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Sávio Ximenes Hackradt

13.5.12


Uma pesquisa da Universidade de Campinas (Unicamp) revela que a discriminação pode fazer com que adolescentes com orientação homossexual sofram mais risco de sofrerem distúrbios psiquiátricos. “Não podemos dizer que o preconceito é causa determinante de pior saúde mental, mas o identificamos como fator de risco”, diz a autora da tese “Homossexualidades na adolescência: saúde mental, qualidade de vida, religiosidade e identidade psicossocial”, a psicóloga Daniela Barbetta Ghorayeb.

Fonte: Rede Brasil Atual

Para chegar a essas conclusões da pesquisa, inédita, Daniela ouviu depoimentos sobre a vida, angústias e sentimentos de dois grupos de 86 jovens, divididos por gênero e escolaridade, com as mesmas idades, sendo um declarado homossexual e outro heterossexual. Na entrevista a seguir, concedida à Rede Brasil Atual, a pesquisadora fala sobre o trabalho e aponta medidas que considera efetivas para enfrentar esses riscos.

Rede Brasil Atual: Qual a principal conclusão do seu estudo?
Daniela Barbetta Ghorayeb: O mais relatado pelos jovens, independentemente da idade, é o medo que sentem de desapontar a família. É um dado interessante porque reforça o papel fundamental que a família tem na adolescência e juventude, principalmente em casos como esse. Basicamente é o temor de envergonhar os familiares, de não corresponder às expectativas deles justamente num momento muito difícil, quando a juventude é pressionada, inclusive por ela própria, para escolher a profissão, para alcançar independência financeira e emocional; é quando começam os namoros. Embora a gente observe que já existe uma geração mais informada, menos preconceituosa que a geração anterior, e que essa tolerância, a convivência com a diversidade facilita a sociabilidade sem tantas angústias, com os pais isso não ocorre. A família ainda é o que pega mais.

Rede Brasil Atual: Qual o dado mais preocupante que a senhora encontrou?
DBG: O grupo homossexual apresentou maiores danos mentais que o heterossexual. Eles acessam mais os serviços de saúde mental, vão mais ao psiquiatra, fazem mais psicoterapia. O principal problema é que o preconceito que enfrentam se torna importante fator de risco para a doença mental. O dado é bastante sério. Prevalência de 50%. Mais transtornos nesses jovens homossexuais com relação aos heterossexuais.


Rede Brasil Atual: Que danos mentais seriam esses?
DBG: Depressão associada ao risco de suicídio. Ou seja, a pessoa já ter tentado tirar a própria vida ou ter tido a ideia de fazê-lo – o que chamamos de ideação suicida. É quando se chega a ter um planejamento; a pessoa pensa como faria; como poderia fazer isso. No grupo heterossexual não encontramos nenhum caso assim.

Rede Brasil Atual: Então os jovens homossexuais entrevistados já procuram ajuda?
DBG: Os homossexuais procuram mais esses serviços, vão ao psiquiatra, à terapia. Buscam na psicoterapia uma forma de elaborar e lidar com a situação do preconceito. Esse aliás é um traço marcante em todas as idades analisadas. Infelizmente, pelo tamanho da amostra, não pude segmentar a análise por grupos etários (como 16-18, 18-20, 20-22). O que eu pude extrair dos relatos dos jovens, que moram longe de suas famílias para estudar, é que elaboram melhor a questão do preconceito, e mesmo a liberdade deles viverem as relações sociais e afetivas. Por estar longe dos pais, o preconceito fica mais leve.

Rede Brasil Atual: Como enfrentar essa situação?
DBG: É preciso um trabalho educacional junto às escolas, aos professores, que têm grande inserção na vida de jovens e adolescentes. Com isso haverá efeito muito positivo a médio e longo prazo. A educação é fundamental, mas não só à base de folhetos informativos. O preconceito é uma questão que tem de ser discutida com as pessoas. Estamos numa sociedade majoritariamente heterossexual. Claro que modos diversos de viver a sexualidade não vão ser encarados tão naturalmente. A discussão sobre o assunto de modo a levar à reflexão pessoal é o caminho para as pessoas mudarem a maneira de encararem. A educação seria o espaço para começar esse trabalho.

Rede Brasil Atual: Quais seriam os outros?
DBG: Não. Esse quadro dramático exige mais instrumentos, como a criação de serviços de saúde mental para atender a essa população, seus familiares. Essas famílias precisam de orientação. O que fazer? Como lidar com a situação? Dentro dos serviços públicos de saúde mental falta ênfase nesse tipo de atenção. Faltam cuidados, tratamento mais sensível à questão da orientação sexual, que já seriam medida positivas. E é preciso melhorar a formação dos próprios profissionais de saúde para que eles possam tratar a questão da orientação sexual de uma forma mais delicada e sensível que essa população precisa.

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