22.3.12
Postado por
Sávio Hackradt
O
primeiro banco de dados nacional sobre a população negra foi lançado ontem (21)
em São Paulo. Resultado de uma parceria entre a Universidade Zumbi dos Palmares
e as secretarias de Assuntos Estratégicos e Especial de Promoção da Igualdade
Racial, o Observatório da População Negra vai reunir informações sobre mercado
de trabalho, distribuição de renda, demografia, acesso à informação, habitação,
estrutura familiar e educação.
Agência
Brasil
Por
meio do observatório, serão promovidas ainda pesquisas sobre a população negra
brasileira, que representa cerca de 51% da população total do país. “É o maior
banco de dados sobre negros no Brasil. Hoje ele se inicia com 50 mil
informações, dos últimos 20 anos, e com perspectivas socioeconômicas que
abrangem habitação, políticas públicas e mercado de trabalho, entre outros”,
explicou José Vicente, reitor da universidade.
O
lançamento do banco de dados marca as comemorações pelo Dia Internacional de
Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, celebrado hoje (21). “A ideia é
reunir, em um único site, pesquisas, séries históricas e artigos sobre a
questão racial no Brasil e iniciativas para a superação das desigualdades
raciais no Brasil”, disse Eliane Barbosa da Conceição, professora da
Universidade Zumbi dos Palmares e uma das pesquisadoras do observatório.
A
reunião dessas informações em um portal, segundo ela, vai facilitar o trabalho
de pesquisadores e também contribuir para a construção de políticas públicas
voltadas para a população negra.
Os
números do observatório mostram, por exemplo, que, apesar dos avanços da
população negra em várias áreas, ainda há um hiato entre negros e o restante da
população nas realizações mais valorizadas da sociedade. “A história do Brasil
nos últimos dez anos é de um avanço sem precedência nas realizações da
população negra. Eles avançaram muito, mas o resto do Brasil avançou muito
também. A questão que se coloca é em que medida eles avançaram mais rapidamente
do que o resto da população brasileira”, disse o subsecretário de Ações
Estratégicas da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da
República, Ricardo Paes Barros.
Segundo
ele, na base econômica e social, em situações que envolvem desemprego, baixa
renda e questões de falta de saneamento e água, por exemplo, o avanço da
população negra foi mais acelerado. “O que quer dizer que, cada vez mais, a
pobreza no Brasil é bicolor, de 50% brancos e 50% negros”, ressaltou.
No
entanto, nos postos, ocupações ou bens mais desejados na sociedade brasileira,
a população negra avançou, mas avançou na mesma proporção que a população
branca. “Portanto, nesses postos mais desejados, a diferença entre brancos e
negros no Brasil foi preservada no sentido de desigualdade.”
Um
exemplo desse cenário é que, entre os brasileiros que ganham mais de dez
salários mínimos, os negros representam apenas 20% desse total. A população
negra também representa apenas 20% dos brasileiros que chegam a fazer
pós-graduação no país. “O Brasil talvez não tenha sido tão eficaz em gerar
igualdade de oportunidade no topo da distribuição”, acrescentou.
Para
Barros, esse panorama vai exigir ações afirmativas do governo voltadas para o
topo dos bens, serviços, ocupações e posições mais valorizadas do país. “Ela
[ação afirmativa] pode ser importante porque leva à formação de uma elite
negra, [de forma] mais acelerada.”
Em
abril, o governo federal lançará o Programa Nacional de Ações Afirmativas.
Segundo o secretário executivo da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade
Racial, Mário Lisboa Theodoro, o programa vai englobar ações afirmativas em
três grandes áreas: trabalho, educação e de comunicação/cultura. “Estamos
montando esse programa. Ele está sendo pactuado com oito ministérios e deve ser
levado à presidenta da República até o início de abril”, disse.
O
objetivo do programa é promover a inserção dos negros nas áreas mais
valorizadas da sociedade brasileira, onde ocorrem atualmente as maiores
desigualdades. “Nossa ideia é trabalhar na área de educação, principalmente [no
ensino] superior e nas áreas onde esse diferencial não está sendo reduzido
neste momento virtuoso do Brasil”.
Mais
informações sobre o portal Observatório da População Negra podem ser
encontradas no endereço http://www.observatoriodonegro.org.br/.
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