29.3.12
Postado por
Sávio Hackradt
Ser
revistado pela polícia durante um passeio ou na volta para casa é situação
rotineira para os estudantes da Faculdade Zumbi dos Palmares. A instituição
paulistana é especializada na inclusão de afrodescendentes no ensino superior:
90% dos alunos matriculados são negros e (não) acham graça quando questionados
sobre as batidas policiais.
Fonte:
Carta Capital
“Você
está se referindo ao número de vezes só hoje, não é?”, brincam. Eles têm de
conviver com o preconceito que ainda persiste na sociedade brasileira, apesar
de o País ter abolido a escravidão há mais de 120 anos.
Mas
o racismo não se limita às investidas dos oficiais. Ele está comprovado nos
índices de pobreza, nas taxas de escolaridade, de analfabetismo e de
longevidade. Na última década, muitos avanços no combate à desigualdade racial
ocorreram no Brasil. Entretanto, eles ainda não são suficientes para superar os
boicotes enfrentados pelos negros na História do Brasil. É o que afirma Ricardo
Paes de Barros, subsecretário de Ações Estratégicas da Secretaria de Assuntos
Estratégicos da Presidência da República.
Segundo
ele, a população negra foi a grande protagonista da ascensão da nova classe
média brasileira. Uma pesquisa realizada pelo Data Popular em dezembro do ano
passado apontou um aumento de negros na classe C – de 34%, em 2004, para 45% em
2009. Eles movimentam 673 bilhões de reais por ano, mas ainda não têm pleno
acesso a oportunidades do topo da distribuição de renda. “Um exemplo disso é a
venda de celulares. Hoje em dia o número de aparelhos vendidos para os negros é
equivalente à média brasileira, mas o acesso à internet ainda é um privilégio
dos brancos”, declara.
Para
o subsecretário, as estatísticas mostram que o Brasil criou um colchão, uma
base para melhorar a qualidade de vida dos negros, mas as políticas públicas na
outra ponta da pirâmide social foram deixadas de lado. “Atualmente a pobreza é
bicolor, mas os principais cargos e empregos ainda pertencem à população
branca.”
Ele
exemplifica dizendo que os negros são apenas 20% do total de pessoas que ganham
mais de dez salários mínimos. Esta mesma porcentagem representa a população
negra no total de brasileiros que fazem pós-graduação. “Portanto, nesses postos
mais desejados, a diferença entre brancos e negros foi preservada no sentido de
desigualdade. Falhamos em identificar os talentos negros do Brasil”, conclui.
A
saída para reverter esse quadro, segundo ele, é a adoção de medidas afirmativas
para o topo dos bens e serviços. “Nós temos que incentivar as políticas
meritocraticamente, arejando as classes altas com pessoas que merecem ocupar os
bons cargos. Adotar uma política de ‘caça-talentos’ desde cedo, nas escolas e
em outras instituições de ensino”, reflete.
Mário
Lisboa Theodoro, secretário executivo da Secretaria Especial de Promoção da
Igualdade Racial, adianta que o governo federal já está trabalhando nesse
sentido. Ele diz que em abril deve ser lançado o Programa Nacional de Ações
Afirmativas. A medida será o cumprimento do Estatuto de Igualdade Social e vai
englobar três grandes áreas: trabalho, educação e de comunicação/cultura.
“Estamos montando esse programa, ele será pactuado com oito ministérios e deve
ser levado à presidenta da República até o início de abril”.
Observatório
da População Negra
As
secretarias de Assuntos Estratégicos da Presidência da República e a Especial
de Promoção da Igualdade Racial, em parceria com a Faculdade Zumbi dos
Palmares, lançaram na quarta-feira 21 o Observatório da População Negra,
primeiro banco de dados nacional sobre os afrodescendentes no Brasil.
O
Observatório vai reunir informações sobre mercado de trabalho, distribuição de
renda, demografia, habitação, estrutura familiar e educação. “É o maior banco
de dados sobre negros no Brasil. Hoje ele se inicia com 50 mil informações, dos
últimos 20 anos, e com perspectivas socioeconômicas que abrangem habitação,
políticas públicas e mercado de trabalho, entre outros”, explicou José Vicente,
reitor da Zumbi dos Palmares.
Eliane
Barbosa da Conceição, professora da faculdade e uma das pesquisadoras do
Observatório, diz que a intenção é revelar valores que explicitem as
desigualdades, indicando quais as melhores políticas a serem adotadas em cada
região do País.
O
Observatório pode ser acessado no link www.observatoriodonegro.org.br
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