13.2.11

Postado por Sávio Hackradt

Dois poemas de Diva Cunha

Certas mulheres catam coisas pequeninas

conchas, feijões, letras

outras distraem-se nos espelhos

contam rugas

algumas contam nuvens

criam cachorros e gatos como crianças

certas mulheres guardam mágoas

ressentimentos, botões, elásticos

algumas são como certos homens

não contam nada

ocupadas com coisas incontáveis

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Minha mãe diz

que eu sou da pá virada

a da vida torta

os modelos dela são outros:

santa terezinha do menino Jesus

santa rita de cassia

santas

fora as santas domésticas

que foram sacrificadas

no dia a dia

e ninguém viu

sangradas como galinhas

maceradas em vinha d’alhos

postas a dormir no sereno

para secar odors

enfurnadas como bananas verdes

esfregadas nos ladrilhos

claros dos banheiros

costuradas em botões de quatro furos

esbofeteadas e sacudidas

como colchões e almofadas

para desprender o pó das horas

secaram todas

nos linhos broncos

dos lençóis bordados

ao morrer, não morreram

entregaram a alma a deus,

que provavelmente não as perdoou

pelo gasto inútil

que fizeram dos seus talentos.”

13.2.11

Dois poemas de Diva Cunha

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