
- Papa lamenta o consumismo e o desperdício no Natal
- O nascimento de Jesus, um cordel sobre o Natal
- Assis Barbosa (@assis1961) em 1.400 caracteres
- Forest Whitaker diz que "unidade" é a nova esperan...
- Juizes federais usam grupo de discussão online da ...
- Mauro Santayana: A Justiça e os seus paradoxos
- TV paga cresce 27,3% no ano e serviço via satélite...
- Patrícia Ramos (@rosapattricia) em 1.400 caracteres
- A grande ilusão
- Pesquisa prevê 4 grandes jornais impressos depois ...
- Sites de viagens crescem 22% e chegam a 26,3 milhõ...
- Immanuel Wallerstein: Os Estados Unidos contra todos
- Decreto estabelece cota mínima para exibição de fi...
- Contra crise, AL deve investir mais em 2012, diz a...
- As pessoas e os animais
- Carlos Abelheira (@Abelheira) em 1.400 caracteres
- Brasileiro acredita que pobreza se combate com emp...
- IBGE: 6% dos brasileiros moram em favelas
- A porta larga da investidura está sem trinco?
- Pequeno Casanova
- Projeto de educadoras do RN ganha Prêmio Professor...
- Ana Luíza Paz (@ALuizaPaz) em 1.400 caracteres
- O cardápio de hoje é conhecimento
- Quase 2 milhões de trabalhadores ainda não sacaram...
- Tiago Almeida (@Tiagoalmeidadv) em 1.400 caracteres
- The Guardian elege Camila Vallejo como “Personalid...
- Orçamento não prevê aumentos para o funcionalismo ...
- ONU: desemprego em países ricos preocupa mais do q...
- Lançada campanha para reduzir uso de sacolas plást...
- América Latina ainda tem muitas dívidas com as mul...
- Laurita Arruda (@Lauritaarruda) em 1.400 caracteres
- Uma questão de tempo...
- Ainda existem duas vagas a preencher no grid da Fó...
- Conferência LGBT pede restauração de texto origina...
- A Copa/2014 em Natal e os direitos humanos
- Estudo mostra que dois em cada três casos de aneur...
- Prazo máximo para atendimento de usuários de plano...
- Porta a Porta: um documentário sobre a política no...
- Laumir Barreto (@laumirbarreto) em 1400 caracteres
- Bancos fecham ao público na última sexta-feira do ano
- Brasileiros terão crédito de R$ 160 bilhões para c...
- Brasil terá bioinseticida contra dengue em 2012
- Estratégia: troca de olhares entre o público e o p...
- Hospitais em todo o Brasil fazem mutirão contra câ...
- Comunidade LGBT discute com governo ações para gar...
- Elson Freire em (@elsonfreire) 1400 caracteres
- O amanhã, o amanhã,, o amanhã
- TVs ficarão tão modernas quanto os celulares
- Coletânea: As canções de Cecília
- A Homenagem de Lewis Hamilton a Ayrton Senna
- A arrogância
- Marcela Miasato (@Marcela_Miasato) em 1.400 carac...
- Um em cada 4 brasileiros faz ou já fez trabalho vo...
- Votação do Plano Nacional de Educação na Câmara fi...
- Lei que proíbe o fumo em ambientes fechados está n...
- #DebatendoNatal em 2012
- Para OAB, Lei da Palmada sem orientação familiar é...
- A felicidade não se compra
- Brasil não precisa de mais leis e sim de instituiç...
- ‘Ser mulher, pobre e negra é ser triplamente discr...
- Josivan Barboza Menezes (@JosivanBarboza) em 1400 ...
- Isso será autoritarismo?
-
▼
dezembro
(184)
Giuliano Caldas says:
Perfeito o título do texto, pois realmente os melhores faroestes vão muito além da mera troca de tiros ou da ação desenfreada sem pé nem cabeça dos filmes de hoje. Mesmo títulos onde a ação transcorre com mais frequência, como os clássicos "Sete homens e um destino" e "Meu ódio será tua herança", são obras que possuem a marca de um grande diretor no desenvolvimento da história e dos personagens. Gostaria de citar o exemplo de um filme magnífico, injustamente desvalorizado na época e esquecido nos dias de hoje: "Consciências mortas" (The Ox-Bow Incident, 1943). Pode-se dizer que o filme é uma espécie de "Doze homens e uma sentença" em forma de "western". Com diálogos marcantes o filme mostra um grupo de homens de uma cidade do oeste norte-americando que partem, sem autorização do xerife, em busca de culpados para o assassinato de um fazendeiro local, e acabam encontrando três homens que são rapidamente considerados suspeitos e julgados ali mesmo no deserto onde foram encontrados, numa jornada de ódio, dúvidas e culpa. Uma pequena obra-prima que, na aparente simplicidade da história e no impacto que nos causa, eleva o gênero e o próprio cinema. Parabéns pelo texto Carlos!